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O Japão tomou uma decisão histórica diante da incerteza dos EUA: vai posicionar mísseis com alcance até a Coreia do Norte e a China

Os mísseis de longo alcance serão posicionados em duas bases militares das Forças de Autodefesa do Japão: Camp Yufuin e Camp Kengun.

O Japão tomou uma decisão histórica diante da incerteza dos EUA: vai posicionar mísseis com alcance até a Coreia do Norte e a China. Imagem: 出典:防衛省ホームページ
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Em janeiro, um evento incomum chamou a atenção em várias ilhas do Japão: todas iniciaram uma série de simulações para evacuar a região no menor tempo possível. A explicação estava na geografia dessas ilhas, que ficam próximas a Taiwan, uma área de crescente tensão com a China.

Semanas depois, outra notícia colocou a nação japonesa em estado de alerta: a retirada das tropas dos Estados Unidos de Okinawa havia começado. Mais uma vez, a China entrava no centro da questão. Agora, o Japão tomou uma decisão estratégica.

Reforço na defesa

O país pretende posicionar mísseis de longo alcance, com alcance de aproximadamente 1.000 km, na ilha de Kyushu, no sul do Japão. Com isso, eles terão capacidade de atingir alvos na Coreia do Norte e em regiões costeiras da China.

A decisão responde tanto ao aumento das ameaças na região quanto à incerteza gerada pela postura da administração de Donald Trump em relação aos tratados de segurança com o Japão. Segundo um relatório da Kyodo News, esses mísseis serão posicionados em duas bases militares já operacionais e fazem parte da estratégia japonesa de desenvolver "capacidades de contra-ataque" em caso de agressão.

A exclusão de Okinawa

Apesar da importância estratégica da cadeia de ilhas de Okinawa, localizada a apenas 110 km de Taiwan, as autoridades japonesas decidiram não posicionar os novos mísseis na região. O motivo é claro: evitar uma provocação direta à China.

Atualmente, Okinawa já conta com baterias de mísseis de menor alcance, mas a instalação de armamentos com capacidade ofensiva poderia aumentar as tensões na região. Além disso, como mencionamos, os Estados Unidos começaram a retirar suas tropas das bases em Okinawa, embora de forma lenta.

O professor Yoichi Shimada, especialista em segurança da Universidade Prefectural de Fukui, explicou ao The Guardian que o aumento das ameaças vindas da China e da Coreia do Norte justifica essa medida. Para ele, o Japão precisa agir rapidamente para desenvolver um sistema de defesa mais sólido e eficiente.

Japão, Estados Unidos e Trump

As recentes declarações de Donald Trump aumentaram a preocupação no Japão sobre a estabilidade da aliança militar entre os dois países. No último 6 de março, Trump criticou o Tratado de Segurança entre Japão e Estados Unidos, chamando-o de "não recíproco", ao argumentar que Washington é obrigado a defender o Japão, mas que Tóquio não tem a mesma obrigação em relação aos Estados Unidos.

"Eles ganham uma fortuna conosco economicamente. Me pergunto quem faz esses acordos", questionou Trump.

O tratado em questão foi assinado em 1951, quando o Japão ainda estava sob ocupação militar dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Desde então, ele tem sido a base da defesa japonesa, já que o país tem restrições constitucionais em suas capacidades militares devido ao Artigo 9 da Constituição pacifista imposta após o conflito.

Nesse contexto, especialistas como Robert Dujarric, da Universidade Temple, em Tóquio, alertam que a relação entre Japão e Estados Unidos está em uma situação "delicada". Segundo ele, o Japão não pode mais dar como certa a assistência militar dos EUA em caso de um ataque chinês, o que representa um sério desafio de segurança para o país.

Localização estratégica

A grande questão é: onde os mísseis de longo alcance serão posicionados? Tudo indica que eles serão instalados em duas bases militares das Forças de Autodefesa do Japão (GSDF): Camp Yufuin (Oita) e Camp Kengun (Kumamoto), ambas localizadas na ilha de Kyushu.

Essas bases já contam com baterias de mísseis e agora receberão versões aprimoradas do Type-12, um míssil guiado terra-mar desenvolvido pelo próprio Japão.

Além disso, essa movimentação faz parte de uma estratégia mais ampla de modernização militar. Segundo o especialista Robert Dujarric, o Japão precisa urgentemente reconsiderar sua capacidade de defesa, dado o cenário geopolítico cada vez mais instável.

O tabu nuclear

Esse é um tema delicado quando se fala em rearmamento no Japão. Desde os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, qualquer discussão sobre armamento nuclear tem sido um verdadeiro tabu no país. No entanto, diante das incertezas sobre a confiabilidade da proteção militar dos Estados Unidos, especialistas como Robert Dujarric sugerem que essa situação pode reabrir o debate sobre a possibilidade de o Japão adquirir armas nucleares como forma de dissuasão contra ameaças externas.

Uma coisa é certa: o Japão, que sempre dependeu do escudo nuclear dos EUA, pode se ver forçado a reavaliar sua estratégia de defesa.

Essa necessidade se torna ainda mais urgente caso uma futura administração Trump mantenha sua abordagem de reduzir o envolvimento dos Estados Unidos em compromissos internacionais de segurança.

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