No Nepal, começaram a encher as ruas com toneladas de resíduos plásticos — o objetivo: ser mais sustentável

O país se junta à lista de nações que exploram o uso de plástico triturado para asfaltar estradas

Que tal fazer asfalto com resíduos plásticos triturados? / Imagem: Laurentiu Morariu (Unsplash)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

No Nepal, começaram a encher as ruas de lixo. Quilos e mais quilos de plástico descartado, pacotes antigos de macarrão abertos, embalagens de biscoitos e outros resíduos sintéticos que, por suas características, nem sempre são fáceis de reciclar. A ideia de caminhar ou dirigir sobre um asfalto cheio de lixo pode não parecer muito atraente, mas faz todo o sentido e já foi aplicada antes (ou pelo menos testada) em outros lugares da Ásia, Europa, África e América. No entanto, normalmente, de forma discreta.

A chave está no fato de que os resíduos plásticos não são simplesmente espalhados sobre o pavimento. Eles fazem parte dele, de sua estrutura. E há quem diga que isso o torna ainda melhor.

Pavimento com lixo

Se a cada ano produzimos mais de 400 milhões de toneladas de plástico — grande parte destinada a embalagens descartáveis e difíceis de reciclar — e ao mesmo tempo construímos e reasfaltamos quilômetros e mais quilômetros de estradas, por que não conectar essas duas coisas? E se usássemos os resíduos sintéticos mais difíceis de reciclar para fabricar pavimento? E se esse material fosse, além disso, melhor do que o asfalto convencional?

A ideia não é totalmente nova e há quem questione se realmente é tão sustentável e eficaz como parece, mas a verdade é que, ao longo dos últimos anos, ela tem atraído o interesse de empreendedores e instituições de diferentes países — normalmente de forma discreta, quase experimental, com projetos piloto e em trechos mais ou menos curtos.

Onde foi testado?

Uma busca rápida no Google mostra que, ao longo dos últimos cinco anos, a ideia de "pavimento plástico" conquistou alguns empreendedores e instituições ao redor do mundo. Vemos exemplos nas Filipinas, Tailândia, África do Sul, Países Baixos, EUA, Singapura e Índia, sendo este último um dos países que mais apostou nessa solução.

Em outubro, o Business Standard informou que, na Índia, foram construídos quase 40.000 quilômetros de estradas rurais com resíduos plásticos, 13.000 dos quais concluídos nos últimos dois anos. Em Singapura, a ideia também parece ter sido bem recebida e obteve o apoio do setor de Obras Públicas.

O Nepal é um dos últimos países a entrar nessa lista. Em janeiro, a AFP publicou uma extensa reportagem explicando como a ideia chegou à república asiática, onde já foi utilizada em pelo menos uma estrada em Pokhara, uma cidade com 600.000 habitantes que funciona como capital da província de Gandaki. Lá, a fórmula do pavimento plástico conta com o apoio da Green Road Waste Management, organização que busca expandir essa iniciativa no Nepal.

Em que ponto estão?

O fundador da entidade, Bimal Bastola, contou à AFP que já completou cerca de uma dezena de projetos, somando pouco mais de um quilômetro e meio de vias. Não é muito, mas a organização sustenta que, para construir cada quilômetro de pavimento, são usadas cerca de duas toneladas métricas de plástico triturado. Bastola defende a ideia de ir além e realizar projetos em nível governamental. "Tentamos colaborar de perto com o escritório de estradas", afirma.

A princípio, parece que o Governo não vê com maus olhos a medida. Arjun Nepal, um engenheiro do departamento de estradas da capital, reconhece que o país "está interessado em testar a tecnologia em projetos piloto", mas adverte que, para avançar, é necessário garantir uma série de padrões de qualidade. Este ano será realizado um teste em um cruzamento de Katmandu.

"Vimos possibilidades"

Bastola defende as virtudes do pavimento com resíduos sintéticos e lembra que ele permite até mesmo reutilizar os resíduos de menor valor. "Vimos possibilidades em usar esses plásticos como matéria-prima, substituindo parcialmente o alcatrão na construção de estradas", argumenta à AFP. O novo sistema não dispensa esse material, mas antes recobre os componentes do pavimento com plástico triturado.

Além de oferecer uma solução para parte das toneladas de plástico geradas a cada dia nas áreas urbanas do Nepal, Bastola afirma que o sistema também permite economizar certos materiais, reduz os custos e oferece benefícios extras para o próprio pavimento. "Evita a infiltração de água e aumenta a vida útil da via", afirma. Há estudos que confirmam que esses pavimentos podem durar mais do que os convencionais.

Embora o sistema tenha despertado interesse em vários países, incluindo Nepal e seus vizinhos Butão e Bangladesh, nem todos estão convencidos de que seja uma opção tão boa. Ou, pelo menos, de que já tenha se mostrado eficaz. O Banco Mundial admitiu que há estudos piloto "promissores", mas apontou a falta de mais pesquisas.

Imagens | Laurentiu Morariu (Unsplash)

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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