Provavelmente, há muito tempo você não usa cédulas de dinheiro para comprar nada. Mais recentemente, é bem possível que também já tenha abandonado até mesmo os cartões. Estamos falando de um período a partir de novembro de 2020, quando o Banco Central do Brasil lançou um dos serviços de pagamento digital mais populares do mundo: o PIX.
Com apenas um CPF, número de celular ou QR Code, os usuários podem enviar e receber dinheiro sem nenhum uso de notas ou cartões. No primeiro ano completo de funcionamento, 2021, foram 9 bilhões de transações registradas. Em 2024, 63 bilhões, movendo cerca de R$ 26 trilhões.
O sucesso do sistema chama a atenção até do mercado internacional. Recentemente, o The Economist destacou o crescimento do PIX e a facilidade do acesso às transações a partir do sistema inteiramente digital. Em declaração ao veículo, um dos diretores do BC, Renato Gomes, declarou que o meio de pagamento já provocou uma queda de 40% no volume de saques de dinheiro vivo. Ainda neste ano, segundo Gomes, o PIX deve ser o método primário de pagamentos em compras online em todo o país.
Moeda digital
O sucesso do PIX levou o Banco Central do Brasil a desenvolver o Drex,/ uma versão do real em formato digital. O Drex tem o mesmo valor do real tradicional e é regulado e emitido somente a partir do Banco Central.
A ideia é permitir que diferentes transações financeiras estejam disponíveis como serviços digitais, mas ainda liquidados pelos bancos dentro da plataforma do Banco Central (BC).
PIX pelo mundo
O PIX não foi pioneiro como sistema de pagamento digital instantâneo, feito registrado na Índia. Lá, em 2016, o banco nacional do país lançou o UPI (Unified Payments Interface, ou Interface de Pagamentos Unificada). O México também lançou sua própria versão do PIX antes do Brasil, em 2019, com o CoDi. A novidade no Brasil foi o envolvimento direto do Banco Central no gerenciamento de todo a infraestrutura do PIX;
Além de UPI e CoDi, outros sistemas também já estão consolidados ao redor do mundo:
- A Colômbia desenvolveu um sistema de pagamento instantâneo inspirado diretamente pelo PIX. O desenvolvimento, inclusive, foi feito em parceria com a Dock, fintech que trabalhou na criação do sistema brasileiro. O Bre-B teve regras definidas pelo BC colombiano, mas é desenvolvido pelo setor privado.
- Desde 2014, a população de Singapura tem acesso ao FAST. Como o PIX, o sistema permite transferir dinheiro imediatamente entre contas, neste caso as vinculadas ao programa PromptPay, da Tailândia, que usa números de telefone celular ou carteiras de identidade.
- O MB Way, de Portugal, foi um dos primeiros sistemas de pagamentos móveis da Europa, lançado em 2011. Além das transferências e pagamentos, o MB WAY permite saques em caixas eletrônicos.
- Lançado em 2016, na Espanha, o Bizum também realiza os pagamentos entre usuários a partir de seus números de telefone. Assim como o PIX, tem boa integração com a maior parte dos bancos nacionais e não cobra pelas transações.
- Com funcionamento em todos os países que compõem a Zona do Euro, na União Europeia, o SCT Inst (Transferência Instantânea de Crédito) permite pagamentos instantâneos desde 2017.
- Nos Estados Unidos, o Federal Reserve – banco central do país – anunciou o FedNow em 2019. Outros sistemas privados também existem no país, mas este foi o primeiro gerido pelo governo.
Futuro dos pagamentos instantâneos
Como os números do PIX no Brasil e a popularização de sistemas de transação digitais ao redor mundo mostra, a tendência é caminharmos para um futuro onde os pagamentos instantâneos são cada vez mais comuns e integrados à rotina de pessoas e empresas.
Segundo o economista André Braga, que conversou com o Xataka Brasil, a transformação é uma consequência natural da economia. “Se traçarmos um processo histórico, há alguns anos, na década de 90, era novidade quando surgiram cartões, que agora evoluíram e se transformaram no digital. A tendência, ao olhar pro histórico, é para redução de tamanho, mas também a digitalização e confiabilidade”, explicou.
Braga sugere que esse processo já está bem avançado entre sistemas de instituições financeiras e governos. Isso baseado no fato que, quando esses serviços chegam para a população, numa oferta generalizada, já houve muito teste em ambientes controlados. E esses ambientes muitas vezes envolvem o uso prático por instituições que precisam validar as novas tecnologias, antes da liberação.
Pensando nisso, Braga projeta um cenário não tão distante de evolução do PIX – e dos sistemas semelhantes ao redor do mundo – de internacionalização e maior integração entre países. “Os bancos centrais do mundo já se conectam, e todas as informações passam pelos bancos centrais. Um tipo de PIX internacional só agiliza o processo”, sugere.
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