Os oceanos da Terra têm um problema que a ciência acaba de descobrir: os "navios fantasmas", milhares de navios que ninguém consegue rastrear

Esses barcos pesqueiros podem estar em áreas protegidas e ninguém sabe

Barcos "fantasma": estão por aí, mas ninguém consegue rastrear / Imagem: Xataka México
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Sem dúvida, o uso de imagens de satélite e inteligência artificial permite realizar novas descobertas, inclusive sobre atividades que poderiam ser classificadas como clandestinas ou ilegais. Foi exatamente isso que aconteceu em um novo estudo sobre o oceano, realizado pela Global Fishing Watch, no qual foi descoberta a atividade dos chamados "navios fantasmas".

Essa pesquisa revela um achado surpreendente: 75% dos navios pesqueiros industriais do mundo estão ocultos a olho nu. Sua atividade demonstra um uso do mar que, até agora, não havia sido mapeado, graças ao que, segundo especialistas, é o primeiro mapa global do tráfego de grandes embarcações e infraestrutura em alto-mar.

Para obter essas informações, foram utilizadas técnicas de aprendizado de máquina, além de imagens de satélite. A análise revelou que muitos dos navios pesqueiros industriais não estão registrados publicamente e realizam pesca principalmente na África e no sul da Ásia. Além disso, mais de 25% da atividade de embarcações de transporte e energia também não aparece nos sistemas públicos de rastreamento.

A análise dos dados

Para chegar a essas conclusões, pesquisadores da Global Fishing Watch, juntamente com especialistas da Universidade de Wisconsin-Madison, da Universidade de Duke, da UC Santa Bárbara e da SkyTruth, analisaram aproximadamente 2 milhões de gigabytes de imagens de satélite capturadas entre 2017 e 2021. Seu objetivo era detectar embarcações e infraestrutura marítima em águas costeiras de seis continentes, onde se concentram mais de três quartos da atividade industrial.

Após o processamento desses dados, foram identificados barcos que não transmitiam suas posições. Por meio do aprendizado de máquina, concluiu-se que provavelmente se dedicavam à atividade pesqueira.

Embora nem todas as embarcações sejam obrigadas a transmitir sua localização, aquelas que não aparecem nos sistemas públicos de monitoramento costumam ser chamadas de "frotas fantasmas" e representam um desafio para a proteção e gestão dos recursos naturais.

Segundo os pesquisadores, há uma grande quantidade de navios pesqueiros ocultos em muitas áreas marinhas protegidas, além de uma alta concentração de embarcações em águas de países onde, anteriormente, não havia registros de atividade nos sistemas públicos.

Pesquisa marítima

Isso gera uma discrepância em relação aos dados oficiais, que indicam que Ásia e Europa possuem volumes similares de pesca em suas fronteiras. No entanto, a análise revelou que a Ásia domina essa atividade: de cada 10 barcos pesqueiros em operação, sete estão na Ásia e apenas um na Europa. Esse dado evidencia como a pesca industrial global está realmente distribuída.

Mais tendências reveladas pela pesquisa

Outro achado do estudo foi a evolução da produção de energia marítima durante a pandemia de COVID-19. Enquanto a atividade pesqueira global caiu 12%, a de embarcações de transporte e energia permaneceu estável. Por exemplo, as infraestruturas petrolíferas aumentaram 16% e as turbinas eólicas dobraram em número, superando as plataformas de petróleo em 2021.

Além de revelar o comportamento das embarcações, esse tipo de estudo destaca o potencial da tecnologia para enfrentar as mudanças climáticas, analisar as emissões de gases de efeito estufa no mar, fornecer informações sobre o desenvolvimento da energia eólica e rastrear a degradação marinha causada pela exploração petrolífera, explica Patrick Halpin, coautor do estudo e professor de ecologia geoespacial marinha na Universidade de Duke.

Os autores do estudo também ressaltam que, graças aos dados abertos e à tecnologia utilizada, é possível ajudar governos, pesquisadores e a sociedade civil a identificar pontos de atividade potencialmente ilegal, detectar áreas onde navios pesqueiros industriais possam estar invadindo zonas de pesca artesanal ou simplesmente compreender melhor o tráfego marítimo em suas águas.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka México.

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