Tão poucos apartamentos são vendidos na China que eles estão recorrendo a incentivos criativos: casas com aviões particulares incluídos

A crise no setor é tão grande que os desenvolvedores tentam sobreviver com "extras" difíceis de explicar

Imagem | Steve Boland
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

A China já esperava a crise imobiliária há muito tempo. O que em sua época foi o grande motor econômico, com paisagens onde se impunham guindastes monstruosos que levantavam as cidades, agora tornou-se uma grande dor de cabeça. A Evergrande em 2021 foi apenas a ponta do iceberg do setor, e agora o país está passando por possivelmente sua pior crise imobiliária. O próprio governo é claro ao falar sobre: "Empresas imobiliárias insolventes que precisam entrar em falência devem fazê-lo ou ser reestruturadas". Hoje, diante de tantas moradias não vendidas, surgiram medidas desesperadas.

Sobreviver ou morrer

O setor imobiliário na China, que já foi responsável por um quarto da economia nacional e o principal veículo de riqueza das famílias, está atualmente passando por seu quinto ano de recessão. Diante da queda sustentada nas vendas e do acesso limitado ao financiamento desde 2021, os incorporadores imobiliários recorreram a empreendimentos extravagantes para atrair compradores.

Do que estamos falando?

Há de tudo, desde entradas simbólicas de 9,9 yuans (ou R$ 8) até presentes como iPhones, passagens aéreas ou, surrealmente, presenças em jatos particulares e treinamento para ser piloto, ofertas absurdas que refletem uma luta desesperada para manter à tona um mercado que em 2024 mal gerou receitas totais de 10,8 trilhões de yuans (R$ 8,6 trilhões). uma queda significativa em relação aos 19,3 trilhões em 2020 (R$ 15,4 trilhões).

Criatividade fora do comum

As estratégias também incluem reembolsos de voos em Shenyang, fundos para viagens em Suzhou, até mesmo o uso de produtos agrícolas (como alho e melancia) para reduzir entradas em províncias como Henan, ou seja, pagamento com espécies de outras épocas.

O Nikkei relatou em uma reportagem sobre a crise que, em Xangai, foram oferecidos passes de metrô gratuitos por cinco anos para quem comprasse em certos conjuntos habitacionais. Táticas que têm sua razão de ser: buscam driblar as restrições governamentais aos descontos, já que mesmo com descontos autorizados de até 15%, a demanda ainda é insuficiente. Ainda assim, essas medidas não conseguiram reverter significativamente o declínio do mercado, que este ano pode ver vendas de casas novas de apenas 8 trilhões de yuans, abaixo dos 9,7 trilhões de yuans do ano anterior.

Impacto sobre os desenvolvedores e a entrada de empresas estatais

Neste ponto, a figura de desenvolvedores privados, como Country Garden e Evergrande, que perderam sua liderança em favor de empresas estatais como a Poly Developments, apoiadas pelo governo central, aparece.

Enquanto isso, gigantes da indústria como a Vanke enfrentaram perdas históricas, com o número de desenvolvedores com vendas anuais superiores a 100 bilhões de yuans caindo de 43 em 2020 para apenas sete em 2024. Na verdade, a crise de liquidez e a lenta recuperação do interesse em novas casas forçaram os desenvolvedores a depender de estoques para sobreviver, limitando sua capacidade de concluir projetos inacabados e pagar dívidas.

Mudança na demanda e desafios em cidades pequenas

É mais uma das questões a serem tratadas, que nos lembra de tantas outras nações com problemas semelhantes. Enquanto megacidades como Xangai e Shenzhen concentram a maior parte da demanda, cidades menores enfrentam um excesso de moradias vazias e um declínio populacional devido à desaceleração econômica e migrações.

Um terreno fértil que agrava a situação das incorporadoras, que não lucram com vendas secundárias e veem sua capacidade de geração de renda reduzida. Além disso, a preferência por unidades existentes também reflete a desconfiança dos consumidores em um setor atingido por inadimplências e projetos inacabados.

Insights de mercado e desafios regulatórios

Embora o governo chinês tenha flexibilizado algumas restrições para estimular o setor, a verdade é que as incorporadoras ainda têm que travar uma batalha árdua por uma fatia de um mercado primário em retração. Nesse sentido, analistas apontam que essas promoções, embora aumentem a visibilidade das empresas, não têm impulsionado uma recuperação sólida nas vendas, demonstrando o nível crítico que o desespero atingiu no setor.

Tudo isso levou à situação atual, onde o setor não tem escolha a não ser "puxar" incentivos extravagantes e criativos, um reflexo não apenas da magnitude da crise imobiliária, mas também da falta de soluções estruturais para lidar com as raízes do problema.

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