Que Veneza perdeu o controle sobre o turismo é evidente pelo número de tentativas e medidas implementadas nos últimos meses. Em um local cuja geografia não suporta mais expansão, o turismo em massa ameaça o ecossistema e a vida dos moradores locais.
Por isso, foram impostos limites a grandes grupos, com multas para quem os ultrapassar, e até rastreamento de telefones foi utilizado. Além disso, Veneza implementou um pedágio pioneiro, uma taxa de entrada que, aparentemente, teve bons resultados.
A notícia
Veneza decidiu dobrar, em 2025, o número de dias em que cobrará a tarifa de entrada para turistas, passando de 29 para 54 dias. Essa medida faz parte de um esforço para reduzir o turismo em massa.
A medida, que já foi testada com sucesso no ano anterior, será aplicada aos fins de semana e feriados entre abril e julho, conforme anunciado pelo prefeito Luigi Brugnaro, com o objetivo de "dar a Veneza o respeito que ela merece".
Cobrança e isenções
Se você planeja visitar Veneza nos dias em que a taxa é aplicada, é importante saber que os visitantes que fizerem reservas com antecedência pagarão 5 euros. Para reservas feitas com menos de quatro dias de antecedência, o custo será de 10 euros.
Residentes da região de Vêneto, estudantes e aqueles com hospedagem na cidade estarão isentos da tarifa (embora esses já paguem um imposto por pernoite, conhecido como "taxa turística", que varia de 1 a 5 euros por pessoa e por noite, dependendo da época, localização e tipo de acomodação).
Isenções da taxa de acesso
A taxa também não se aplica a crianças menores de 14 anos ou pessoas com cartão de deficiência. A lista completa de isenções pode ser consultada detalhadamente no site Vènezia Unica. Além disso, algumas dessas exceções precisam ser comprovadas e exigem registro prévio.
Para facilitar o controle, a prefeitura informou que os visitantes deverão portar um código QR em seus celulares. Aqueles que não cumprirem as regras podem enfrentar multas significativas (ainda não especificadas).
A primeira tentativa foi um sucesso
Essa nova política não faria sentido se os testes anteriores não tivessem sido bem-sucedidos. Na fase inicial, em 2024, a cobrança de entrada gerou 2,4 milhões de euros em apenas oito dias, superando todas as expectativas da administração municipal.
No entanto, os custos de gestão e a campanha de comunicação do sistema chegaram a 3 milhões de euros, levantando dúvidas sobre sua rentabilidade total.
Críticas à medida
Claro, há quem critique a taxa, como o vereador Giovanni Andrea Martini, que argumenta que ela transforma Veneza em uma espécie de “museu” ou “parque de diversões” sem enfrentar de forma eficaz o fluxo massivo de turistas.
Mapas e localização
Se você planeja visitar Veneza, atenção ao quando e ao onde. A taxa de acesso é aplicada em dias específicos e na chamada Cidade Antiga, onde estão concentradas muitas das principais atrações turísticas.
Estão isentos da cobrança os visitantes que passam por Piazzale Roma, Tronchetto ou Stazione Marittima sem entrar no centro histórico sujeito ao pedágio.
Também estão isentos aqueles que precisam acessar o embarcadouro de San Giobbe a partir de determinados pontos ou turistas que visitam as ilhas menores da lagoa. O mapa detalhado e a lista completa de locais estão disponíveis na página Vènzia Unica.
Veneza: um retrato de mudanças
Há dois anos, a população de seu centro histórico, sem incluir as ilhas menores da lagoa nem as áreas continentais, já estava abaixo de 50.000 pessoas, um número muito distante das cifras da década de 1970.
Desde os anos 1950, a ilha principal teria perdido mais de 120.000 moradores. Enquanto isso, o boom do turismo fez com que Veneza recebesse centenas de milhares de visitantes a cada ano.
A BBC relatou que a cidade recebe cerca de 30 milhões de turistas por ano. Apenas a ilha principal atraiu, em 2022, 3,2 milhões de visitantes que pernoitaram ali, segundo The Guardian. Nos dias mais movimentados, chegam à cidade cerca de 40.000 visitantes diários.
A Unesco já alertou sobre o impacto negativo do turismo em massa e das mudanças climáticas em Veneza, sugerindo que a cidade pode ser incluída na lista de patrimônios mundiais em perigo.
Desde 2021, a entrada de grandes cruzeiros no centro histórico de Veneza foi proibida devido ao impacto ambiental e aos danos causados às fundações da cidade, o que agrava o problema das inundações frequentes.
Imagem | US Army Africa, Tim McCune
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