Trump proíbe chip da Nvidia para China e acende crise global no mercado de IA

Uma guerra fria cada vez mais quente. A proibição do H20 desencadeia prejuízo bilionário, derruba ações e obriga CEO da empresa a correr para Pequim em busca de soluções

Jensen Huang vai pra Pequim. Imagem: Bloomberg/Bloomberg via Getty Images
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A decisão do governo Trump de barrar a exportação do chip H20 da Nvidia para a China virou o novo epicentro de tensão na já instável guerra tecnológica entre as duas maiores potências do mundo. çEm questão de dias, o veto abalou o mercado de semicondutores, empurrou as ações da Nvidia para uma queda de quase 7%, gerou um prejuízo estimado de US$ 5,5 bilhões para a empresa e fez seu CEO, Jensen Huang, atravessar o planeta rumo a Pequim para tentar conter os danos.

A medida — anunciada na última semana — exige licenças especiais para a venda do chip H20 à China, interrompendo as negociações em um dos mercados mais estratégicos para a companhia. O H20, especificamente, havia sido desenvolvido para atender às exigências anteriores do governo Biden, ficando no limite daquilo que era permitido exportar sem licença. Agora, com o endurecimento das regras por parte da gestão Trump, nem mesmo esse esforço técnico foi suficiente.

Huang em missão diplomática

Menos de uma semana após um jantar com o presidente Trump nos Estados Unidos, Huang desembarcou discretamente em Pequim nesta quinta-feira (17), a convite de um grupo comercial chinês. A visita ganhou contornos diplomáticos: ele se reuniu com o vice-primeiro-ministro He Lifeng e com representantes de grandes clientes chineses, como Liang Wenfeng, fundador da startup de inteligência artificial DeepSeek.

Segundo fontes do Financial Times, uma das principais pautas foi a tentativa de desenvolver um novo chip que possa cumprir simultaneamente as exigências dos dois países, numa corrida contra o tempo para preservar o acesso ao mercado chinês, que gerou mais de US$ 17 bilhões para a Nvidia só no último ano.

Em declaração à estatal CCTV, Huang reforçou que a China continua sendo "um mercado muito importante" e sinalizou que a Nvidia está disposta a "otimizar seus produtos" conforme as regulamentações americanas.

Efeito dominó: mercado em alerta e Congresso pressionando

Nos bastidores, o impacto da decisão vai além de dinheiro. O comitê bipartidário da Câmara dos Representantes dos EUA já solicitou à Nvidia dados sobre possíveis vendas de chips à DeepSeek, uma empresa chinesa que surpreendeu o setor ao apresentar um modelo de IA generativa treinado com custo significativamente menor do que os equivalentes ocidentais.

A suspeita é que startups como a DeepSeek estejam utilizando chips americanos — mesmo com restrições — para desenvolver tecnologias que poderiam, direta ou indiretamente, servir aos interesses militares de Pequim.

A reação foi rápida: o secretário de Comércio, Howard Lutnick, prometeu apertar ainda mais o cerco e afirmou que será “muito firme” com empresas americanas que desrespeitarem os novos limites.

O caso DeepSeek tornou-se um símbolo da nova fase dessa guerra fria digital. A ascensão de modelos de IA chineses, somada ao ambiente regulatório cada vez mais agressivo dos EUA, ampliou a pressão sobre as gigantes do Vale do Silício e acendeu alertas no Congresso americano.

Huawei ganha força (mas ainda não é suficiente)

Enquanto isso, a China tenta acelerar a substituição de chips estrangeiros por soluções nacionais. A Huawei, principal concorrente local da Nvidia, já vem expandindo sua produção dos aceleradores Ascend. Apesar do apoio do governo, os especialistas concordam que os chips chineses ainda estão tecnicamente atrás — tanto em performance quanto em escalabilidade — o que mantém a Nvidia como líder incontestável no curto prazo.

Mesmo assim, o movimento de Huang não é só estratégico: é também simbólico. Ao trocar sua clássica jaqueta de couro por terno e gravata diante das câmeras chinesas, o executivo tenta enviar uma mensagem clara: a Nvidia não quer abrir mão da China, e fará o possível para manter viva essa relação — mesmo sob fogo cruzado.

Uma guerra comercial cada vez mais imprevisível

O que parecia uma disputa de bastidores entre dois governos se transforma, cada vez mais, em um tabuleiro de impacto direto na economia global. Com a inteligência artificial no centro do conflito, o que está em jogo não é apenas a competitividade de empresas, mas o domínio da próxima geração tecnológica.

A crise provocada pelo veto ao H20 pode ser apenas o começo de uma nova escalada de medidas unilaterais, sanções cruzadas e reposicionamentos corporativos.

Para a Nvidia, o desafio agora é sobreviver ao terremoto sem perder terreno em dois dos mercados mais sensíveis do planeta. Para o setor, é mais um lembrete de que, quando tecnologia e geopolítica colidem, ninguém sai ileso.

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