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A última tentativa do Japão de evitar que mulheres solteiras se mudem para Tóquio: dinheiro e maridos se forem para o campo

O país vive uma crise demográfica, enquanto sua capital enfrenta superpopulação

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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

É um fenômeno que se repete em quase todos os grandes países: os cidadãos acabam se deslocando para as capitais, onde esperam encontrar melhores oportunidades. Junto a eles chegam outras centenas de milhares de migrantes do mundo todo. O cenário final são capitais superpovoadas e regiões vazias no restante do país. Isso ocorre, por exemplo, em Tóquio — e, agora, o Japão tem uma ideia surpreendente para enfrentar o problema.

População encolhendo

O plano: no ano fiscal de 2025, o Japão começará a dar suporte financeiro a mulheres solteiras que se mudem de Tóquio para as áreas rurais para se casar. A ideia tem como objetivo ajudar mulheres interessadas em se mudar, diminuir a superlotação de Tóquio e repovoar o campo, onde o número de mulheres jovens tem diminuído drasticamente.

O Japão enfrenta uma crise demográfica: as taxas de natalidade estão abaixo das de mortalidade, de modo que a população está diminuindo. Mas você provavelmente não perceberia isso ao caminhar por Tóquio. A capital parece mais agitada do que nunca, e isso ocorre porque uma proporção cada vez maior da população do país está concentrada ali.

No entanto, à medida que a grande metrópole se torna cada vez mais populosa e seu perímetro urbano vai ocupando mais áreas, as comunidades regionais menores estão diminuindo rapidamente. Além da queda de nascimentos no interior, muitas dessas crianças estão se mudando para Tóquio quando crescem. O governo japonês está ciente disso e quer uma distribuição mais uniforme da população.

De volta ao campo

De acordo com um relatório da agência de notícias Kyodo, o novo plano consiste em destinar fundos do orçamento para o ano fiscal que começa em abril de 2025, com o objetivo de pagar um milhão de ienes (R$ 37 mil) às mulheres que se mudarem de Tóquio e se casarem com um homem que viva em uma parte menos populosa do Japão. Podem se candidatar à proposta (e ao pagamento) as solteiras que moram nos 23 distritos centrais de Tóquio ou que precisam ir rotineiramente para seus locais de trabalho dentro deles.

Embora ainda não se saiba a lista de cidades/regiões para as quais elas poderão se mudar, sabemos que o objetivo é aumentar o número de residentes em comunidades onde existe a possibilidade real de desaparecimento. Por isso, é provável que cidades menores que Tóquio, mas que ainda são grandes, como Osaka e Quioto, não sejam incluídas. Em vez disso, o foco será nas comunidades mais rurais ou cidades regionais menores.

Todos os gastos pagos

A proposta, ao que parece, também inclui os custos das viagens das mulheres de Tóquio para as áreas rurais para participar de eventos de busca de parceiros. Se de fato elas se mudarem para essas regiões, receberão outro montante financeiro. Os detalhes sobre esses pagamentos serão considerados durante o processo de elaboração do orçamento.

A medida também busca enfrentar uma situação que se intensificou nos últimos anos: as entradas líquidas de mulheres na área metropolitana de Tóquio foram maiores do que as de homens. Segundo um funcionário do governo, as mulheres do interior tendem a não voltar para suas cidades de origem (ou para outras áreas nos arredores de Tóquio) depois de se mudarem para a capital para estudar ou trabalhar. Essa tendência levou a uma queda no número de mulheres solteiras em comparação aos homens solteiros no interior.

De acordo com o censo nacional de 2020, a população combinada de mulheres solteiras entre 15 e 49 anos em 46 das 47 províncias do Japão, exceto Tóquio, era de cerca de 9,1 milhões, aproximadamente 20% a menos que os 11,1 milhões de homens solteiros no mesmo grupo etário. Em algumas províncias, a diferença chegou a cerca de 30%.

O relatório também reconhece que limitar o subsídio às mulheres, com base no gênero, pode gerar uma reação negativa do público. Alguém pode querer argumentar, por exemplo, que oferecer dinheiro apenas para as mulheres é uma forma indireta de expulsá-las da capital.

Em todo caso, parece claro que o governo coloca, acima das polêmicas de gênero, a ideia de prevenir a despovoação nas áreas rurais, uma situação que é crítica no contexto atual do país.

Este texto foi traduzido e adaptado do site Xataka Espanha

Imagem | RawPixel, Pexels

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