Você pode ter visto no TikTok vídeos de pessoas vendendo o registro da própria íris. A empresa que está pagando pelo registro é a World, de Sam Altman, criador do ChatGPT, que já tinha começado esse processo no Brasil em 2023 como teste e voltou no final de 2024 para dar continuidade. A compra da íris está sendo feita em unidades da empresa, que possui sedes apenas em São Paulo por enquanto. O pagamento é feito em WorldCoin, criptomoeda da companhia.
O que é a íris?
A íris é a parte colorida do nosso olho. Ela tem função de controlar a quantidade de luz que entra no globo ocular através da contração e da dilatação da pupila. O relevo da íris de cada pessoa é único, podendo ser utilizado para identificar seu dono e não é possível alterá-lo.
O que a empresa de Sam Altman quer?
A World é uma iniciativa da Tools for Humanity, empresa fundada por Sam Altman e Alex Blania em 2019, focada em “desenvolver tecnologias para humanos na era da Inteligência Artificial”, de acordo com o seu site. O registro das íris é parte do projeto World Id, que busca confirmar que cada pessoa é um ser humano e não uma IA através do escaneamento do olho. Com isso, cada pessoa receberia uma identificação única que agruparia todos os seus dados.
Como é feito o registro?
Para registrar a íris é preciso utilizar um Orb, aparelho que emite um laser e em um segundo escaneia a superfície do olho. Isso pode ser feito em 10 pontos espalhados pela cidade de São Paulo. Caso você queira criar mais um, pode encomendar um Orb no site da empresa, mas ele só deve ser entregue no segundo trimestre de 2025. A vantagem para quem monta um novo ponto de escaneamento é ganhar WorldCoins por cada pessoa cadastrada.
Risco de vazamento pode gerar desconfiança
No Brasil, já há mais de 100 mil pessoas que cadastraram suas íris no projeto World Id. Mas algumas instituições de proteção de dados têm levantado desconfiança da segurança dos dados envolvidos nesse processo. Na Espanha, a World foi proibida de obter e tratar dados após denúncias sobre falta de informação acerca da utilização e tratamento de dados, obtenção de dados de menores de idade, e impossibilidade dos usuários de removerem suas autorizações para o uso dos dados.
A Coreia do Sul multou a empresa em US$ 830 mil após ela ser acusada de violar as leis de privacidade de dados do país. Na Argentina, a empresa de Sam Altman teve que pagar R$ 1 milhão por práticas abusivas. Para receber o pagamento do cadastro da íris, é preciso baixar o app World Finance e no contrato foram identificadas cláusulas que permitiam à empresa interromper o serviço sem indenização ou reparação ao usuário e que o obrigavam a renunciar a reclamações coletivas contra a World.
No Brasil, pesquisadores e defensores da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) criticam a falta de transparência sobre como esses dados são tratados e armazenados. Em entrevista para o site Exame, Nathan Paschoalini, pesquisador do Data Privacy Brasil, destaca que o cuidado com dados biométricos é especialmente importante. "Qualquer informação biométrica, seja digital ou íris, é um identificador único, que não pode ser alterado. É seu, é algo extremamente íntimo e pessoal do sujeito. E se a gente pensar nessas características, de ser um identificador único e imutável, um vazamento de dados biométricos tem um potencial muito grande de lesão ao direito das pessoas, porque não é algo que se consegue alterar, como uma senha".
Em entrevistas, representantes da World afirmam não haver risco de vazamento das íris escaneadas, pois o dado é transformado e dividido antes de entrar no banco de dados. “O que fazemos é quando tiramos a foto do seu olho, usamos essa segurança criptográfica chamada computação multipartidária segura, e pegamos o código, e basicamente o dividimos em pedaços. Nenhum desses pedaços pode ser trazido de volta ao original, e então os armazenamos em bancos de dados distribuídos”, explicou Damien Kieran, Chief Privacy Officer da Tools for Humanity em entrevista à Exame.
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