Apesar de sua fama de ficção científica escapista e "sem mensagem", 'Star Wars' é carregado de significado político, como não poderia deixar de ser em uma saga cujo núcleo dramático inicial é o confronto entre um Império galáctico (o status quo sideral) e os Rebeldes que tentam derrubar esse governo opressor e letal. Só a partir daí é possível tirar conotações políticas, embora boa parte dessa trama seja simplesmente uma réplica atualizada dos antigos seriados de ópera espacial aos quais George Lucas homenageou, como 'Buck Rogers' ou 'Flash Gordon'.
O próprio Lucas afirmou que a primeira trilogia foi inspirada na Guerra do Vietnã e em como as democracias se tornam ditaduras (ou em outras palavras: os primeiros a chamar seus storm troopers de Stormtroopers foram os nazistas). Com o passar dos anos e a evolução da franquia, tivemos a oportunidade de ver os dois lados eternos se subdividirem em pequenos grupos e até mesmo mudarem seu papel de dominador e subjugador. Em 'Ahsoka', por exemplo, temos um Império dizimado e alguns Rebeldes agora convertidos na República e que simbolizam o establishment. Em outras palavras, a mesa virou completamente.
E no meio de tudo, a trilogia prequel, onde temas como genocídio com motivação política ou longos debates entre altos funcionários de forças opostas estavam presentes nos roteiros. Lucas revelou que o enredo foi baseado nos conflitos que deram origem à Guerra Civil Americana. E pontuando a espinha dorsal que são os filmes, temos videogames como 'Knights of the Old Republic', onde havia uma clara distinção de classes no planeta Taris, e muitas das missões tinham um significado político óbvio, em uma direção ou outra.
Outro exemplo recente: 'Andor', talvez o melhor produto que a franquia produziu em muitos anos, tem uma posição abertamente antifascista: fala sobre repressão política e o conformismo das massas como forma de controle. Uma de suas protagonistas, Fiona Shaw, falou sobre como o mundo da série era "trumpista" e que a série era um reflexo de como os direitos das pessoas estavam desaparecendo aos poucos.
Escolha um lado
Mas poucas posições políticas são tão reveladoras quanto os próprios destinatários que decidem tomá-las. Um jogo menor da franquia, 'Star Wars Commander' (um título de estratégia para dispositivos móveis lançado em 2014 e encerrado em 2020) é a última peça desse quebra-cabeça de pessoas se dividindo em lados, dessa vez com a ficção política como desculpa.
Em 'Star Wars Commander', o jogador tinha que tomar uma decisão simples: dar vida às forças Rebeldes ou parte do Império. Quando seus desenvolvedores mostraram a divisão de cada uma das facções em zonas do mundo, para celebrar os cinco milhões de usuários, a mensagem foi mais clara do que qualquer análise política. O sul do mundo queria ser Rebelde, e o norte se alinhou com o Império. Você pode ver aqui:
Embora a divisão dos jogadores tenha sido mais ou menos igual (o Império venceu por pouco, com 52%), é impressionante como os jogadores russos se voltaram para o Império, com 57,69%, e subiram ainda mais em territórios como Mongólia e Cazaquistão. Na Europa, optaram pelos vilões Áustria e Alemanha, às quais se somaram Estados Unidos e Japão. Em Reino Unido e Austrália eles foram 50%..
É significativo quem prefere o lado Rebelde: na Europa, países como Espanha, França ou Itália, mas acima de tudo, toda a América do Sul e Central, e praticamente todo o continente africano. Claro, isso não significa que os países do Hemisfério Norte prefiram um Império a uma Democracia, mas implica até que ponto o Sul prefere levar a divisão faccional, mesmo que fictícia, um pouco mais a sério. Afinal, um jogo é um jogo... até que não seja mais.
Imagem | Comandante de Guerra nas Estrelas
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