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Descobrimos um mecanismo genético para explicar até 80% dos casos de autismo graças a alguns cientistas espanhóis

Um estudo anterior havia identificado uma relação entre a proteína CPEB4 e o autismo, e o novo trabalho explica seus mecanismos

Novo artigo explica relação entre a proteína CPEB4 e o autismo / Imagem: IRB Barcelona
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O autismo é um transtorno sobre o qual ainda sabemos muito pouco, apesar de estimativas de alguns anos atrás apontarem que a prevalência dos transtornos do espectro do autismo (TEA) é de um caso a cada 100 nascimentos. Até agora, sabíamos que cerca de 20% dos casos estavam vinculados a uma mutação genética específica, enquanto os outros 80% eram classificados como “autismo idiopático”. Agora, temos uma nova e importante pista sobre esse último.

Um estudo liderado por pesquisadores do Institute for Research in Biomedicine (IRB Barcelona) revelou os mecanismos genéticos que levam ao surgimento de diversos casos de autismo. Os responsáveis pela pesquisa esperam que a descoberta possa ajudar no futuro desenvolvimento de terapias.

Trabalho anterior

O novo estudo se origina de um trabalho iniciado anos atrás, que começou a dar frutos em 2018. Naquele primeiro estudo, foi identificado o papel de uma proteína chamada CPEB4 em pessoas com autismo. Foi observado que, nas pessoas com autismo, perdia-se um microexão (pequeno trecho de DNA que codifica uma porção específica de uma proteína) relacionado a essa proteína, ou seja, um pequeno fragmento da cadeia de DNA vinculado à codificação de poucos aminoácidos.

O novo trabalho dá continuidade e mostra como a perda desse microexão resulta em alterações na atividade cerebral da proteína CPEB4.

Condensação

De acordo com a equipe responsável pela descoberta, o microexão é o responsável por codificar um segmento da proteína CPEB4 que não possui estrutura. A estrutura de uma proteína, ou seja, a forma como ela se dobra, é um fator crucial, pois proteínas com regiões desordenadas podem se condensar formando pequenas "gotas" no interior das células.

Essas gotas servem para "armazenar" outras moléculas, como cadeias de RNA mensageiro (RNAm), que são liberadas quando esses condensados se desfazem. O novo estudo mostra como a ausência desse microexão em pessoas com autismo desempenha um papel essencial para permitir que esses condensados de proteínas sejam estáveis e possam se montar e desmontar de forma adequada em resposta aos estímulos enviados por outros componentes celulares.

“Sem o microexão, os condensados se tornam menos dinâmicos e podem formar agregados sólidos que não funcionam corretamente”, explica em um comunicado Xavier Salvatella, coautor do estudo. Quando esses condensados não desempenham sua função, o condensado retém indefinidamente o RNAm, que, neste caso, é responsável por codificar genes já conhecidos por estarem vinculados ao autismo.

Desenvolvimento neuronal

Isso, por sua vez, pode desencadear alterações no desenvolvimento das células neuronais, o que se manifesta nos sintomas associados ao autismo. Esse mecanismo também explica a diversidade observada nas manifestações do autismo idiopático, seus diversos tipos e graus de severidade.

“Nossos resultados sugerem que até mesmo pequenas diminuições na inclusão do microexão podem ter efeitos significativos. Isso poderia explicar por que algumas pessoas desenvolvem autismo idiopático sem uma mutação genética”, explicam Carla Garcia-Cabau e Anna Bartomeu, primeiras autoras do artigo recentemente publicado na revista Nature que detalha os resultados do estudo.

Buscando novas terapias

A equipe também explora formas de transformar esse conhecimento em terapias para pessoas com autismo. Até o momento, foi observado que, a princípio, seria possível introduzir o microexão nas células, o que permitiria, ao menos parcialmente, recuperar o funcionamento adequado das proteínas CPEB4 e, assim, reverter os sintomas.

Imagem | IRB Barcelona

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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