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Há quase quatro séculos, Cassini observou uma mancha em Júpiter; pesquisadores espanhóis descobriram que a que vemos hoje é outra mancha

A mancha que vemos hoje poderia ter menos de 200 anos de idade

Imagem: S. Swabe/UPV/EHU-UPC
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Por volta do ano de 1655, o astrônomo Giovanni Domenico Cassini se tornou um dos primeiros astrônomos a estudar Júpiter com auxílio de um telescópio — instrumento que, na época, tinha apenas algumas décadas de existência.

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade do País Basco (UPV/EHU), da Universidade Politécnica da Catalunha e do Barcelona Supercomputing Center apontou que a Grande Mancha Vermelha (que "adorna" hoje o hemisfério sul de Júpiter) é uma mancha diferente da "Mancha Permanente" que Cassini observou e registrou em meados do século 17.

A grande mancha vermelha

A Grande Mancha Vermelha, ou GRS (Great Red Spot), é possivelmente a característica mais reconhecível do planeta Júpiter. Essa gigantesca mancha tem um diâmetro aproximado de cerca de 14.000 km, mas, antigamente, pode ter alcançado 39.000 km de comprimento. Estudos recentes confirmaram essa tendência da mancha ao encolhimento.

A mancha é, na verdade, uma tempestade na superfície do gigante gasoso, um vórtice anticiclônico cujos ventos atingem 450 km/h nas bordas. A antiguidade da mancha e o mecanismo que levou à sua formação sempre foram motivo de debate. O estudo mais recente lança, justamente, um pouco de luz sobre esse debate.

Do telescópio no século 17

A "Mancha Permanente" de Cassini (ou PS, de “Permanent Spot”), por sua vez, é uma mancha joviana observada, descrita e desenhada pelo astrônomo em 1655. Essa mancha é justamente um dos motivos pelos quais era tão difícil determinar a idade da GRS.

A PS foi observada não apenas por Cassini, mas também por vários pesquisadores que apontaram seus telescópios para o planeta durante a segunda metade do século 17 e início do 18. As últimas observações dessa mancha datam de 1713.

Demorou 118 anos até que uma mancha fosse avistada em Júpiter novamente — em 1831, as observações revelaram uma marca na mesma região onde estava a PS. Só que, como demonstrou o estudo recente, a nova mancha era bem distinta: a GRS.

Calculando idades

Para reconstruir a história das manchas de Júpiter, a equipe recorreu a fontes historiográficas a partir do século 17, quando os telescópios permitiram analisar a morfologia dos planetas do nosso sistema solar.

A equipe também utilizou observações contemporâneas do planeta. Observações essas que facilitam a tarefa da simulação atmosférica, a partir da qual a equipe conseguiu reconstruir a história dessa mancha vermelha. Realizar essas complexas simulações foi possível com o uso de supercomputadores, como o MareNostrum IV do BSC.

Assim, os cientistas conseguiram identificar várias maneiras pelas quais essa mancha nova poderia ter se formado, como a aparição repentina da tempestade ou a fusão de várias tempestades menores em uma única de grande tamanho. Os detalhes do trabalho foram publicados em um artigo na revista Geophysical Research Letters.

E o que aconteceu com a Mancha Permanente, que também era formada por fenômenos meteorológicos? "Provavelmente, a PS desapareceu em algum momento entre meados dos séculos 18 e 19", explicou Agustín Sánchez Lavega, coautor do estudo, em comunicado à imprensa.

Futuras investigações sobre o futuro da GRS, sejam estudos observacionais ou simulações, podem nos ajudar a entender melhor como os gases de Júpiter se comportam. Com isso, talvez possamos aprender novas informações sobre as manchas que já existiram e existem no maior planeta do Sistema Solar.

Imagem | S. Swabe/UPV/EHU-UPC

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