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Os cientistas encontraram o maior massacre de pássaros da história. O culpado tem um nome: "Blob"

O "assassino" tem pouco a ver com a fauna animal e mais com os fenômenos meteorológicos

Pássaros foram vítimas de disrupção na cadeia alimentar / Imagem: Pexels
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em outubro, foi revelada uma história que aconteceu em 2014. Uma pesquisa do MIT conseguiu detectar um evento sem igual no fundo do mar: o maior massacre entre espécies no oceano, com a morte de milhões de criaturas. Algo parecido aconteceu em dezembro de 2024, mas o "assassino", nesse caso, tem pouco a ver com a fauna animal.

Uma onda de calor

Entre os anos de 2014 e 2016, uma onda de calor marinho sem precedentes conhecida como "Blob" elevou drasticamente as temperaturas no nordeste do Pacífico, desencadeando uma catastrófica reação em cadeia no ecossistema marinho.

Agora sabemos, por meio de um novo estudo publicado na Science, que aquele fenômeno resultou na morte massiva de 4 milhões de pássaros airo (Uria aalge), uma perda equivalente à metade da população dessa espécie no Golfo do Alasca e no Mar de Bering (um quarto de sua população mundial), marcando o maior evento de mortalidade de vertebrados não piscícolas na era moderna.

Impacto do Blob

Como contam os pesquisadores, a tremenda onda de calor afetou profundamente a cadeia alimentar marinha, reduzindo as populações de fitoplâncton e, consequentemente, de peixes forrageiros essenciais para as aves marinhas, como os airos. Entre 2015 e 2016, essas aves morreram de inanição em grande quantidade, com 62.000 cadáveres encontrados em praias desde o Alasca até a Califórnia e uma mortalidade estimada que atingiu 10 bilhões de caranguejos-de-neve no Mar de Bering.

Populações-chave, como o bacalhau do Pacífico e as baleias jubarte, também sofreram declínios significativos, enquanto outras espécies permaneceram neutras ou até prosperaram, revelando as complexidades dessas perturbações climáticas. Não há dúvida de que a velocidade e a magnitude desse colapso populacional foram impactantes e sugerem mudanças fundamentais no ecossistema que dificultam a recuperação.

Um sistema em crise

O estudo macro, baseado em 14 anos de acompanhamento de colônias de airos no Golfo do Alasca e no Mar de Bering, documentou uma diminuição de 52% a 78% nas populações dessas aves desde o evento. Os airos, que formam colônias densas de centenas de milhares de indivíduos, agora mostram números drasticamente reduzidos, sem sinais de recuperação.

E não é um fenômeno isolado. Como lembram os pesquisadores em seu trabalho, é um alerta sobre os efeitos sistêmicos das mudanças climáticas nos oceanos, com ondas de calor marinhas projetadas para se tornar mais frequentes e intensas.

Desafio para a conservação

Nesse sentido, pesquisadores como Heather Renner e Brie Drummond destacam que eventos como o Blob refletem o impacto direto do aquecimento global na biodiversidade e nas comunidades costeiras que dependem de ecossistemas marinhos produtivos, exacerbando o estresse sobre ecossistemas já enfraquecidos.

Embora os airos não estejam em risco imediato de extinção, sua drástica redução é um lembrete da fragilidade dos sistemas marinhos e da urgência de se adaptar a essas novas condições. Para Megan Williams, da Ocean Conservancy, não se pode esperar que ecossistemas como o Mar de Bering continuem sendo tão produtivos quanto nos últimos 50 anos.

Embora seja difícil controlar diretamente as ondas de calor marinhas, os achados sublinham a necessidade de medidas de conservação complementares, como, por exemplo, a eliminação de predadores invasores ou a mitigação de outras pressões sobre as populações de aves marinhas. Como destacam os especialistas, o colapso dessas espécies-chave deveria ser um sinal de alerta global sobre os impactos cada vez mais severos das mudanças climáticas.

Imagem | Pexels

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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