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A crise laboral na China leva muitos jovens ao mesmo desafio: viver com menos de 70 dólares por mês para alimentação

A iniciativa, popularizada nas redes sociais do país, mostra até que ponto a crise econômica tem alterado hábitos

Jovens chineses fazem desafio de comer gastando pouco / Imagem: Zhao Yongfang, Xue Yang
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Com a volta de Trump à presidência dos EUA e as possíveis novas tarifas que serão impostas à China, o país vive imerso em sua própria crise, com uma desaceleração econômica e um mercado de trabalho complicado, especialmente para os jovens. Agora surge um desafio ainda maior, que está se tornando viral nas redes sociais: sobreviver com uma "mesada mínima" por mês.

70 dólares mensais em comida

Em meio ao panorama econômico incerto na China, o The Washington Post reportou que milhares de jovens adotaram o que chamam de "desafio de economia radical": alimentar-se com menos de 500 yuans por mês (aproximadamente R$ 415).

Esse movimento, conhecido como "frugalidade orgulhosa" na China, está ganhando popularidade em plataformas como o Xiaohongshu, onde os participantes compartilham fotos de suas refeições, detalham os custos e buscam se superar, reduzindo ainda mais seus orçamentos mensais.

Da ostentação à austeridade estratégica

Na realidade, o fenômeno marca uma mudança cultural. Como explicou o jornal Nikkei há alguns meses, de alguma forma, as novas gerações estão deixando para trás o consumo conspícuo dos últimos anos, quando as elites chinesas exibiam sem pudor carros de luxo, relógios extremamente caros e acessórios de marcas.

Empresas como a poderosa LVMH, líder mundial em bens de luxo, reportaram queda nas vendas na China, refletindo essa mudança agora reforçada pelo novo desafio. Por sua vez, a classe média parece estar adotando uma vida mais austera, priorizando, por exemplo, a culinária caseira e estratégias de economia diante de um contexto econômico pessimista.

Histórias de resiliência

Uma das entrevistadas do Washington Post é Xue, de 28 anos, que perdeu seu emprego como consultora financeira em Xangai após uma recessão na indústria tecnológica. Antes, ela levava um estilo de vida confortável, com viagens frequentes e compras regulares. Após ficar desempregada, Xue se viu obrigada a cozinhar em casa, conseguindo reduzir seus gastos com comida em dois terços. Agora, com um orçamento de 332 yuans (R$ 275), ela diz que compra alimentos básicos online e aproveita ofertas. Ela até planeja manter seu estilo de vida frugal assim que conseguir um emprego, com a meta de evitar viver de salário em salário.

O caso de Zhao e Helena: novos caminhos na busca pela austeridade

Zhao, uma engenheira de 32 anos, decidiu entrar no desafio enquanto trabalhava temporariamente em Pequim. Combinou a dieta simples com a necessidade de reduzir gastos, encontrando inspiração em alimentos acessíveis como pão, leite e vegetais. Descobriu que podia gastar menos de 20 yuans por dia ao preparar sopas, arroz frito e hotpots improvisados. Esse enfoque não só foi sustentável, como também lhe proporcionou uma reflexão sobre a eficiência de sua dieta e estilo de vida.

Outro exemplo é o de Helena Lui, de 30 anos, professora universitária na província de Henan, que decidiu enfrentar o desafio com um objetivo claro: poupar para comprar sua casa. Embora já não tenha despesas com aluguel, seu gasto mensal com comida era de cerca de 100 dólares (R$ 600). Como Zhao, Helena recorreu a refeições simples como pãezinhos no vapor e vegetais, e agora encontrou satisfação em uma vida mais modesta, priorizando suas necessidades reais e evitando o consumo impulsivo.

Uma transformação cultural?

Esse movimento de frugalidade parece refletir uma transição nos valores da geração millennial chinesa, que agora parece mais inclinada a simplificar suas vidas e focar em objetivos de longo prazo, como a compra de uma casa ou a poupança para o futuro. As histórias de Zhao e Helena mostram como a crise econômica tem incentivado maior autossuficiência e criatividade no manejo dos recursos.

Esse possível movimento cultural pode ser o precursor de uma tendência duradoura em direção a um consumo mais consciente e sustentável, algo necessário para uma geração que enfrenta desafios econômicos sem precedentes e que já demonstra estar se afastando do padrão consumista das gerações passadas.

Imagem | Zhao Yongfang, Xue Yang

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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