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'Electric State' é um filme fraco, mas não é culpa da Netflix: os irmãos Russo não estão conseguindo acertar desde que deixaram a Marvel

Depois de Endgame, e salvo raras exceções, os irmãos Russo não conseguiram encontrar a fórmula do sucesso.

'Electric State' na Netflix vale a pena assistir? Imagem: Netflix
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

É o filme mais caro da história da Netflix, com um orçamento de 320 milhões de dólares, e também um dos que vêm recebendo as piores críticas. Ele é acusado de ser insosso, lento e pouco brilhante visualmente — o que surpreende bastante vindo dos irmãos Russo, responsáveis pelos aclamadíssimos Guerra Infinita e Endgame, da Marvel. Ou será que não é tão surpreendente assim? Por que os Russo não conseguem encontrar um espaço seguro fora do guarda-chuva da Disney?

Críticas devastadoras

No momento em que este texto foi escrito, Electric State tinha apenas 19% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes (11% se considerarmos apenas os críticos com maior credibilidade segundo o site).

A nota do público é um pouco mais alta, 69%, impulsionada em parte por dois fenômenos previsíveis: a reação contrária à crítica estabelecida e o ativismo pró-Marvel (um fenômeno semelhante aconteceu com Rebel Moon, de Zack Snyder).

Tudo indica que o filme ficará longe de uma pontuação brilhante, em sintonia com impressões como “desperdício de 320 milhões”, “um suplício completo” e “destruição da obra original”.

Mas... é tão ruim assim?

Deixando de lado o desperdício total de um livro soberbo de Simon Stålenhag — banalizando a atmosfera cuidadosa criada pelo autor e transformando um drama retrofuturista contemplativo em uma comédia de ação genérica —, um dos principais problemas de Eletric State é que os seus 320 milhões de dólares simplesmente não aparecem na tela.

Apesar do elenco estrelado e dos efeitos especiais competentes, falta espetáculo, falta qualquer senso de maravilha; o que se vê é um roteiro ilustrado de maneira eficiente, mas sem grandes destaques. Impressiona que um filme tão caro aparente tão pouco.

Russo: culpados

E isso pode ser atribuído, claro, ao rolo compressor nivelador da Netflix, que faz com que todos os filmes pareçam iguais ao obrigar seus diretores, entre outras coisas, a usarem as mesmas câmeras. Também pesa a obsessão da Netflix em tentar imitar a Disney justamente em uma área em que a Casa do Mickey se destaca: fazer filmes como quem preenche uma planilha de Excel.

Aqui, o elenco parece resultado de uma equação matemática, mais do que uma escolha artística: a primeira grande estrela da geração Netflix, somada ao engraçado oficial — porém inofensivo — do cinema mainstream atual, mais um grupo de dubladores e atores coadjuvantes com prestígio, fama ou prêmios recentes.

O resultado é tão brilhante quanto vazio.

Má sorte fora da Marvel

Já está mais do que documentada a má sorte que os irmãos Russo enfrentaram fora do universo Marvel. A produtora deles até começou bem depois de Endgame, com o sucesso de Resgate na Netflix — o único verdadeiro hit que tiveram fora da Disney, junto com o impacto mediano de O Agente Oculto.

Mas, depois disso, Citadel, da Prime Video, se tornou a série mais cara da história... e um desastre de audiência, o que certamente ressoa de forma preocupante em Estado Elétrico.

O retorno dos Russo à Marvel, meio que com o rabinho entre as pernas, para dirigir os próximos filmes dos Vingadores, confirma o quanto a jornada deles fora da Disney tem sido irregular.

Por que tantos tropeços?

Por trás dessa sequência de decepções está, entre outras coisas, a completa falta de ambição criativa dos irmãos Russo — algo que eles já vinham demonstrando desde os tempos de Marvel. Seus filmes são produtos ambiciosos e eficazes, sim, mas concebidos milimetricamente em salas de reunião, não obras de autor.

Sob esse ponto de vista, filmes como Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Homem de Ferro 3 ou Guardiões da Galáxia podem até ter seus altos e baixos em termos de qualidade, mas têm por trás vozes autorais bem definidas, impondo escolhas e estilos próprios.

Até segunda ordem, ainda estamos esperando ver isso nos filmes dos Russo.

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