Estamos apenas nos primeiros meses de 2025 e a Tesla está enfrentando um momento extremamente complicado. Em 2024, a empresa não conseguiu aumentar suas vendas — uma verdadeira anomalia para a companhia. E 2025 não começou com o pé direito. Por enquanto, temos o desempenho de apenas dois meses, mas os dados são extremamente negativos em todos os mercados. E as ações estão sofrendo com isso.
Mais de 100 dólares
Você tinha 10 ações da Tesla exatamente um mês atrás? Temos más notícias. Nas últimas quatro semanas, o valor total dessas ações caiu de pouco mais de 3.700 dólares para cerca de 2.700 dólares. Sim, para cada uma delas, o preço da ação caiu 100 dólares.
É uma queda que alguns analistas justificam fazendo referência ao conceito de cult stock. Ou seja, uma ação cujo valor é mais baseado no que ela promete representar no futuro do que no que realmente vale hoje. São ações que se sustentam em promessas futuras ou rodadas de financiamento que supostamente serão o alicerce para lançar produtos revolucionários.
No caso da Tesla, a ação da montadora sempre foi entendida como um bom exemplo desse tipo de situação. Durante anos, a empresa operou no prejuízo e se manteve com o apoio de investidores que acreditavam cegamente em Elon Musk. Após muito tempo sustentando essa confiança, eles viram que a companhia poderia, de fato, se tornar lucrativa.
Um círculo vicioso
Em outubro de 2024, a ação da Tesla estava pouco acima dos 210 dólares. Hoje, vale um pouco menos de 270 dólares, mas nesse intervalo houve um crescimento desmedido que levou o valor da ação à casa dos 480 dólares. Isso ocorreu em meados de dezembro de 2024, como consequência do anúncio de um robotáxi que estará em operação (se a promessa se cumprir) antes de 2027.
No entanto, o balão começou a esvaziar nos últimos dois meses e meio, a ponto de a ação ter perdido 20% do seu valor apenas no último mês. A queda brusca pode estar relacionada a uma correção do mercado, mas as vendas também não estão ajudando.
Quanto há de correção e quanto de maus resultados nessa queda das ações? É difícil dizer. O fato é que temos os dois fatores ao mesmo tempo, e o cenário da empresa é realmente preocupante.
As vendas na China
A Tesla não vendia tão poucos carros na China desde agosto de 2022. Os dados foram publicados pela Reuters e fornecidos pela Associação de Automóveis de Passageiros da China. Em fevereiro, a Tesla entregou 30.688 veículos, uma queda de 49% em relação ao mesmo mês de 2024. O número é muito baixo, ainda mais considerando que janeiro já havia sido fraco, com 63.238 veículos elétricos entregues.
O contraste fica ainda mais dramático quando se leva em conta que a BYD (que também vende híbridos plug-in) colocou 318.233 unidades no mercado no mesmo período, um crescimento de mais de 161% em comparação com fevereiro do ano passado.

As vendas na Europa
Depois da China, o maior mercado para carros elétricos é a Europa. E o desempenho da empresa até agora neste ano também está sendo ruim. Como é possível ver no gráfico acima, foi só na Alemanha, França e Reino Unido que a Tesla conseguiu superar as 1.000 unidades vendidas no mês de fevereiro, enquanto, no ano passado, havia alcançado essa marca em todos os mercados citados.
Até este ponto do ano, a Tesla havia vendido 46.243 automóveis no mercado europeu (somando Reino Unido e os países nórdicos) em 2024. Ainda não há dados consolidados para todo o mercado, mas os números nos principais países entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025 são os seguintes:
- Alemanha: -76%
- França: -26%
- Noruega: -48%
- Dinamarca: -53%
- Portugal: -52%
- Suécia: -42%
Somente a Espanha manteve uma diferença anual próxima aos números do ano anterior (embora janeiro tenha sido catastrófico), e o Reino Unido foi o único país em que a Tesla conseguiu crescer em fevereiro — embora também tenha perdido terreno em janeiro deste ano.
As vendas nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, rastrear as vendas é mais complicado, já que a empresa não divulga dados específicos por região. Na Europa e na China, é possível acompanhar os números por país, mas nos EUA a divulgação dos dados avança de forma mais lenta.
Os dados mais recentes se referem ao final de 2024. Quando o ano passado terminou, os emplacamentos na Califórnia (o principal mercado do país) da Tesla haviam caído, pelo menos, 8% no último trimestre do ano e 12% no total do ano. Segundo estimativas publicadas pela Cleantechnica, cerca de 50 mil unidades deixaram de ser vendidas na Califórnia, somando os modelos Tesla Model 3 e Model Y.

A concorrência está apertando
Um exemplo são os dados coletados na Alemanha. O país é o principal mercado europeu de carros elétricos e a ausência de incentivos à compra deveria ser uma vantagem comercial para a Tesla, se seguirmos a lógica que o próprio Elon Musk parece aplicar nos Estados Unidos.
No entanto, considerando os dados do ano passado e os de 2025 até agora, a maioria das montadoras aumentou sua fatia de mercado de veículos elétricos no país. As únicas que perderam foram Porsche, Mercedes, Audi e Tesla. Mas a queda da Tesla foi enorme: passou de mais de 20% das vendas para menos de 5% de participação de mercado.
Na China, as notícias também são muito ruins, já que a BYD está pressionando fortemente, chegando ao ponto de oferecer gratuitamente suas funções de assistência à condução para agregar mais valor à compra. Uma estratégia com a qual, inclusive, a Tesla esperava lucrar (muito).
A situação vai se reverter? A lógica indica que sim. É bastante provável que essas quedas nas vendas estejam influenciadas pela chegada do Tesla Model Y renovado. Em Xangai, a fábrica teve que ser paralisada para adaptar as linhas de montagem, o que certamente impactou as vendas nos primeiros meses do ano.
Na Europa, o cenário é semelhante. As primeiras unidades registradas da versão renovada devem começar a aparecer nos próximos meses, mas como ela chegou com um preço muito alto, é possível que as vendas se concentrem mais para o fim do ano. Primeiro pelos que esperaram pelo relançamento e, depois, pelos que acabaram se convencendo com a chegada de opções mais acessíveis.
E as ações? Isso é algo que só o tempo dirá. É preciso levar em conta que o valor da ação depende das vendas, mas também de fatores como o avanço da Tesla no mercado de carros autônomos, por exemplo. Também não se sabe até que ponto a postura política de Elon Musk está gerando rejeição.
Vale lembrar que, na Europa, já ocorreram protestos e atos de vandalismo devido ao apoio dele a partidos de extrema-direita, mas, nos Estados Unidos — onde ele está facilitando a demissão de milhares e milhares de funcionários —, a imagem pública pode ser ainda mais determinante na hora de decidir pela compra do próximo carro.
Imagem | Google e Tesla
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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