Se você gosta de anime, do cinema japonês ou simplesmente teve a enorme sorte de visitar Tóquio ou qualquer outra cidade do Japão, é bem provável que tenha visto algum izakaya. O nome talvez não soe familiar, mas sua imagem com certeza sim. Izakayas são os bares típicos onde se bebe cerveja ou saquê com colegas de trabalho enquanto se devora espetinhos de frango, pratos de sashimi ou tigelas de edamame — poucos lugares são mais icônicos da gastronomia japonesa.
O problema é que tradição nem sempre é sinônimo de sucesso. Os izakayas podem ser emblemáticos, mas estão passando por momentos difíceis, com o maior nível de falências da última década (pelo menos) e grande parte dos estabelecimentos que ainda sobrevivem reconhecendo dificuldades econômicas.
Boa história, mas dados ruins
Se cada cidade tem sua própria paisagem urbana, composta por símbolos inconfundíveis, nas cidades japonesas uma dessas peças icônicas são os izakayas. Existem muitos, e com longa tradição. Até existem de diferentes tipos: robatayaki, yakitor-ya, oden-ya... dependendo de suas características e especialização.
Nem a longa história e nem a tradição impediram que centenas de izakayas fechassem suas portas nos últimos dois anos. Em 2023, foram registradas 204 falências e, entre janeiro e novembro de 2024, foram registradas 203, o que aponta para o fato de que provavelmente o ano passado foi o mais difícil desde pelo menos 2010.

Mais fechamentos do que na pandemia
Os dados coletados pela Teikoku Databank são, sem dúvida, devastadores. O fato de, entre janeiro e novembro do ano passado, 203 izakayas terem declarado falência (o que significa que acumularam dívidas superiores a dez milhões de ienes, cerca de R$ 374 mil) é um mau sinal por várias razões. Para começar, é o número mais elevado durante esse período desde pelo menos 2010, quando foram contabilizadas 115 falências de janeiro a novembro.
Além disso, o balanço de 30 de novembro de 2024 é praticamente idêntico ao de todo o exercício de 2023, o que significa que, com grande probabilidade, o ano foi encerrado com um saldo ainda maior. Há uma terceira razão pela qual as estatísticas da Teikoku são preocupantes: as falências de 2023 e 2024 superam em muito as registradas em 2020, provavelmente o ano mais castigado pela pandemia de COVID. Durante esse período, 189 izakayas sucumbiram à asfixia econômica.
Os estabelecimentos familiares, que podem ser comparados a microempresas ou pequenos e médios negócios, são os que mais sofrem. O jornal The Mainichi lembra que, dos 203 izakayas falidos entre janeiro e novembro do ano passado, cerca de metade (100) eram estabelecimentos com um capital inferior a um milhão de ienes, cerca de R$ 37 mil. Outras 86 estavam entre um capital de um a dez milhões de ienes, o que não ultrapassava os R$ 374 mil.
O que significam esses dados?
As estatísticas mostram que nem todos os izakayas parecem estar sofrendo igualmente. The Mainichi, um dos jornais mais relevantes do Japão, até fala em uma "clara lacuna" entre os pequenos estabelecimentos e os que estão nas mãos de cadeias. Uma delas, a Watami Co., chegou até a demonstrar que está indo melhor do que em outros anos: as reservas para as festas de dezembro, muito importantes para o faturamento, foram em 2024 entre 10% e 20% superiores às de 2023.

A leitura que fazem na Teikoku Databank é clara: "Os negócios médios, pequenos e microempresas têm opções limitadas para adotar contramedidas, e a situação atual está acelerando a sobrevivência do mais apto dentro da indústria dos izakayas, algo que era difícil de ver durante a pandemia". Contudo, há dois indicadores preocupantes para o setor.
Seu peso econômico parece ter diminuído rapidamente
No final do ano passado, estimava-se que o mercado dos izakayas atingia um tamanho estimado de 10,6 bilhões de dólares, significativamente acima dos 5,68 bilhões aos quais havia caído em 2021, durante a pandemia, mas ainda distante dos níveis em que operava antes da chegada do COVID-19. Durante o exercício fiscal de 2017, calculava-se que esse valor estava em torno de 12,1 bilhões de dólares.
O cenário também não é promissor. Uma porcentagem considerável dos responsáveis pelos izakayas (cerca de 40%) reconheceu que, durante o exercício fiscal de 2023, passaram por dificuldades econômicas, o que deixa no ar a possibilidade de que mais negócios estejam condenados à falência.
Explicações
O fato de os izakayas estarem passando por um período de "vacas magras" pode ser explicado por várias razões. Algumas de caráter geral, relacionadas ao contexto econômico, e outras mais ligadas à sua cultura e modelo de negócios. Entre as primeiras, destacam-se a crise demográfica do Japão, a inflação, o aumento dos custos das importações devido à fraqueza do iene, o impacto da guerra da Ucrânia no fornecimento e custo da energia, e os custos da mão de obra.
Os izakayas não são os únicos estabelecimentos no Japão a sofrerem as consequências desse coquetel explosivo. Os restaurantes especializados em lamen também não estão passando precisamente pela sua melhor fase, com mais de 70 negócios falindo em 2024, um aumento de 30% em relação ao ano anterior. No caso deles, há um agravante igualmente importante: a relutância de muitos donos de restaurantes em cobrar mais de mil ienes (R$ 37) por suas tigelas de sopa de macarrão, uma barreira psicológica após a qual, acreditam, poderiam perder seus clientes.
"Um vestígio de épocas passadas"
Os izakayas também enfrentam outro fator, mais intrínseco e ligado ao seu modelo de negócios. Por anos, não era raro encontrar colegas de trabalho bebendo juntos ao sair do trabalho ou no caminho de casa, mas esse hábito foi interrompido durante a pandemia e parece não ter se recuperado. Ou, pelo menos, não com a mesma vitalidade de antes. Sem contar que a Geração Z parece menos interessada em álcool.
"O izakaya é um vestígio de épocas anteriores, quando a geração pós-guerra dos baby boomers dominava", explicou ao The Guardian Robbie Swiennerton, crítico gastronômico do Japan Times. "Hoje em dia, há menos jovens e eles não bebem tanto, nem querem beber nos mesmos lugares que seus pais e avós. O mesmo ocorre com a comida".
Por que essa nova tendência parece penalizar sobretudo os pequenos negócios? Por uma questão de prioridades. Ou pelo menos é assim que considera a cadeia Watami, que aponta que os clientes agora se reúnem apenas para uma rodada e então buscam locais maiores para se encontrar.
Imagens | Yuya Tamai (Flickr) 1 e 2 e Moon Angel (Flickr)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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