“Nossos soldados capturaram militares norte-coreanos na região de Kursk. Dois soldados, embora feridos, sobreviveram e foram transportados para Kiev, onde agora se comunicam com o Serviço de Segurança da Ucrânia.” Com essas palavras, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, anunciou em janeiro uma captura simbólica no contexto da guerra com a Rússia. Agora, a Ucrânia têm algo com o que negociar, embora não pareça que isso vá ser tão fácil.
Captura e contexto
Como dissemos, os dois norte-coreanos capturados na região russa de Kursk marcaram um momento histórico. Foi a primeira vez que a Ucrânia confirmou a detenção de tropas norte-coreanas desde que elas foram deslocadas. Os prisioneiros, que foram transferidos posteriormente para Kiev, começaram a colaborar com o Serviço de Segurança da Ucrânia.
Inicialmente, Zelenski afirmou que os prisioneiros estão recebendo a devida atenção médica e que, diferentemente do habitual, os soldados não foram executados pelos seus companheiros, uma prática aparentemente comum para ocultar a participação norte-coreana. Também foram compartilhados documentos em russo que confirmam a identidade e as idades dos soldados, o que pode fornecer informações-chave sobre o recrutamento e treinamento dessas tropas.
Informações e colaboração
Os dois soldados, com identidades falsas e documentos russos, foram posteriormente interrogados pela SBU com o apoio da inteligência sul-coreana (já que só falam coreano). Um deles, encontrado com uma identificação militar russa emitida em nome de outra pessoa, declarou ter sido enviado para "treinamento" em vez de combate. O outro soldado, sem documentação, deu parte de suas respostas por escrito devido a uma lesão na mandíbula. Ambos os soldados confirmaram “perdas significativas” entre as fileiras norte-coreanas (com quase 3.000 mortos ou feridos, segundo a Ucrânia).
Logo depois, Zelenski propôs trocar os dois soldados norte-coreanos capturados por prisioneiros de guerra ucranianos detidos na Rússia. Segundo o presidente ucraniano, os soldados que desejarem permanecer na Ucrânia poderão fazê-lo, incluindo a possibilidade de compartilhar a verdade sobre o conflito com o povo coreano, enquanto recebem atendimento médico em Kiev.
O problema é que parece que eles não querem fazer parte de uma troca.

Ficar na Europa
Kiev também publicou um vídeo mostrando parte do interrogatório dos dois soldados norte-coreanos. No vídeo, o soldado com as mãos atadas expressou seu desejo de permanecer na Ucrânia, qualificando o país como "um bom lugar para viver". Esse soldado também afirmou que retornaria à Coreia do Norte, se fosse ordenado, embora tenha reafirmado sua disposição de ficar na Ucrânia, caso fosse permitido. Além disso, garantiu que não sabia que estava combatendo na guerra contra a Ucrânia, reforçando suas primeiras declarações, em que dizia que estava participando de um treinamento simulado.
Na entrevista, também contou que estava na linha de frente desde 3 de janeiro, refugiando-se em uma trincheira após testemunhar a morte de seus companheiros. De acordo com suas declarações, ele foi ferido em 5 de janeiro. O segundo prisioneiro, que como mencionado tem ferimentos na mandíbula, mal pôde responder, mas concordava com as respostas de seu companheiro. Ele também concordou quando foi perguntado se voltaria à Coreia do Norte, se fosse ordenado. Ambos os soldados indicaram que suas famílias não sabiam de seu paradeiro.
A participação norte-coreana
Segundo a Ucrânia e a Coreia do Sul, pelo menos 10.000 soldados norte-coreanos foram enviados para a Rússia desde o final de 2023, com mais de 300 mortos e 2.700 feridos em combate. Embora Moscou não tenha admitido oficialmente o uso de tropas norte-coreanas, Zelenski também ressaltou que a Rússia está cada vez mais dependente desse apoio militar estrangeiro, uma afirmação respaldada por documentos e testemunhos obtidos durante os interrogatórios, conforme explicado.
O que parece claro neste momento é que a Ucrânia busca aproveitar essa captura para expor a cooperação entre Rússia e Coreia do Norte, destacando seu impacto no conflito. Apesar das restrições impostas pela Convenção de Genebra, que protege os prisioneiros de guerra contra a exploração midiática, a Ucrânia divulgou as imagens dos soldados como parte de sua estratégia de comunicação internacional.
Captura "diplomática"
A captura desses soldados norte-coreanos representa não apenas uma oportunidade para obter inteligência valiosa, mas também uma ferramenta diplomática para aumentar a pressão internacional sobre a Rússia e seus aliados. A Ucrânia reafirma assim seu compromisso de denunciar a intervenção de regimes autocráticos na guerra, enquanto busca apoio global para resistir à agressão russa.
Imagem | Conta de Zelensky no X
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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