A UE finalmente se tornou independente do gás russo. Agora enfrenta uma dependência igualmente incerta: o GNL dos EUA

Bruxelas reiterou seu objetivo de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos até 2027, mas o alto preço do GNL americano continua sendo um obstáculo

Europa quer depender menos do gás russo, mas o americano é muito caro / Imagem: Unsplash
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Nos últimos cinco anos, o fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) na Europa dependia principalmente das reservas russas, que representavam quase 40% das importações graças aos preços competitivos e uma extensa rede de gasodutos. No entanto, a Europa tem buscado reduzir a dependência do gás russo devido à guerra na Ucrânia, enfrentando um cenário energético incerto. Além disso, o bloco ainda importa quantidades recordes de GNL russo por navio.

As reservas, que haviam atingido níveis históricos no ano passado devido às políticas de armazenamento, agora começam a cair. Diante dessa situação, a Europa optou por diversificar suas fontes e aumentar as importações de GNL de outros países, sendo os EUA um dos fornecedores emergentes. No entanto, essa transição não será nada fácil.

Assim que assumiu, em menos de 24 horas, Donald Trump assinou uma ordem executiva com as diferentes medidas que tomaria imediatamente. O presidente dos EUA fez uma advertência à União Europeia, exigindo que comprem mais petróleo e GNL de seu país ou, caso contrário, enfrentarão a imposição de tarifas.

Essa ameaça ocorre em um contexto de tensões comerciais e energéticas, onde os EUA buscam ganhar terreno no mercado europeu, que historicamente depende das importações de energia da Rússia. No entanto, a UE não tem um poder de compra centralizado que permita negociar contratos em grande escala, já que são as empresas individuais que decidem de onde comprar o gás.

Evolução das importações de GNL da Europa nos últimos anos Evolução das importações de GNL da Europa nos últimos anos

A evolução do fornecimento de gás

O gráfico acima representa o fornecimento de GNL na Europa, que passou por mudanças notáveis. Há mais de 15 anos, o gás natural liquefeito vinha, em sua maioria, de países como o Catar e outros produtores. No entanto, a dependência da Rússia foi se estabelecendo ao longo do tempo.

A posição dos EUA como fornecedores da Europa começou a se consolidar a partir de 2020, quando ficou evidente sua ascensão. Isso ocorreu, em grande parte, devido às sanções e restrições comerciais impostas ao Kremlin, o que obrigou a UE a diversificar suas fontes. Em 2024, as importações dos EUA atingiram níveis históricos, superando até mesmo os fornecedores tradicionais.

A posição da Europa

Embora Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, tenha mostrado disposição para substituir o gás russo pelo GNL dos EUA, a UE não tem capacidade de compra centralizada em grande escala, de modo que cada país membro negocia independentemente. Por sua vez, Hungria e Eslováquia, mais alinhadas com o Kremlin devido aos seus acordos energéticos, podem não concordar com essas medidas da UE.

Bruxelas tem como objetivo reduzir a dependência dos combustíveis fósseis russos até dentro de dois anos, mas o alto preço do GNL dos EUA, em comparação ao gás russo, continua sendo um obstáculo significativo. Além disso, a UE luta para proteger suas indústrias e reduzir os altos preços da energia, especialmente em países como a Alemanha, que dependem do gás para sua indústria.

E a Rússia?

A pesar da guerra na Ucrânia e das sanções impostas pelos EUA e pela UE, a Rússia continua sendo o maior fornecedor de gás da União Europeia. O motivo é que as empresas europeias continuam importando grandes volumes de GNL russo devido aos preços mais baixos e à falta de alternativas acessíveis a curto prazo. Por sua vez, o Kremlin está buscando novos mercados para sua energia e se aproximando cada vez mais do continente asiático.

A capacidade de produção de GNL dos EUA está aumentando e espera-se que mais plantas de gás natural entrem em operação nos próximos anos. Até 2026, os Estados Unidos, o Canadá e o Catar poderão atender grande parte da demanda europeia de GNL, reduzindo assim a necessidade do gás russo. Além disso, a UE busca reduzir seu consumo de gás natural em 25% até 2030, alterando os padrões de importação e mercado. No entanto, os preços continuarão sendo um obstáculo considerável para uma mudança total para o GNL americano.

Imagem | Unsplash

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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