Embora haja cientistas dizendo o contrário, é hora de admitir: continentes não existem

Entre a Groenlândia e o Canadá há 1.143 quilômetros. Alguém encontrou um (micro)continente ali

Novo "continente" encontrado no mar reacendo debate sobre o que é, de fato, um continente / Imagem: Kate Ter Haar
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Em janeiro, um grupo de pesquisadores da Universidade de Derby afirmou ter descoberto um novo (micro)continente no Estreito de Davis, ou seja, entre a Groenlândia e a América do Norte.

E sim, pode soar estranho. Como é possível termos perdido um continente inteiro ao longo dos 1.143 quilômetros que compõem esse estreito?

O que diabos é um continente?

A resposta mais intuitiva seria "uma grande extensão de terra cercada por água", mas, na prática, essa definição funciona apenas em teoria. Quando analisamos o conceito mais a fundo, a questão se torna bem mais complexa.

Por isso, se a pergunta for "quantos continentes existem no mundo?", a única resposta lógica é: "depende".

Como assim, "depende"? As razões por trás das diferentes divisões continentais que usamos são, na maior parte, "puramente históricas e culturais". Na verdade, como explica Miguel García, autor de uma newsletter sobre mapas, "os sistemas educacionais de diferentes países adotam divisões continentais distintas":

  • Nos países anglo-saxões, o mais comum é dizer que existem sete continentes (Europa, África, América do Norte, América do Sul, Ásia, Antártida e Oceania)
  • Já nos países de línguas românicas, a resposta mais comum é que são seis continentes (unindo as Américas em um só)
  • Seis continentes também são ensinados nos países da ex-URSS (embora eles mantenham a separação entre as Américas e unam Europa e Ásia)

Existem outras opções, claro. Por exemplo, poderíamos unir Ásia, África e Europa em um único continente e, ao lado das Américas, da Austrália e da Antártida, formaríamos quatro. Se quisermos, até poderíamos excluir a Antártida, pois, sem sua camada de gelo, ela se tornaria um arquipélago (com a maior ilha menor que a Austrália).

É hora de admitir que os continentes não existem

Os continentes são construções sociais, como os municípios ou as províncias. Por isso, como explica García, do ponto de vista geológico, pode-se concluir que os continentes não são um conceito científico. Em todo caso, podemos falar de placas tectônicas (e, embora definir seu número também seja complicado, não falaríamos de menos de 15).

Então, sobre o que os pesquisadores de Derby estão falando? Agora é hora de entrar no assunto: o que os pesquisadores usaram como base foi outro critério, a espessura da crosta terrestre. Em geral, existem dois tipos de crostas terrestres: a continental (com cerca de 35 quilômetros de espessura) e a oceânica (entre 8 e 10 quilômetros).

O que perceberam foi que, à medida que as placas tectônicas entre o Canadá e a Groenlândia foram se deslocando, a crosta terrestre se reconfigurou. O resultado foi uma crosta protocontinental (ou seja, extremamente grossa) em um lugar onde deveria haver uma crosta oceânica.

E para que serve tudo isso? A descoberta é muito interessante: na realidade, não sabemos muito bem como funcionam as dinâmicas tectônicas. Temos ideias e modelos bastante desenvolvidos, mas, na prática, existem mais perguntas do que respostas. Poder estudar com detalhes a formação de um protomicrocontinente é uma oportunidade única para entender fenômenos como o que está dividindo a África em dois.

Imagem | Kate Ter Haar

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

Inicio