A história da humanidade é (também) a história de seus penteados. E, como quase tudo na história, é um ciclo infinito de tendências, saídas de moda e retornos triunfais. Os permanentes são um exemplo claro disso. Décadas atrás, eles brilharam nas cabeleiras de cantores de metal, depois se tornaram patrimônio das senhoras que buscavam volume nos salões de beleza e agora, em uma dessas reviravoltas inesperadas da moda capilar, adornam as cabeças dos jovens da Geração Z, tiktokers e até atores na casa dos trinta anos.
2025 talvez seja o ano de Trump, mas já é (na verdade, já foi em 2024) o ano do “permanente”, “Zoomer Perm”, “Alpaca Haircut” ou “ninho de pássaro”, termos que estão cada vez mais presentes nos salões de beleza frequentados pela Geração Z.
O retorno (triunfal) do permanente
Basta dar uma volta por um shopping, perto de uma escola, em uma academia ou na praça da cidade para perceber que os permanentes deixaram de ser exclusividade das avós ou das estrelas do metal dos anos 80 e 90. Os jovens da Geração Z adotaram esse penteado como seu.
E o gênero, nesse caso, é importante: não só o permanente chegou às gerações mais jovens, como também conquistou os garotos. E isso pode ser facilmente comprovado onde as tendências realmente ganham destaque: nas redes sociais. Basta digitar #permmen, #menperm, #hairperm, #permanentkrull ou Broccoli Hair na busca do TikTok para perceber que algo está mudando — ou já mudou.
Muito mais do que uma curiosidade
O fenômeno está suficientemente difundido e consolidado a ponto de ter deixado marcas além dos reels ou publicações no TikTok e Instagram. Alguns veículos internacionais como The Guardian, Fast Company, GQ, The Sydney Morning Herald, NPR e El País já publicaram reportagens abordando o sucesso dos permanentes entre os bros. E isso é só o começo de uma longa lista de investigações que tentam explicar por que os jovens da Geração Z incorporaram o permanente ao seu arsenal identitário.
A tendência, é claro, também despertou interesse nos salões de cabeleireiro e escolas de estética, que não estão alheios à mudança. "Houve um tempo em que eu fazia sete ou oito permanentes espirais por dia em mulheres, mas os homens raramente pediam. Agora, o setor mudou e os homens estão pedindo mais permanentes", admitiu há alguns meses Danielle Tedesco, professora de cabeleireiro e barbearia na Tafe NSW, na Austrália.
Outro estilista do país afirmou estar recebendo clientes entre 16 e 27 anos interessados em adicionar volume aos cortes mullet clássicos que se popularizaram nos anos 80 e voltaram com força entre os mais jovens. "Houve um grande aumento na procura por permanentes nos últimos oito meses. Agora os barbeiros oferecem esses tratamentos, o que é ótimo para quem se sente desconfortável em ir a um salão de beleza".
O fato de o permanente ter voltado não significa, é claro, que os jovens estejam buscando o mesmo visual dos metaleiros dos anos 80. Na verdade, ao longo dos últimos meses e anos, surgiram expressões que dão uma ideia dos estilos que estão em alta: “Zoomer Perm”, “Alpaca Haircut”, “ninho de pássaro”, “bussin cut” e, provavelmente o mais popular, “Broccoli Perm”, que pode ser traduzido como “permanente brócolis” ou simplesmente “corte brócolis”.
Brócolis, um ícone estético?
Mais ou menos. A expressão é tão gráfica que praticamente dispensa explicações e pode ser facilmente identificada nos penteados de muitos jovens da Geração Z. O termo “brócoli” vem da forma e do estilo do penteado, com laterais curtas e cachos longos em camadas na parte superior, penteados para frente. O resultado lembra um brócolis com seus floretes. No TikTok, há muitos exemplos. E memes.
O sucesso dos permanentes e do corte brócoli entre os mais jovens gerou muitos comentários há alguns meses, quando os fãs de filmes de super-heróis se depararam com uma surpresa na versão de Superman de James Gunn que será lançada este ano: uma foto das gravações mostrava David Corenswet (de 31 anos) caracterizado como Clark Kent com um visual um pouco diferente do exibido por Christopher Reeve, Brandon Routh e Henry Cavill ao interpretar o mesmo personagem em filmes anteriores.

"Cruzamos um limite"
Nada de franjinha pega-rapaz, cabelo cuidadosamente penteado e volume discreto. O Clark Kent de James Gunn aparece com um cabelo bagunçado, um exemplo claro de “corte brócolis”. Na verdade, embora seja apenas uma curiosidade, hoje a imagem de Corenswet como Clark Kent ilustra o verbete sobre esse tipo de corte de cabelo na Wikipedia.
"É a primeira vez que vejo uma moda da Geração Z não em alguém explicitamente da Geração Z, mas em uma figura icônica da cultura pop", reflete Matthew Ellis, professor de estudos de comunicação em Portland, durante uma entrevista à GQ. "Quando vi que até o Superman tinha esse corte de cabelo, pensei: 'Ok, algo aconteceu. Cruzamos um limite'".
Corenswet talvez seja um dos exemplos mais midiáticos dos últimos meses. Mas há outros. Desde influencers ativos nas redes, como Noah Beck, Jack Doherty e Bryce Hall, a esportistas com a visibilidade de Harvey Elliott e Darcy Byrne-Jones, além de atores de sucesso como Timothée Chalamet, Jeremy Allen White e Paul Mescal, sem falar nas estrelas do K-Pop. Com tantos exemplos, a pergunta é óbvia… De onde surgiu tudo isso?
Há quem relacione o fenômeno à estética e à influência do K-Pop e com o papel que os permanentes historicamente desempenham nos penteados masculinos nas comunidades asiáticas. Outros atribuem o sucesso à visibilidade conquistada por esses grupos nos últimos anos nos EUA por meio do TikTok. Há ainda quem associe o corte à pandemia ou, simplesmente, às suas praticidades e vantagens.
O que parece claro é que essa tendência já tem um certo histórico, podendo ser rastreada pelo menos até 2020, e está ligada a uma ideia antiga que Pascal Matthias, professor de moda da Southampton University, mencionou recentemente nas páginas do The Guardian: "Você pode ter dinheiro, riqueza e poder, mas ter um bom cabelo sempre esteve associado a masculinidade, virilidade e identidade". Por enquanto, o permanente brócolis conquistou um feito alcançado por poucos: ganhou a aprovação do Superman.
Imagens | Krystee Clark (Flickr) e Erik Drost (Flickr)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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