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Rússia, China e Coreia do Norte têm armas hipersônicas; os EUA decidiram defender-se com o seu próprio Domo de Ferro

Apesar do alcance ambicioso do projeto, a possibilidade de construir um escudo antimísseis invulnerável continua incerta

EUA querem sistema avançado e complexo de interceptação de mísseis / Imagem: Israel Ministry
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Na era Reagan, os EUA propuseram um desses planos de defesa que renderiam um filme. O projeto era tão grandioso que os meios de comunicação o chamaram de "Iniciativa Star Wars", devido às semelhanças com o que parecia ser um escudo espacial. Agora que Trump chegou ao poder, o país revive de certa forma aquela ideia pomposa, embora talvez de maneira menos esdrúxula.

Uma cópia de Israel

O que se sabe até o momento é que Donald Trump assinou uma ordem executiva para desenvolver um sistema de defesa antimísseis semelhante ao Iron Dome (Cúpula de Ferro) de Israel, argumentando que as ameaças balísticas representam o maior perigo para a segurança nacional dos Estados Unidos.

Assim, da mesma forma que com o "novo" Golfo da América, o projeto seria realizado sob o nome de "Iron Dome for America", uma ordem que instrui o Pentágono a apresentar, em 60 dias, um plano detalhado que inclua o desenvolvimento acelerado de mísseis hipersônicos e o desdobramento de interceptores espaciais. O problema? Muitos especialistas questionam a viabilidade da proposta, apontando que a geografia e o tamanho do país tornam inviável a replicação de um sistema como o israelense, projetado para um território significativamente menor e ameaças de curto alcance.

Desempoeirando Star Wars

Além disso, como mencionamos no início, o plano de Trump também parece retomar a visão de Ronald Reagan com sua Iniciativa de Defesa Estratégica, conhecida como "Star Wars", que fracassou após consumir bilhões de dólares sem resultados concretos. Seu objetivo era interceptar mísseis inimigos antes que atingissem seu alvo, eliminando a necessidade de uma retaliação nuclear. No entanto, o programa foi cancelado nos anos 90 devido à sua inviabilidade técnica e aos altos custos. Apesar disso, algumas de suas ideias perduraram nos atuais sistemas de defesa, como o Ground-Based Midcourse Defense (GMD), embora sua taxa de sucesso ainda seja limitada.

Nesse sentido, críticos como Sidharth Kaushal, no New York Times, alertam que um escudo antimísseis em escala nacional poderia ser economicamente insustentável, enquanto Marion Messmer ressalta as dificuldades técnicas de interceptar mísseis lançados de múltiplas direções e plataformas, incluindo submarinos. Mais uma vez, os Estados Unidos não são Israel.

O plano de Trump enfatiza o uso de interceptores e sensores espaciais, sistemas de defesa antes do lançamento (left-of-launch) e armas de energia dirigida, como lasers. Empresas como Lockheed Martin, Northrop Grumman e RTX já demonstram interesse no projeto, destacando avanços recentes na defesa com lasers para mísseis de cruzeiro.

Ameaças e desafios estratégicos

Embora a ordem não especifique quais países são considerados ameaças, presume-se que se tratem dos velhos conhecidos. A saber: Rússia, China, Irã e, possivelmente, Coreia do Norte (ainda resta ver como será a relação com Trump no poder), nações que desenvolvem arsenais cada vez mais sofisticados, incluindo mísseis hipersônicos capazes de driblar as defesas atuais.

Em Washington, a ideia de reforçar a defesa antimísseis conta com certo apoio, e especialistas como Robert Soofer defendem que a abordagem atual é insuficiente diante da crescente capacidade ofensiva desses países. De qualquer forma, o objetivo é claro: as armas hipersônicas, com trajetórias irregulares e velocidades extremas, representam um desafio significativo para os sistemas defensivos tradicionais. Além disso, o vasto arsenal nuclear da Rússia, com cerca de 1.700 ogivas implantadas (e o cada vez maior arsenal da China), poderia superar qualquer escudo antimísseis.

Guam como teste inicial

Enquanto a defesa antimísseis dos Estados Unidos ainda está na fase de planejamento, o território de Guam, um enclave estratégico no Pacífico, avançou na implementação de um sistema de defesa em camadas. A ilha, que abriga bases militares-chave, está a menos de 3.000 km da China e da Coreia do Norte, países que foram citados como alvos em exercícios militares e ameaças.

Em dezembro, o exército dos EUA realizou com sucesso a primeira interceptação de um míssil balístico a partir da ilha, utilizando o Aegis Guam System, um sistema terrestre que já se mostrou eficaz em navios da Marinha. Além disso, o sistema THAAD (Terminal High Altitude Area Defense) e as baterias Patriot serão integrados para formar um escudo defensivo de 360 graus, capaz de enfrentar mísseis balísticos, hipersônicos e de cruzeiro. Esse sistema, embora avançado, levará pelo menos uma década para ser concluído, refletindo a complexidade de construir um escudo semelhante em nível nacional.

A grande incerteza

Sem dúvida, neste momento e na ausência de detalhes na ordem executiva, permanece em aberto a possibilidade de que a administração Trump opte por um desdobramento gradual, aumentando o investimento em programas existentes em vez de desenvolver um sistema completamente novo.

De qualquer forma, o debate sobre a viabilidade e os custos de um projeto dessa magnitude está sobre a mesa. Mas fica a ressalva de que um plano desse porte poderia ser economicamente inviável e ainda não ofereceria uma solução eficaz para a crescente ameaça de mísseis de longo alcance. Isso sem contar o tamanho dos Estados Unidos para implantar uma Cúpula de Ferro nos moldes convencionais.

Imagem | Israel Ministry

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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