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Enquanto se preparam para competir na China, os atletas noruegueses enfrentam um inimigo invisível: o doping na carne

  • Os atletas noruegueses vão evitar consumir carne durante sua estadia na China por medo de ingerir uma substância proibida.

  • A ameaça do clembuterol volta à cena: um antigo problema de doping alimentar que hoje condiciona a dieta dos atletas de elite.

Clenbuterol em atletas de elite. Imagem: Sandro Halank y Marcos González
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Quando se compete no mais alto nível, é preciso ter um cuidado extremo com a questão do doping. Um exemplo claro disso foi o caso do tenista Jannik Sinner, que aceitou uma suspensão de três meses após testar positivo. O atual número um do tênis alegou que o resultado foi acidental, causado por uma massagem feita por seu ex-fisioterapeuta.

Esse tipo de situação reflete a crescente preocupação em torno do doping, algo que agora está afetando também a equipe de revezamento da Noruega na China por conta da carne.

Doping na carne

Em maio, duas grandes competições de atletismo acontecerão na China: o Mundial de Revezamentos em Guangzhou e a Diamond League em Xangai. Em meio aos preparativos para a viagem, surgiu uma preocupação concreta entre os atletas: o risco de que a carne no país esteja contaminada com clembuterol, uma substância proibida.

Por esse motivo, a Olympiatoppen, divisão do Comitê Olímpico e Paralímpico Norueguês, alertou seus atletas para que redobrem os cuidados e evitem consumir carne local durante a estadia.

Uma substância perigosa

Embora tenha baixa probabilidade de gerar um resultado positivo em testes, o clembuterol é uma substância proibida pela Agência Mundial Antidoping. Seu uso principal é como broncodilatador em animais de criação para tratar problemas respiratórios. No entanto, seu uso se tornou polêmico por causa dos efeitos anabólicos, que favorecem o aumento da massa muscular e a redução de gordura.

Em muitos países, como a China, o clembuterol foi usado ilegalmente para melhorar o rendimento dos animais destinados ao consumo humano, segundo informações da agência de notícias.

O risco é ainda maior

O problema surge quando os atletas consomem carne contaminada com clembuterol, já que a substância pode permanecer no alimento mesmo após o abate dos animais e, se não forem tomadas as devidas precauções, os esportistas podem ingeri-la sem saber.

Embora os efeitos do clembuterol sejam mais perceptíveis em doses altas, sua presença em pequenas quantidades pode ser suficiente para desencadear um resultado positivo nos testes antidoping, devido às suas propriedades anabólicas que impactam o desempenho físico.

Os atletas tomam precauções

As atletas norueguesas Henriette Jaeger, medalhista de bronze no Mundial, e Josefine Tomine Eriksen declararam à emissora norueguesa NRK que confiam nos especialistas: "Eu gosto muito de comer carne, mas é preciso ouvir os profissionais e confiar neles", afirmou Jaeger.

Eriksen, por sua vez, disse que levará barras de proteína e carne seca da Noruega para suprir suas necessidades nutricionais. A Olympiatoppen também alertou sobre a importância da higiene alimentar durante a estadia no país asiático, recomendando que os atletas consumam alimentos apenas em restaurantes e hotéis de alta qualidade.

Um problema que já vem de antes

Não é a primeira vez que a China se vê envolvida em polêmicas relacionadas ao doping. Há quatro anos, a natação do país esteve sob escrutínio internacional após a revelação de que 23 nadadores testaram positivo para trimetazidina, uma substância proibida.

Embora as autoridades chinesas tenham atribuído os resultados a uma contaminação alimentar acidental e os atletas não tenham sido sancionados, o caso gerou desconfiança internacional sobre a transparência e a rigidez dos controles antidoping no país.

Mas também é um problema global

A preocupação em torno dessa substância também foi registrada em outros países, segundo o South China Morning Post. De fato, a World Athletics, entidade máxima do atletismo mundial, indicou em entrevista à ABC News que atletas e equipes estão cientes desses riscos e adotam as precauções necessárias.

Sem resposta oficial

No entanto, conforme relatado pela Reuters, o veículo tentou obter uma resposta oficial da Associação Chinesa de Atletismo, mas não recebeu nenhum posicionamento. O silêncio por parte das autoridades destacou ainda mais a incerteza sobre como o problema será tratado no futuro.

Um tema que vai além do esporte

A possibilidade de uma contaminação alimentar é um risco real para os atletas, mas também se tornou uma das desculpas mais comuns quando se deparam com um resultado positivo em exames antidoping. O caso do tenista Sinner foi especialmente polêmico: apesar de alegar doping acidental causado por uma massagem, ele foi suspenso por apenas três meses, uma punição que muitos dentro do tênis consideraram excessivamente branda.

E esse argumento está longe de ser novidade. Em 2010, o ciclista Alberto Contador afirmou ter ingerido carne contaminada com clembuterol em Irún, mas acabou sendo sancionado da mesma forma, perdendo o título do Tour de France de 2010 e do Giro d’Italia de 2011. Em um cenário onde a linha entre negligência e trapaça intencional se torna cada vez mais difícil de definir, o debate sobre o doping alimentar não apenas continua em aberto: ele se torna cada vez mais incômodo.

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