Após o choque laboral que representou a mudança repentina para o trabalho remoto durante a pandemia, as empresas buscam reencontrar um equilíbrio para enfrentar o próximo grande desafio: aproveitar a eficiência que a tecnologia oferece e conseguir reduzir a jornada para 32 horas semanais.
A principal aposta está na jornada de trabalho de quatro dias, mas nem todos os setores podem se permitir abrir mão de um dia na semana — por isso, já estão sendo consideradas outras alternativas.
No Brasil, a jornada de trabalho de 8 horas em 5 dias foi estabelecida pela primeira vez com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), promulgada em 1º de maio de 1943. No entanto, os últimos estudos elaborados pela entidade 4 Day Week Global indicam que o modelo de 8 horas está obsoleto, pois o tempo real dedicado ao trabalho se aproxima mais de 33 horas. As 7 horas restantes são apenas mero presentismo laboral e tempo perdido em tarefas não otimizadas.
Esses dados servem de base para quem defende o modelo de jornada de trabalho de 32 horas (ou de 4 dias) como o que melhor se ajusta às necessidades de empresas e trabalhadores, proporcionando flexibilidade laboral, bem-estar e um aumento na produtividade.
A semana de 4 dias exclui muitas pequenas e médias empresas
Na Espanha, um dos problemas na adoção da semana de 4 dias é a própria natureza do tecido industrial. Segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo de abril de 2023, 54,45% das empresas na Espanha são pequenas, unipessoais e sem empregados, ao passo que 38,7% são pequenas e médias empresas com 1 a 9 trabalhadores com margens de lucro muito apertadas. Muitas delas se baseiam no atendimento direto ao público, tornando o modelo de 4 dias nem sempre viável.
Em contrapartida, nesses casos, surge uma nova proposta: em vez de distribuir a jornada em 4 dias de 8 horas, fazê-lo em jornadas de 6 horas e meia ao longo de 5 dias da semana. Esse modelo já foi testado na Suécia com resultados positivos — muitas empresas o utilizam durante os meses de verão.
A primeira medida: otimizar a jornada
Antes de iniciar os diferentes programas piloto da semana de trabalho de 4 dias, que já foram implementados em várias partes do mundo, incluindo no Brasil, todas as empresas devem passar por um período de formação e otimização de seus processos. É impossível realizar em 4 dias o que antes era feito em 5 sem aplicar algumas mudanças.
Esse processo se baseia em incentivar o comprometimento dos funcionários e em melhorar a produtividade utilizando as ferramentas tecnológicas adequadas para cada empresa, além de otimizar cada processo na empresa para evitar duplicidades ou gestões desnecessárias. Em resumo, é necessário garantir que cada minuto passado no trabalho seja produtivo.
Melhor conciliação, maior compromisso
Os resultados do teste piloto da semana de trabalho de quatro dias no Reino Unido indicaram que a redução da jornada laboral traz benefícios tanto para empresas quanto para trabalhadores — uma jornada de trabalho mais próxima da realidade permite que 54% dos empregados conciliem melhor a vida familiar e profissional. Com mais tempo livre para realizar atividades físicas e de lazer, 39% afirmaram estar menos estressados e 71% reduziram sua fadiga laboral. Isso impactou diretamente na diminuição de 65% nos dias de ausência por licença médica.
O estudo de longo prazo sobre a redução da jornada laboral fornece também dados reveladores sobre a satisfação dos funcionários: caíram em 57% a rotatividade e a intenção de demissão nas empresas que adotaram essa medida.
Texto traduzido e adaptado do site Xataka Espanha
Imagem | Pexels (Andrea Piacquadio)
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