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Em meio a uma crise histórica, a Volkswagen tomou uma decisão arriscada: investir US$ 6 bilhões na Rivian

  • A empresa americana vale menos de um décimo do que valia há três anos

  • A Volkswagen quer aprender tudo o que for possível sobre desenvolvimento de software, seu grande ponto fraco nos últimos anos

Volks vai colocar mais R$ 5 bilhões na Rivian / Imagem: Rivian
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

"Podemos ter certeza de que essa não será a próxima forma de enterrar um bilhão de euros?"

Essa é, segundo a Bloomberg, a pergunta feita por Daniela Cavallo, presidente do Comitê de Empresa, após a notícia de que a Volkswagen irá investir na Rivian não apenas os 5 bilhões de dólares (R$ 31 bilhões) iniciais que havia anunciado. A empresa aumentará esse gasto em mais 800 milhões de dólares (R$ 5 bilhões).

O momento é especialmente delicado. A companhia já havia anunciado há alguns meses que estava implementando um plano de economia de 10 bilhões de euros (R$ 64 bilhões). As consequências, como era de se esperar, já estão sendo sentidas pelos trabalhadores. A Audi está determinada a fechar sua fábrica em Bruxelas e a Volkswagen colocou na mesa o fechamento de outras três plantas na Alemanha.

Além da demissão de uma força de trabalho que, na Alemanha, soma 120 mil empregados, a Volkswagen também confirmou que planeja reduzir o salário de seus trabalhadores em 10%. A eliminação dos Porsche como carro de uso corporativo para os executivos quase soa como uma piada.

E, em meio a essa tempestade, a Volkswagen aumentará sua aposta na Rivian, somando quase mais 1 bilhão de dólares (R$ 6,1 bilhões) a uma empresa que perdeu mais de 90% de seu valor nos últimos três anos.

Uma aposta muito arriscada

Para entender a preocupação dos trabalhadores da Volkswagen em relação ao investimento da empresa na Rivian, é preciso voltar três anos no tempo. Em 2021, a Rivian era uma das grandes promessas do carro elétrico e estava avaliada em 150 bilhões de dólares (R$ 930 bilhões). Havia uma relação curiosa: mesmo sem receitas, a Rivian chegou a se tornar a terceira montadora mais valorizada na bolsa de valores em todo o mundo.

O grande trunfo da Rivian até agora tem sido seu software. Como tantas outras empresas, ela enfrentou problemas ao tentar colocar sua linha de produção em funcionamento, mas sua plataforma digital é tão promissora que chegou a ser associada ao especulado carro da Apple (que nunca se concretizou).

No entanto, a empresa teve que abrir mão de 10% de sua força de trabalho para continuar existindo, apesar de anunciar cada vez mais lançamentos para o futuro. Certamente, o estancamento nas vendas de carros elétricos e as ameaças de Donald Trump de retirar os subsídios para a compra desses veículos não pintam um cenário muito promissor.

Mas o que a Volkswagen realmente quer adquirir com esse movimento é todo o conhecimento da Rivian em software. A empresa tem vivido em meio a um caos que atrasou o lançamento de modelos como o Porsche Macan elétrico e o Audi Q6 e-tron. A Cariad, que deveria liderar essa parte do negócio, enfrenta milhares de demissões.

Sabe-se que a joint venture criada entre a Volkswagen e a Rivian empregará mil pessoas, sendo que a maioria delas virá da empresa americana. Além disso, como já mencionamos sobre o suposto interesse da Apple, trata-se de um alívio financeiro para a Rivian, permitindo que siga adiante com o lançamento do R2 em 2026, um SUV que deverá chegar ao mercado por 45.000 dólares (R$ 280 mil).

Ao mesmo tempo, a Volkswagen ganha o know-how da Rivian em software, o que deve ajudá-la a evitar os grandes erros cometidos nos últimos anos. Mas, acima de tudo, a montadora alemã ganha agilidade e a possibilidade de lançar novos SUVs compactos a um custo mais baixo, segundo a Reuters.

Além disso, não podemos esquecer que Donald Trump já ameaçou aumentar as tarifas sobre carros que não sejam fabricados nos Estados Unidos. Isso afetaria gravemente os veículos europeus. Porém, juntando forças com a Rivian, a Volkswagen poderia continuar lançando modelos no mercado norte-americano, driblando esse custo adicional.

Ainda assim, é importante lembrar que o apoio e as expectativas colocadas sobre a Rivian hoje são muito menores do que há três anos. Na época, ela era vista como a nova Tesla, mas perdeu grande parte de seu valor nesse período. Obviamente, isso facilitou a entrada da Volkswagen na empresa, mas levanta dúvidas sobre o quanto realmente será possível aproveitar dessa parceria.

Imagem | Rivian

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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