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Passeio fúnebre: há quem leve restos mortais para a Disney; entenda por que

Há um grande número de pessoas que visitam os parques da Disney todo ano como se fossem um cemitério.

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Ao lado de "lenda urbana", sempre deveria aparecer a palavra Disney, e isso faz total sentido. Afinal, é "a megacorporação" do entretenimento familiar, para o bem e para o mal. Ao longo de sua história, a marca Disney foi acompanhada de todo tipo de relatos, alguns verídicos, outros nem tanto.

Desde a criogenização do tio Walt até a compra de terras para cidades distópicas ou a criação de túneis secretos, tudo é possível. Uma dessas histórias, por exemplo, falava de algo bastante sombrio relacionado aos seus parques.

Aconteceu que era ainda pior.

O segredo melhor guardado

A história que circulava, mais uma entre tantas, e que, como tal, era considerada uma lenda urbana sem maiores fundamentos, dizia que muitas pessoas que visitavam os parques Disney sentiam tanta adoração pelo universo Disney que acabavam espalhando as cinzas de seus entes queridos nos recintos.

Como história, não poderia ser mais sombria, mas o Wall Street Journal decidiu investigar para ver se o relato tinha algum fundo de verdade. E, surpreendentemente, tinha.

O que descobriram em uma reportagem publicada há alguns anos foi que os parques temáticos da Disney, mundialmente conhecidos como lugares de "magia, diversão e memórias inesquecíveis", também podem ser uma verdadeira distopia.

Por trás dos sorrisos e das atrações icônicas, existe um fenômeno pouco conhecido, mas surpreendentemente frequente: de fato, há visitantes que espalham as cinzas de seus entes queridos no parque como uma forma de tributo final.

Para essas famílias, a Disney não é apenas um destino turístico, mas um lugar profundamente significativo, carregado de memórias que desejam preservar para sempre.

Códigos secretos

Parece que, até mesmo entre os funcionários de limpeza da Disney, existe um código específico para lidar com situações delicadas. E não é brincadeira. O veículo relatou que o "Código V" se refere a vômitos, enquanto o "Código U" faz alusão à urina.

No entanto, o código mais reservado e difícil de classificar de todos é o chamado "HEPA cleanup", que ativa o uso de aspiradores ultrafinos projetados para recolher partículas minúsculas, incluindo, atenção, cinzas humanas.

Sim, de acordo com trabalhadores do parque, essas limpezas acontecem pelo menos uma vez por mês e ocorrem em áreas emblemáticas, como as zonas de Pirates of the Caribbean, It's a Small World e, mais frequentemente, no castelo Haunted Mansion. Aliás, esta última, conhecida pela sua temática fantasmagórica, oferece o material perfeito para alimentar pesadelos.

Aparentemente, se tornou o local preferido para esse tipo de ritual, tanto que um funcionário comentou ao jornal: "Provavelmente tem tantas cinzas humanas que já não tem mais graça."

Tributos e conexões familiares

Há muito mais. Podemos intuir que, para muitas famílias, a Disney não é apenas um parque de diversões, mas o cenário de seus momentos mais felizes. Até que ponto? Jodie Jackson Wells, por exemplo, decidiu homenagear sua mãe, que adorava It's a Small World, espalhando suas cinzas perto de um pássaro animatrônico que sempre a fazia rir.

Mais tarde, em um momento de emoção, a mulher jogou punhados de cinzas nos jardins próximos ao castelo da Cinderela. "Queria que ela estivesse no seu lugar feliz", explicou ao veículo.

E tem mais. Caryn Reker, outra visitante, lembrou-se de seu pai ao espalhar suas cinzas em vários pontos do parque, especialmente perto do espetáculo de fogos de artifício que ele tanto amava. "É uma forma doce de lembrá-lo", comentou. "Está aqui... e lá... e um pouco mais além também", indicava.

Claro, estamos falando de cerimônias clandestinas que, para muitos, são um ato simbólico de amor e despedida, tornando a Disney algo mais do que um simples parque temático. Inclusive a atriz Whoopi Goldberg confirmou que espalhou as cinzas de sua mãe em uma atração da Disneyland, fingindo um grande espirro.

E o que diz a Disney?

Embora os visitantes vejam esses atos como tributos emocionantes, na realidade, a companhia proíbe expressamente essa prática e a considera ilegal. Segundo uma porta-voz do parque, "esse comportamento é estritamente proibido".

Na verdade, quando as cinzas são descobertas, as atrações são temporariamente fechadas sob a justificativa de "dificuldades técnicas", e um gerente percorre o local em busca de restos antes que a equipe de limpeza intervenha com aspiradores especiais. Em alguns casos, o pessoal criou uma frase própria para descrever esses incidentes: "Código Grandma" (Código Vovó).

No entanto, o relatório apontava que nem sempre essas atividades são detectadas. Os visitantes costumam ser mais criativos do que se imagina ao esconder as cinzas antes de entrar, por exemplo, em frascos de remédio, bolsas de maquiagem ou no fundo das mochilas.

Além disso, nenhuma das famílias entrevistadas acreditava que os funcionários as tivessem pegado em flagrante, o que sugere que muitas dessas despedidas passam despercebidas.

Disney como algo mais

O que parece bastante claro é que, para muitos, a Disney representa um espaço onde os laços familiares se fortalecem e as memórias se eternizam. Alguns visitantes, como Shanon Himebrook, lembravam como seu pai, normalmente exausto de seu trabalho noturno, se transformava na Disney:

"Era o papai que me comprava as orelhas do Mickey e se emocionava com cada detalhe. Eu queria ficar com esse pai para sempre." Esse vínculo emocional tornava o parque o lugar perfeito para homenageá-lo e relembrá-lo.

Em outros casos, o ato de espalhar as cinzas tem uma natureza mais catártica, por assim dizer, tornando-se uma experiência até terapêutica. Marty Lurie, por exemplo, levou as cinzas do amigo de seu pai em uma bolsa dentro de sua câmera.

Para animar seu pai, que estava deprimido pela perda, ele incluiu a bolsa em fotos com personagens como Mickey Mouse e Pateta, até mesmo levando-a nas atrações. "Foi um momento de cura para ele", explicou.

Conclusão

Em resumo, apesar da proibição, o fenômeno persiste até hoje. Não parece, portanto, uma moda, mas algo que a "marca" Disney é capaz de gerar entre gerações de fãs.

Embora possa parecer algo sinistro para muitos, para muitos outros, a visita ao parque se tornou um lugar de peregrinação, um local onde, em vez de visitar um cemitério, eles vão a uma atração para homenagear seus entes queridos falecidos.

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