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China descobre fonte de energia ‘inesgotável’ que poderia abastecer o país por 60 mil anos

Nova fonte de tório encontrada na Mongólia pela china pode gerar energia para mais de 30 anos | Imagem Julia Volk (Pexels)
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Igor Gomes

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Subeditor do Xataka Brasil. Jornalista há 15 anos, já trabalhou em jornais diários, revistas semanais e podcasts. Quando criança, desmontava os brinquedos para tentar entender como eles funcionavam e nunca conseguia montar de volta.

Pesquisadores chineses afirmam ter encontrado uma fonte de energia praticamente ilimitada que poderia garantir eletricidade para o país pelos próximos 60 mil anos. O mineral em questão é o tório, um elemento radioativo abundante que, quando utilizado em reatores nucleares de sal fundido, pode gerar enormes quantidades de energia de forma mais segura e eficiente do que os reatores convencionais.

O achado ocorreu no complexo de mineração Bayan Obo, na Mongólia Interior, onde cientistas estimam que haja 1 milhão de toneladas de tório disponíveis para extração. De acordo com um relatório desclassificado obtido pelo South China Post, esses recursos, até então negligenciados, poderiam representar uma revolução energética global, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e, possivelmente, eliminando a necessidade de exploração de urânio.

A descoberta acontece em um momento de intensa corrida tecnológica entre China, Estados Unidos e Rússia, que buscam consolidar o domínio da energia nuclear como pilar de suas matrizes energéticas. No mesmo período, o governo dos EUA fechou um acordo com a Ucrânia para explorar suas reservas de minerais raros, aumentando ainda mais a disputa por recursos estratégicos.

A promessa do tório como combustível do futuro

Diferente do urânio-235, utilizado nos reatores convencionais, o tório não é fissível por conta própria, ou seja, não pode iniciar uma reação nuclear espontaneamente. No entanto, quando bombardeado por nêutrons, ele se transforma em urânio-233 (U-233), um material que pode sustentar a fissão e gerar grandes quantidades de calor para produzir eletricidade.

Os chamados reatores de sal fundido de tório (TMSR, na sigla em inglês) prometem revolucionar a energia nuclear por diversos fatores:

  • Maior segurança: Esses reatores operam em temperaturas extremamente altas, mas mantêm o combustível diluído em sais líquidos, reduzindo o risco de explosões e derretimentos nucleares como o de Chernobyl.
  • Menos lixo radioativo: A queima do tório gera significativamente menos resíduos nucleares do que os reatores tradicionais.
  • Eficiência energética superior: Segundo a Associação Nuclear Mundial, o tório pode gerar até 200 vezes mais energia do que o urânio e é 500 vezes mais abundante.
  • Abundância global: O tório é encontrado em grande quantidade na crosta terrestre, e seu uso poderia eliminar a necessidade de extração de urânio, um processo caro e ambientalmente agressivo.

Uma alternativa viável ou um desafio logístico?

O entusiasmo em torno do tório não é novidade. Desde o século passado, cientistas discutem a viabilidade desse combustível para reatores nucleares, mas obstáculos tecnológicos e econômicos dificultaram sua implementação. O principal problema reside no alto custo de pesquisa e desenvolvimento, além da necessidade de criar novas infraestruturas para operar esses reatores.

A própria China já possuía estimativas de que suas reservas de tório poderiam sustentar o país por 20 mil anos, mas agora o novo relatório sugere que esse número poderia ser três vezes maior. No entanto, o país ainda precisa superar desafios técnicos para tornar o uso do tório economicamente viável.

A corrida pelo domínio da nova energia nuclear

A China não está sozinha nessa busca. Os Estados Unidos já testaram diversos ciclos de combustível baseados em tório e continuam investindo na tecnologia. A Rússia também explora o uso de tório em seus programas de energia nuclear avançada.

O projeto chinês mais ambicioso até agora é a construção do primeiro reator de tório em larga escala, localizado no Deserto de Gobi. O reator deverá gerar 10 megawatts de eletricidade e servir como modelo para futuras expansões. Pequim alega que o sistema estará operacional até 2029, representando um passo significativo rumo à independência energética do país.

Embora o tório seja visto como uma solução promissora, especialistas alertam que ele não elimina totalmente os desafios da energia nuclear. A extração e processamento do elemento continuam sendo caros, e o desenvolvimento de infraestrutura para sua aplicação em larga escala pode levar décadas.

Energia ‘infinita’ ou uma nova forma de concentração de poder?

Para além dos benefícios técnicos, o avanço na exploração do tório também levanta questões geopolíticas. O domínio dessa tecnologia por parte da China poderia mudar o equilíbrio energético global, reduzindo a influência de países tradicionalmente dependentes de combustíveis fósseis e impulsionando novas alianças estratégicas.

Um pesquisador chinês, que falou ao South China Post sob anonimato, reforçou a importância dessa descoberta, destacando que "toda nação possui tório", o que poderia tornar a energia nuclear mais acessível a diversos países.

Se bem-sucedida, a iniciativa chinesa pode colocar o país na dianteira de uma nova era da energia nuclear. No entanto, a história mostra que o controle sobre fontes energéticas sempre esteve no centro de disputas globais. A promessa de uma energia quase ilimitada pode representar o futuro da sustentabilidade – ou apenas o início de uma nova corrida pelo poder.

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