Nove executivos da Nokia perceberam a ameaça que o iPhone representava. Se a empresa tivesse tomado providências naquela época, seguindo as observações dessas pessoas, talvez a operadora tivesse a chance de um destino diferente.
Um dia após a revelação do iPhone, executivos da Nokia fizeram uma apresentação e sua conclusão foi clara: "A interface do usuário pode ser a maior ameaça que o iPhone apresenta". Esse documento, ao que tudo indica, foi ignorado pela alta cúpula da multinacional finlandesa.
Já se passaram 18 anos desde então, mas essa história só veio à tona recentemente. Em janeiro, a Nokia tornou público seu Arquivo de Design no site da Universidade de Aalto, na Finlândia. Além de uma infinidade de designs oficiais e não oficiais, patentes, conceitos e outras informações valiosas, o arquivo também inclui o documento confidencial (descoberto por Fahad X) que revela a reação de nove executivos da Nokia ao lançamento do iPhone.
Não se sabe se essa apresentação deveria estar no arquivo, mas Fahad X já fez um backup do documento, caso ele seja removido.
O iPhone e sua ameaça iminente à Nokia
O iPhone foi apresentado em 9 de janeiro de 2007 por Steve Jobs na MacWorld Expo, em Cupertino, Califórnia. Logo no dia seguinte, 10 de janeiro, nove executivos da Nokia entregaram uma apresentação intitulada "Apple iPhone foi lançado". A conclusão da análise detalhada foi direta: "O iPhone da Apple é um sério concorrente no segmento premium". O principal fator que tornava isso realidade era a interface de usuário.

O documento contém declarações importantes:
- A interface de usuário com tela sensível ao toque do iPhone pode estabelecer um novo padrão de ponta.
- A nova interface de usuário pode redefinir os padrões da experiência premium para todo o mercado.
- O analista Avi Greengart descreveu a interface do iPhone como "visualmente impressionante e incrivelmente responsiva".
- A interface de usuário sempre foi uma grande força da Nokia, por isso, a IU pode ser a maior ameaça que o iPhone apresenta.
Não se tratava apenas de uma análise das vantagens e desvantagens do iPhone. Os executivos também fizeram recomendações sobre como a Nokia deveria reagir ao lançamento do aparelho, e, mais uma vez, o foco estava na interface de usuário:
- Priorizar o desenvolvimento da interface de usuário sensível ao toque, simplificar a funcionalidade básica e aprimorar a suíte para PC.
- A Nokia precisa de um designer-chefe de interface de usuário.
- A Nokia deve desenvolver uma interface de usuário com tela sensível ao toque para responder à ameaça. O S60 deveria ser o foco principal, mas a plataforma Maemo poderia se tornar uma peça-chave devido à sua abertura.

Os executivos da Nokia já tinham uma arma pronta para enfrentar o iPhone: o Nokia N800, um dispositivo que "compete quase na mesma área", devido à sua tela sensível ao toque e que até "poderia roubar um pouco da genialidade do iPhone", por conta da semelhança na combinação de cores preto e prateado.
O resultado inevitável
Embora a interface sensível ao toque do iPhone tenha sido identificada como "a maior ameaça", a apresentação dos executivos da Nokia também detalhava outros aspectos inovadores do então novo celular da Apple.
Outras "grandes inovações" mencionadas incluíam as mais de 200 patentes da Apple usadas no dispositivo, incluindo a integração de acelerômetro e de sensores de proximidade e de luz ambiente. Os executivos também entenderam que o iPhone "poderia mudar o mercado premium" e que "capturaria a atenção da mídia nos EUA", e também que seu impacto começaria a ser sentido em 2008, quando atingiria a marca de 10 milhões de unidades vendidas, equivalentes a 1% do mercado.

No geral, os nove executivos compreenderam corretamente a importância do iPhone e fizeram as recomendações adequadas sobre o que a Nokia deveria ter feito. No entanto, ao que tudo indica, a apresentação passou despercebida ou foi diretamente ignorada pela diretoria da empresa. E o resultado foi o que todos conhecemos. Talvez, se os executivos tivessem sido ouvidos, a Nokia ainda estivesse entre as gigantes do setor.
Em 2007, a Nokia alcançou uma participação de mercado global de 50,9%, segundo dados da Statista. Esse foi o maior domínio que a empresa já teve em sua história, mas ela rapidamente entrou em declínio: em apenas um ano, perdeu 10% do mercado. O desfecho já é bem conhecido.
A Nokia ficou para trás, não conseguiu competir com o iPhone e nem com a Samsung, que crescia impulsionada pelo Android. Seu declínio foi rápido, e, após seis anos de dificuldades, a empresa vendeu sua divisão de dispositivos para a Microsoft. Assim nasceu a marca Microsoft Lumia, que utilizava o Windows Phone. Ainda que o nome Nokia tenha desaparecido, sua essência ainda estava ali.
O negócio não deu certo (pelo menos, não para os Lumia) e, em 2016, a Nokia anunciou seu retorno ao mercado de celulares, agora sob a gestão da HMD Global, que licenciou o uso da marca e adotou o sistema Android. Anos se passaram, diversos dispositivos foram lançados e descontinuados, mas a verdade é que a Nokia nunca conseguiu recuperar sua antiga glória. Em 2024, a empresa se despediu mais uma vez do mercado de celulares: a HMD abandonou o uso do nome Nokia em favor de sua própria marca.
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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