Um coral gospel para abrir a apresentação do Windows XP? Sim, um coral gospel para abrir a apresentação do Windows XP. Estava claro que aquele sistema operacional queria propor algo diferente, e naquele evento em Nova York, a Microsoft foi com tudo. Só havia um problema.
O Windows XP, que era um produto pago, podia ser usado de graça.
A culpa foi de uma chave de ativação muito especial. Ela foi vazada pelo grupo warez Devil's Own — especializado em distribuir cópias ilegais de softwares — e o mais impressionante: isso aconteceu 35 dias antes do lançamento oficial do sistema.
Para divulgar esse vazamento, eles ainda usaram um método inusitado: publicaram uma foto em que uma mão segurava um CD-R, supostamente com uma cópia do Windows XP, e a chave de ativação escrita no próprio disco:
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Também divulgaram o famoso arquivo NFO que costumava acompanhar os pacotes warez, explicando do que se tratava o produto, qual empresa o havia criado e que tipo de cópia era aquela.
No caso desse vazamento, o Devil's Own fez um comentário grosseiro sobre o sistema de proteção, além de oferecer uma imagem ISO compactada em 32 arquivos de 15 MB cada (totalizando 455,1 MB) e a já mencionada chave de ativação.
Essa chave era uma VLK (Volume License Key), um tipo de licença especialmente chamativa porque permitia usar o Windows XP sem precisar ativá-lo por telefone ou pela internet — um processo que, teoricamente, era necessário para começar a usar o sistema.
A chave, que ficou popularmente conhecida pelas suas cinco primeiras letras (FCKGW), hoje está obsoleta e foi bloqueada pela Microsoft em agosto de 2004 com o lançamento do Service Pack 2 do Windows XP.
A partir de então, os computadores que usavam essa chave passaram a exibir notificações do WGA (Windows Genuine Advantage) e não conseguiam mais receber atualizações — embora, mesmo assim, tenham surgido métodos para burlar essa proteção, assim como novas contramedidas por parte da Microsoft.
Eu também sabia essa chave de cabeça
Ainda assim, por anos, tanto o sistema quanto a chave circularam livremente pela internet através de plataformas P2P como o eMule, permitindo que milhões de usuários instalassem e usassem o Windows XP em seus PCs sem pagar pela licença.
A chave de ativação do Windows XP foi tão popular e tão usada que acabou gerando um efeito colateral surpreendente: muita gente simplesmente decorou a sequência. Mesmo anos depois de ter parado de usá-la, bastava vê-la de novo para lembrar perfeitamente.
Usuários do Reddit, por exemplo, já comentavam isso há anos ao celebrar o “aniversário” do vazamento da chave. Um deles se perguntava como, depois de tanto tempo, ainda conseguia se lembrar da sequência.
O mesmo tipo de discussão apareceu em fóruns como o Hacker News e o AnandTech. A famosa chave de ativação, que inclusive tem uma seção própria na Wikipedia, virou parte da nostalgia coletiva de quem usava PC na época — virou meme, aparece em vídeos no TikTok e chegou até a ser sugerida como senha por causa da sua popularidade.
Apesar de não haver dados oficiais, o impacto nas vendas do sistema operacional provavelmente foi significativo. Ainda assim, vale lembrar que, naquela época, o Windows XP era frequentemente vendido junto com novos computadores, tanto desktops quanto notebooks, o que pode ter ajudado a amenizar os efeitos do vazamento.
Além disso, o modelo de negócios da Microsoft era bastante focado em vendas corporativas e licenças OEM — aquelas que já vinham instaladas nos PCs —, o que também ajudou a conter maiores prejuízos.
O que não se sabe ao certo é se o vazamento da chave aumentou ainda mais a popularidade e o uso do Windows XP. Mas uma coisa é certa: o sistema operacional se tornou um dos mais amados pelos usuários.
Ele foi o mais usado do mercado até agosto de 2012, quando foi finalmente superado pelo Windows 7.
Hoje seu uso é praticamente residual, abaixo de 1%, mas ainda assim surgem casos curiosos — como o da Armênia, onde, segundo dados do StatCounter, a participação atual do Windows XP ainda chega perto dos 75%.
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