A arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) é um bicho típico do Brasil, podendo ser observado na Amazônia, no Cerrado e no Pantanal, além de outros países vizinhos, como Bolívia e Paraguai. É também a maior entre os psitacídeos (papagaios, periquitos, araras e maritacas), podendo medir um metro da ponta do bico até a ponta da cauda.
E é também uma grande mentirosa, pois suas penas não são azuis de verdade. Como assim? Bem, é tudo uma questão de física.
A farsa das penas azuis
A verdade nua e crua é que nenhuma ave é azul. "As penas vermelhas e amarelas obtêm sua cor de pigmentos reais, chamados carotenóides, que estão presentes nos alimentos que as aves consomem", afirmou o biólogo Scott Sillett ao Smithsonian. "O azul é diferente — nenhuma espécie de ave pode produzir azul a partir de pigmentos. A cor azul que vemos em uma ave é criada pela forma como as ondas de luz interagem com as penas e sua disposição de moléculas de proteína, chamadas queratina", explica.
O que acontece é um fenômeno da Física chamado difusão, que é muito similar ao que ocorre quando a luz atravessa um prisma. As penas das araras-azuis contêm minúsculas cavidades feitas de ar e uma proteína chamada queratina. Essas cavidades pertencem a um grupo de estruturas minúsculas chamadas nanoestruturas, cujo tamanho varia entre o microscópico e o molecular.

Essas cavidades são tão pequenas que correspondem ao comprimento de onda da luz azul. Quando a luz visível atinge as penas e encontra as nanoestruturas de queratina e ar, todas as outras cores atravessam a pena, mas o azul não. Ele é refletido, e por isso enxergamos azul.
A cor real das penas varia entre o cinza e o preto por causa da melanina que está presente nelas. Se você pegar uma pena e colocá-la em um moedor, o pó resultante será cinza ou preto porque, com as nanoestruturas destruídas, a cor azul seria absorvida.
Quando esse fenômeno ocorre, dizemos que a cor das penas é estrutural (e não pigmentosa, como o preto e o vermelho). Se você iluminar uma pena de trás, perceberá a coloração como cinza, porque a luz que chegará a seus olhos terá atravessado a pena inteira e passado pela melanina.
A pena não é azul, mas o alerta é vermelho
Para além de toda essa conversa sobre cores, é preciso notar que a arara-azul é uma espécie em risco de extinção. Ela enfrenta três grandes ameaças, sendo a primeira a captura ilegal para o comércio de aves de estimação, tanto no mercado interno quanto no internacional.
Além disso, há a questão da destruição de seus habitats naturais devido ao desmatamento no Brasil. Por fim, existe o problema da caça e coleta de penas para o artesanato indígena (no Brasil, essa prática foi proibida desde 2005, sendo permitida apenas para cerimônias e outros usos dentro das reservas indígenas).
Por isso, é importante auxiliar na preservação desse bichinho de modo que nunca se perca a chance de poder apreciar sua beleza de perto. Ainda que a belíssima cor azul seja fake.
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