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Chile decidiu tomar partido de seu ouro azul; e já quer se tornar segundo maior produtor no mundo

O país estima que poderia alcançar 15.000 toneladas anuais de um recurso chave para o setor tecnológico.

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Chamam-no de "ouro azul" e, embora o nome possa nos levar a pensar em joias de fantasia, na verdade é uma referência ao enorme valor, tanto econômico quanto prático, de um metal bem conhecido no setor tecnológico: o cobalto.

Embora não seja tão popular quanto o coltão, a realidade é que ambos são indispensáveis para a fabricação de grande parte dos dispositivos eletrônicos que usamos no dia a dia. E isso, claro, o torna um recurso altamente valorizado na indústria.

O Chile sabe disso e já observa com interesse especial seus depósitos.

O que é esse "ouro azul"?

Um apelido com o qual se costuma designar o cobalto. Não é o único que o usa. Ao longo dos anos, também usamos essa expressão para nos referir ao azul ultramar extraído do lapislázuli e até mesmo à água ou à lavanda, mas ainda assim é apropriado quando falamos de cobalto, tanto pela sua tonalidade quanto pelo seu valor para a indústria.

Já falamos sobre suas peculiaridades em outras ocasiões. O cobalto é um metal ferromagnético, com propriedades magnéticas semelhantes às do ferro, sendo resistente ao desgaste e à corrosão, mesmo em temperaturas elevadas.

Mas, não é sua única virtude.

Comumente associado à extração de cobre e níquel, ele suporta tensão de forma similar ao ferro e oferece uma gama de aplicações que vão desde o ramo da saúde até a fabricação de baterias, o que lhe confere uma importância especial na transição para a mobilidade elétrica.

De onde vem?

"O cobalto é um elemento raro, com uma frequência de 0,004% na crosta terrestre, o que o coloca em trigésimo lugar na lista de elementos ordenados por frequência. Está presente em muitos minerais, mas normalmente em pequenas quantidades", explica o Institut für Seltene Erden und Metalle AG. As reservas mundiais de cobalto giram em torno de sete milhões de toneladas, das quais cerca de metade estão localizadas na República Democrática do Congo.

A importância do Congo

As tabelas da Statista mostram claramente o peso do país africano no mapa mineral global do "ouro azul": sua produção estimada em minas de cobalto em 2022 alcançou 130.000 toneladas métricas, muito à frente do segundo, terceiro e quarto países da lista, que eram Indonésia (10.000), Rússia (8.900) e Austrália (5.900). O Congo representou mais de dois terços da produção global. Há estimativas que elevam sua produção de 2022 para 145.000 toneladas.

E como está o mercado?

A Statista calcula que, em 2021, o mercado do cobalto alcançou globalmente um valor de 8.572,5 milhões de dólares e previa um crescimento notável ao longo da década, o que permitiria que ele passasse de 10.830 milhões em 2023 para quase 24.900 milhões em 2030. Nem todas as projeções coincidem. A da Strait Research, por exemplo, é substancialmente inferior (19.470 milhões de dólares em 2030), mas também prevê um crescimento considerável no tamanho do mercado mundial a médio prazo: 123% entre 2021 e 2030.

Produtores de Cobalto

Estimativas

No início da década, a União Europeia calculava que, até 2030, precisaria de cinco vezes mais cobalto, e até 2050 essa necessidade aumentaria cerca de 15 vezes. A chave: a demanda por baterias para veículos elétricos e armazenamento de energia. No entanto, o OEC (Observatório da Complexidade Econômica) mostra que o principal importador do "ouro azul" é a China, com uma demanda muito superior à de Japão, Alemanha ou Estados Unidos.

E qual é o papel do Chile?

O Chile tem percebido o potencial de sua mineração de cobalto há anos. Em 2018, a Corporación de Fomento de la Producción (Corfo) e o Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sernageomin) encomendaram um estudo para avaliar os recursos disponíveis no norte e no centro do país, e naquele mesmo ano já se apontava seu considerável potencial econômico, mesmo nos cenários mais pessimistas.

Esse interesse não diminuiu, como mostra um projeto da Universidade Andrés Bello (UNAB) e da Universidade do Chile, que visa transformar o Chile no segundo maior produtor de "ouro azul" do mundo.

Planos para o futuro

"Apenas extraindo o cobalto presente nos rejeitos, o Chile poderia ultrapassar a Indonésia e se tornar o segundo maior produtor mundial", explica Pilar Parada, diretora do Centro de Biotecnologia de Sistemas da UNAB, em entrevista à América Economia. O foco do projeto está nas partículas de mineral arrastadas pela água nas minas, que ainda podem ser aproveitadas.

Graças a esses rejeitos, o Chile calcula que tem potencial para produzir cerca de 15.000 toneladas anuais de cobalto. Se, além disso, fosse incluída a exploração primária, diretamente dos depósitos de cobre e cobalto, esse número poderia subir para 25.000 toneladas.

E como planejam fazer isso?

A Agência Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento do Chile (ANID) decidiu conceder à UNAB e à Universidade do Chile um projeto científico para produzir cerca de 15.000 toneladas de cobalto por ano.

A proposta envolve o uso da biotecnologia para reprocessar os rejeitos de mineração e recuperar o cobalto descartado, o que, segundo eles, permitiria obtê-lo de uma maneira "mais limpa, com menor impacto ambiental e custos de produção mais baixos". Seus impulsionadores garantem que isso também ajudaria a reduzir o risco ambiental representado por essas áreas: atualmente, 86% delas estão abandonadas ou inativas.

De ouro azul a ouro verde?

"Avançar no caminho para um 'cobalto verde' representa não apenas uma oportunidade econômica, mas um passo em direção a um futuro mais limpo e socialmente responsável, onde a prosperidade se funde com a proteção do meio ambiente", destaca Parada, diretora do projeto, à La Tercera.

A pesquisadora afirma que, durante o processo, são usadas bactérias que removem a pirita, um mineral que se oxida ao entrar em contato com a chuva ou o ar e contamina as águas subterrâneas e os campos de cultivo. Atualmente, calcula-se que no Chile existam 764 depósitos de rejeitos. Os mais promissores estão em Atacama e Coquimbo.

Imagens | University of Alberta y Visual Capitalist

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