Depois de nove meses orbitando a Terra devido a problemas na nave Starliner, da Boeing, os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams estão finalmente prontos para voltar para casa – mas em uma nave operada pela SpaceX.
A decisão da NASA, tomada no final de agosto, determinou que ambos permaneceriam na Estação Espacial Internacional (ISS) até a próxima rotação de tripulação, prevista para o início de 2025. No entanto, mesmo com tudo seguindo conforme o planejado, o retorno dos astronautas acabou sendo envolvido em controvérsias políticas.
O contexto
Butch Wilmore e Suni Williams foram enviados ao espaço em junho de 2024 em uma missão de teste para homologar a nave Starliner, da Boeing. A NASA e a empresa esperavam que a cápsula pudesse ser utilizada para o transporte regular de astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS), assim como a Crew Dragon, da SpaceX, faz desde 2020.
O plano inicial era que a missão durasse apenas 10 dias, mas vazamentos de hélio e falhas no sistema de propulsão da Starliner forçaram a NASA a prolongar a estadia dos astronautas. Eventualmente, a agência decidiu retornar a nave vazia e deixar os tripulantes na ISS até que pudessem voltar com a missão Crew-9, da SpaceX.
Após nove meses realizando experimentos em microgravidade e atividades extraveiculares para manutenção da estação, Wilmore e Williams finalmente têm uma data para voltar: 19 de março. O retorno ocorrerá poucos dias depois da chegada dos astronautas da missão Crew-10, cujo lançamento está programado para 12 de março.
A polêmica
A decisão da NASA parecia puramente técnica: priorizar a segurança dos astronautas ao impedir que eles retornassem na Starliner, forçando a Boeing a desorbitar a nave sem tripulação e, em seguida, enviar a missão Crew-9 com dois assentos vazios para buscar os astronautas "presos" na ISS.
No entanto, há outra versão dos fatos. Elon Musk afirmou que a decisão não foi técnica, mas sim política, tomada pelo governo de Joe Biden antes da possível posse de Donald Trump. Segundo Musk, ele teria oferecido o envio de uma nave Crew Dragon extra para trazer os astronautas de volta imediatamente, mas a Casa Branca teria recusado. O motivo? "Razões políticas", segundo Musk.
A polêmica, que já vinha sendo alimentada por declarações de Musk e Trump em entrevistas, se intensificou após um conflito público entre Musk e o astronauta europeu Andreas Mogensen. Mogensen acusou Musk de mentir sobre o caso, o que levou o empresário a responder com uma ofensa agressiva, chamando o astronauta de "completo retardado mental".
A reviravolta
Embora a NASA tenha contestando as declarações de Musk, Butch Wilmore e sua família sugeriram que o bilionário pode estar certo. Em uma recente coletiva de imprensa direto da ISS, Wilmore disse que Musk foi "absolutamente factual" em sua versão dos acontecimentos. No entanto, o astronauta também admitiu não conhecer os detalhes exatos do processo de decisão.
A situação ficou ainda mais tensa com um vídeo postado pela filha de Wilmore, Daryn, nas redes sociais. Na gravação, ela demonstrou frustração com o ocorrido:
"Há muita política envolvida, há muitas coisas que não posso dizer e que nem sei completamente. Mas houve problemas. Houve negligência. E é por isso que tudo isso continuou sendo adiado. Foi um problema atrás do outro."
Com essas declarações, a polêmica em torno do caso ganhou um novo fôlego, reacendendo questionamentos sobre a influência política nas decisões da NASA e a disputa entre Boeing e SpaceX pelo domínio das viagens espaciais comerciais.
O que diz a NASA
Altos funcionários da agência espacial, como Ken Bowersox e Steve Stich, reafirmaram que a permanência prolongada dos astronautas foi motivada exclusivamente por razões técnicas e operacionais, ligadas à segurança e logística da Estação Espacial Internacional (ISS).
Os representantes da NASA admitiram que a SpaceX ofereceu alternativas ao plano oficial em 2024, mas garantiram que essas opções foram recusadas não por motivos políticos, como alegado por Elon Musk, mas sim por questões orçamentárias e técnicas, priorizando a continuidade das operações da ISS.
Para encerrar a polêmica, a NASA publicou um resumo das atividades de Wilmore e Williams durante os nove meses na ISS. Entre os destaques, os astronautas da Crew-9 e seus colegas dedicaram mais de 900 horas a pesquisas científicas fundamentais, incluindo:
- Biomanufatura
- Agricultura espacial
- Desenvolvimento de sistemas avançados de exercícios para astronautas
- Estudos sobre o comportamento de microorganismos em microgravidade
Com essa divulgação, a NASA busca enfatizar que a missão prolongada dos astronautas não foi um desperdício de tempo, mas sim uma oportunidade para avançar em pesquisas importantes para futuras explorações espaciais.
Ver 0 Comentários