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A falta de crescimento geracional força o Japão a tomar medidas desesperadas: fazer com que aposentados voltem ao trabalho

  • No Japão, cerca de 29,3% da população já deveria estar aposentada, mas 9,14 milhões de pessoas com mais de 65 anos continuam trabalhando, mesmo após alcançar a idade para se retirar.

  • Um em cada quatro aposentados permanece no mercado de trabalho, e muitos deles se dedicam a cuidar de outros idosos.

Japão insiste aos aposentados voltarem ao trabalho. Imagem: Unsplash (Beth Macdonald)
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

O Japão está à beira de uma das piores crises demográficas da sua história devido à falta de renovação geracional da força de trabalho, o que tem provocado uma situação crítica de escassez de mão de obra. Somada à delicada situação econômica global, essa realidade tem levado empresas a recorrerem novamente a trabalhadores já aposentados para ocupar postos complementares e reforçar suas modestas aposentadorias.

Uma população cada vez mais envelhecida

Há décadas, o Japão enfrenta uma queda drástica nos índices de natalidade. Segundo dados do Statista, a taxa de fertilidade do país é de apenas 1,4 filhos por mulher em idade fértil, enquanto o índice necessário para garantir a renovação populacional é de 2,1 filhos por mulher. Para comparação, a taxa da Espanha é ainda menor, com 1,3 filhos por mulher.

Como consequência, o Japão atingiu um recorde histórico no número de pessoas com 65 anos ou mais, ultrapassando 36,25 milhões em 2024. Esse número representa 29,3% da população total e um aumento de 20 mil pessoas em relação a 2023, de acordo com dados do Ministério de Assuntos Internos e Comunicações do Japão.

Recorde de aposentados ativos no mercado de trabalho

Dados recentes revelam que, dos 36,25 milhões de japoneses com mais de 65 anos, cerca de 9,14 milhões voltaram a trabalhar após a aposentadoria. Segundo informações divulgadas pela Nippon, esse número de "aposentados ativos" representa 25,3% do total de pessoas acima de 65 anos no Japão, ou seja, um em cada quatro aposentados está trabalhando.

O grupo de aposentados ativos já corresponde a 13,5% da força de trabalho no país. Em outras palavras, um em cada sete trabalhadores no Japão tem mais de 65 anos.

Aposentados pressionados pela inflação

De acordo com o jornal El Mundo, além da escassez de mão de obra provocada pelo envelhecimento da população, outro motivo para o retorno dos aposentados ao mercado de trabalho é a pressão da inflação sobre as aposentadorias no Japão.

A pensão média recebida pelos aposentados é de cerca de 41.000 ienes (aproximadamente 250 euros) por mês, o que é insuficiente para enfrentar o aumento no custo de vida. Trabalhando, eles conseguem alcançar um salário médio de 100.000 ienes (cerca de 607 euros), o que lhes permite ter uma vida mais digna.

Idosos cuidando de idosos

Dados de setembro de 2024, divulgados pelo Ministério de Assuntos Internos e Comunicações, mostram que a maior parte dos trabalhadores acima de 65 anos está empregada nos setores atacadista e varejista, com 1,32 milhão de empregados; no setor médico e de assistência social, com 1,07 milhão; e no setor de serviços, com 1,04 milhão.

Chama atenção a alta demanda do setor médico e assistencial, que aumentou 2,4 vezes suas necessidades de pessoal na última década. Isso significa que muitos aposentados no Japão estão assumindo funções relacionadas ao cuidado de outros idosos.

Relutância à imigração

Uma das medidas que o governo japonês tem adotado para tentar enfrentar a falta de mão de obra e fortalecer o frágil sistema de pensões é permitir a entrada de mais imigrantes no mercado de trabalho do país. No entanto, essa iniciativa não tem sido bem recebida devido ao forte caráter nacionalista da cultura japonesa.

Os esforços para abrir o mercado incluem a emissão de vistos para nômades digitais e o aumento de permissões de trabalho para estrangeiros. Contudo, essas medidas ainda são consideradas insuficientes e enfrentam grande resistência, especialmente entre a população rural do Japão, que é significativamente mais conservadora do que os moradores das grandes cidades.

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