No ano passado, a China revelou uma tecnologia em desenvolvimento chamada Crazy Li. Tratava-se de um laser de combate inédito, capaz de cortar metal ou causar cegueira no campo de batalha. O que agora foi descoberto por um satélite norte-americano é completamente diferente de tudo o que conhecíamos. Pelo tamanho, estamos diante de algo fora do comum, tanto que é visível do espaço.
Um colosso tecnológico
Ao que parece, tudo indica que a China está desenvolvendo na cidade de Mianyang, província de Sichuan, um enorme centro de pesquisa de fusão por laser, uma tecnologia com o potencial de fornecer energia limpa e ilimitada. Um projeto que, além disso, também pode ter aplicações militares no design e modernização de armas nucleares, segundo analistas de duas organizações de inteligência independentes.
E como descobrimos isso? Imagens de satélite revelaram uma estrutura com quatro braços gigantescos que abrigarão baias de laser direcionadas a um centro de experimentação onde serão realizados testes de fusão utilizando isótopos de hidrogênio. Segundo o analista Decker Eveleth, da CNA Corporation, essa instalação é pelo menos 50% maior que o National Ignition Facility (NIF) dos Estados Unidos, o que a tornaria o maior centro de fusão nuclear do mundo. Pelas imagens espaciais, a companhia tem monitorado sua evolução desde que o local era apenas "um pedaço de terra" em 2020.
O projeto, denominado Laser Fusion Major Device Laboratory, não havia sido revelado previamente, o que gerou preocupação na comunidade internacional sobre seu verdadeiro propósito.
Como funciona a fusão a laser: energia estelar
A fusão nuclear consiste em unir átomos de hidrogênio para gerar energia, replicando o processo que ocorre no Sol e em outras estrelas. Ao contrário da fissão nuclear usada atualmente nas centrais nucleares, a fusão não gera resíduos radioativos de longa duração nem apresenta riscos de acidentes catastróficos. Nesse tipo de instalação, potentes lasers disparam sobre uma câmara central que contém isótopos de hidrogênio, comprimindo-os até que se fundam e liberem uma enorme quantidade de energia em um processo conhecido como ignição.
No caso em questão, o design da instalação chinesa apresenta esses quatro enormes braços que canalizarão a energia do laser para uma torre central onde se encontra a câmara de fusão.
China vs. EUA
Até agora, o National Ignition Facility dos Estados Unidos vinha liderando a pesquisa em fusão a laser por décadas, alcançando em 2022 um marco histórico: a primeira reação de fusão com ganho líquido de energia. O único "porém": o avanço não considerou o gasto energético necessário para alimentar os lasers, o que ainda deixa a fusão longe de ser viável como fonte comercial de eletricidade.
Por sua vez, a China, com seu enfoque agressivo no desenvolvimento tecnológico, pode estar diminuindo a distância. Analistas como Melanie Windridge, diretora do Fusion Energy Insights, destacam que o país asiático está avançando com determinação e rapidez, o que poderia lhe dar uma vantagem estratégica.
Para Andrew Holland, diretor da Fusion Industry Association, se os Estados Unidos e seus aliados não acelerarem o investimento em fusão nuclear, a China poderia vencer a corrida em pouco tempo. Sua capacidade de levar projetos do conceito à construção é notavelmente mais rápida do que a do Ocidente.

Energia ou armas?
Essa é a grande dúvida após as imagens terem sido reveladas. Além de sua aplicação na produção de energia, essas instalações também podem desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de armas nucleares. Tanto a China quanto os Estados Unidos são signatários do Tratado de Proibição Completa de Ensaios Nucleares, o qual impede a realização de testes com explosivos atômicos. O problema? A capacidade dessas instalações permite simular explosões nucleares sem detoná-las fisicamente, oferecendo dados-chave para melhorar o design e o desempenho de ogivas nucleares.
A esse respeito, William Alberque, analista do Centro Henry L. Stimson, disse à CNN que qualquer país com uma instalação similar ao NIF inevitavelmente usará sua capacidade para aprimorar seus arsenais nucleares. Eveleth concorda, sugerindo que o projeto chinês poderia permitir o desenvolvimento de armas mais sofisticadas, inclusive versões mais pequenas e eficientes. Embora alguns especialistas acreditem que esse avanço reduza a necessidade de testes nucleares reais, também poderia significar uma modernização do arsenal chinês sem que o país precise realizar explosões de teste, evitando assim sanções internacionais.
A outra possibilidade em consideração é que a instalação em Mianyang não seja apenas uma instalação de fusão a laser convencional, mas um reator híbrido de fusão-fissão, o que elevaria ainda mais seu potencial estratégico. A razão? Esse tipo de tecnologia combina a fusão nuclear com a fissão para gerar energia de forma mais eficiente. Segundo Holland, se a China desenvolver esse tipo de reator, ele seria mais avançado do que qualquer instalação similar no Ocidente, consolidando a liderança do país no campo da energia nuclear avançada.
Implicações geopolíticas
O avanço da China na construção dessa instalação aponta para um ambicioso programa de desenvolvimento energético e militar, marcando uma nova fase na competição tecnológica com os Estados Unidos. Como mencionado, a fusão nuclear tem sido considerada a "energia do futuro" por sua capacidade de fornecer eletricidade limpa e ilimitada, mas também representa uma ferramenta poderosa em termos de segurança nacional e geopolítica.
Enquanto os Estados Unidos continuam liderando as conquistas científicas no campo, a China acelera e parece estar demonstrando uma capacidade de construção e escalabilidade muito mais rápida. Um desenvolvimento que pode influenciar o equilíbrio de poder global, não apenas no âmbito energético, mas também no estratégico e militar.
Um dado a ser considerado: a China realizou 45 testes nucleares em sua história, um número significativamente menor do que os 1.054 realizados pelos Estados Unidos. Em outras palavras, sua base de dados sobre o assunto é mais limitada, o que torna crucial o uso de simulações avançadas de fusão para melhorar seus projetos sem a necessidade de testes reais.
Imagem | Planet Labs PBC, Chinese Academy of Sciences
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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