Primrose Freestone é professora de microbiologia clínica na Universidade de Leicester e, pelo menos no papel, não parece a "alegria da festa". Nada de comer em piqueniques, churrascos ou qualquer tipo de evento ao ar livre. Buffets, então, nem pensar; sejam frios ou quentes. Nada de ostras, saladas em saco ou, claro, alimentos que passaram da data de consumo preferencial.
Nem marmita
Ainda assim, o que mais surpreende é outra coisa. Algo que eu nunca tinha ouvido, mas já vi acontecer milhares de vezes e que ameaça arruinar os almoços de domingo: em seu último artigo no The Conversation, a doutora Freestone não reaquece arroz cozido. O problema, no entanto, é outro: o argumento faz sentido.
Um detalhe óbvio
A microbiologia clínica, como disciplina, não tem nada a ver com os lugares onde você come ou deixa de comer. Trata, na verdade, de saber onde estão os riscos. O resto é uma escolha pessoal. Por exemplo, no caso de Freestone, sua aversão não se traduz em uma recusa categórica em tomar café da manhã em um buffet de hotel.
Mas sim ao pão tostado com geleia de morango com mais frequência do que gostaria.
Parte da razão
Não se trata tanto de "o que se deve fazer" ou "o que não se deve fazer" (isso cabe a cada um decidir), mas de estar ciente de problemas que existem, mesmo que não sejam claramente visíveis.
O caso do Vibrio em ostras é um exemplo claro. Uma ostra infectada por essas bactérias não apresenta sinais evidentes de contaminação: não cheira nem tem gosto diferente. No entanto, o CDC dos EUA estima que cerca de 80.000 pessoas contraiam infecções desse tipo ao consumir ostras cruas todos os anos. Dessas, aproximadamente 100 morrem de vibriose anualmente.
Certo, mas o que acontece com o arroz?
Freestone explica que "o arroz cru pode conter esporos de Bacillus cereus, um germe que causa intoxicação alimentar". Ele também pode conter bactérias, mas essas são eliminadas durante o cozimento e, portanto, não representam um problema. O problema, segundo Freestone, é que os esporos sobrevivem.
Ou seja, se o arroz for deixado esfriar e permanecer em temperatura ambiente, os esporos podem facilmente se transformar em bactérias. Aparentemente, o arroz é um "meio de cultura" excepcional para esse tipo de bactéria. Por isso, um descuido (algo relativamente comum em almoços com paella aos domingos) pode resultar em uma grande quantidade de Bacillus colonizando o prato.
E isso realmente pode causar problemas?
Sim, a bactéria produz toxinas, e consumi-las em alta quantidade pode causar "vômitos e diarreia que duram até 24 horas". Definitivamente, não é algo bom, né?
Claro, estamos falando de um problema que afeta preparações de arroz mal conservadas (não é uma boa ideia deixá-las muito tempo em temperatura ambiente) e mal reaquecidas (o ideal é garantir que o arroz seja aquecido a altas temperaturas).
Se quisermos evitar problemas, o melhor é não deixá-lo em temperatura ambiente e, ao reaquecer, garantir que o arroz atinja uma temperatura alta para eliminar possíveis bactérias.
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