A geração Z está demonstrando ter dinâmicas de trabalho e códigos de comportamento muito distintos dos das gerações anteriores, o que terá um enorme impacto intergeracional no ambiente de trabalho.
Seu pragmatismo, busca pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e a demanda por reconhecimento de seus méritos estão marcando um ponto de inflexão na cultura laboral das empresas.
Protagonistas da transição geracional
A geração Z está ganhando espaço no ambiente de trabalho, em um contexto demográfico onde uma geração muito mais numerosa está começando a se aposentar de forma massiva.
Até 2030, espera-se que os nascidos entre 1996 e 2010 representem 31% da população ativa. Segundo estimativas do estudo A-Gen-Z Report da consultoria Oliver Wyman, em 2025 ocorrerá o "sorpasso" entre os membros da geração Z que ingressarão no mercado de trabalho e os baby boomers que começarão a se aposentar.
Na opinião de Reyes Suárez, HR Team Leader na Randstad Professionals, "No relevo geracional, a chave será o que as empresas vão fazer para se adaptar a essa geração. Os líderes que gerenciam as empresas pertencem a outras gerações, e há um choque intergeracional, além de muitos preconceitos criados sobre a geração Z."
Pouca preparação laboral
Uma pesquisa realizada pelo portal Intelligent.com com 1.243 líderes empresariais analisou a experiência de trabalhar com jovens da Geração Z graduados entre 2020 e 2023. Os resultados mostram uma geração "difícil" de gerenciar no ambiente de trabalho.
Preparação inadequada
40% dos gerentes entrevistados afirmaram que os candidatos não estavam suficientemente preparados para entrar no mercado de trabalho. 88% acreditavam que os jovens que ingressaram após a pandemia estavam pior preparados do que aqueles que o fizeram antes de 2020.
Suárez discorda dessa afirmação e assegura que, pelo menos na Espanha, "não considero que os perfis dessa geração estejam mal preparados. Na verdade, considero o contrário. Comparando-os com outras gerações anteriores (inclusive com os millennials), acredito que eles estão melhor preparados e com mais conhecimentos teóricos, pois as diferenças socioeconômicas em sua formação foram reduzidas em comparação com as gerações anteriores."
Comunicação complicada
Os empregadores acusam a geração Z de ser "complicada" quando se trata de gerenciar a comunicação no ambiente de trabalho, apesar de dominarem com maestria a linguagem das redes sociais, transformando seus despedimentos em vídeos virais no TikTok.
No entanto, um estudo da Harris Poll, realizado para a Fortune, revelou os problemas desses jovens para se comunicar com seus colegas de outras gerações. 65% dos trabalhadores da geração Z admitiram não saber sobre o que falar com seus colegas de trabalho, a ponto de colocar em risco suas chances de ascensão profissional.
O britânico The Telegraph apontou que um dos motivos que poderia justificar essa lacuna de comunicação é que, nos últimos anos de sua formação, essa geração teve que finalizar seus estudos remotamente, o que limitou suas opções para desenvolver habilidades sociais e de comunicação com pessoas de outras gerações.
Nesse sentido, a especialista em recrutamento e relações trabalhistas da Randstad considera que "é mais um choque de cultura empresarial e formas de entender a liderança. A geração Z é muito assertiva, mas precisa melhorar sua inteligência emocional, algo que outras gerações anteriores desenvolveram, pois viveram em outro contexto".
São usuários, mas não técnicos
O relatório Hybrid Work: Are We There Yet? da HP perguntou a 10.000 funcionários de escritório ao redor do mundo sobre suas habilidades tecnológicas. 20% dos jovens se sentiam julgados por não saber usar os dispositivos eletrônicos do escritório, enquanto apenas 4% dos funcionários de outras gerações relataram enfrentar esses problemas.
O fenômeno, conhecido como "vergonha tecnológica", pode ser explicado pela mudança de hábitos tecnológicos e de digitalização ocorrida nos últimos anos.
Como explicam no The Guardian, os jovens não estavam tão acostumados com o uso de papel como as gerações anteriores, o que fez com que não precisassem usar scanners ou impressoras, já que sua formação foi baseada em um modelo mais digital.
Simplificação da tecnologia e dependência familiar
A simplificação da tecnologia, impulsionada pela chegada dos aplicativos, fez com que a geração Z não precisasse aprender os processos de resolução de problemas tecnológicos que as gerações anteriores assumiram.
Excesso de dependência familiar
Além dos problemas de comunicação, a geração Z é acusada de uma dependência emocional e funcional excessiva de seus pais, mesmo em idades em que já deveriam tomar suas próprias decisões. Uma pesquisa realizada pela empresa de serviços trabalhistas ResumeTemplates com 1.420 jovens da geração Z nos EUA revelou dados surpreendentes.
70% deles pediu ajuda aos pais durante o processo de busca de emprego, 18% pediu para que seus pais elaborassem seus currículos e 24% afirmou que seus pais também enviaram seus currículos para as empresas.
O mais surpreendente é que 37% pediu para um dos pais acompanhá-los nas entrevistas de emprego, e 26% desses pais entraram na sala de entrevistas. 18% se apresentaram ao entrevistador e 7% até responderam às perguntas do recrutador, em vez de deixar que o candidato o fizesse.
"Nos meus 20 anos de profissão, nunca me enfrentei a uma situação em que os pais quisessem acompanhar seus filhos na entrevista. Isso pode ser mais atribuído a uma atitude sobreprotetora, tentando compensar a ausência dos pais das gerações anteriores, e não a uma incapacidade da geração Z de fazer isso sozinha", afirmou Suárez.
"Dito isso, a geração Z é muito mais exigente quanto ao tempo, no sentido de pedir feedback constante e também de fornecê-lo. Nesse sentido, as gerações anteriores eram mais independentes."
Impacientes pela precariedade
A pesquisa da Intelligent.com mencionada anteriormente também revelou que 51% dos gerentes evitavam contratar funcionários da geração Z por exibirem uma atitude arrogante, reclamando direitos e privilégios que ainda não conquistaram.
Os dados mostraram que 50% dos entrevistados mencionaram que os candidatos estavam pedindo salários muito acima dos conhecimentos que podiam comprovar, equiparando-os a profissionais com vários anos de experiência no cargo.
"Os Gen Z vivem em uma constante busca de imediatismo e são muito mais ousados. É como a busca por dopamina ao usar as redes sociais, o que leva a uma ambição pouco canalizada. Nesse sentido, eles são muito mais impacientes que as gerações anteriores, que, por outro lado, eram excessivamente cautelosas", explica Reyes Suárez. "Uma forma de lidar com essa ousadia é propor planos de carreira e desenvolvimento muito bem definidos, que sejam comunicados com clareza."
Essa "impaciência" para subir na escala salarial vem de um dado importante revelado em uma pesquisa realizada pela consultoria Whatsthebigdata: 3 em cada 10 membros da geração Z sentem que não estão financeiramente seguros. 46% afirmam que vivem de salário em salário, e 26% acreditam que não conseguirão economizar o suficiente para se aposentar com segurança.
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Outra concepção do compromisso laboral
A geração Z também foi acusada de falta de compromisso com as empresas e de ter uma alta rotatividade de funcionários. Esse ponto pode estar estreitamente relacionado com o aspecto salarial, mas também com a alinhamento de valores e a cultura empresarial.
O relatório Talent Trends Espanha 2023, elaborado pela consultoria Michael Page, revelou que 92% dos funcionários de tecnologia dessa geração estavam abertos a novas oportunidades de trabalho, mesmo estando empregados.
Os dados do Infojobs apontam para as melhorias salariais como o principal motivo que leva os jovens a trocar de emprego, seguidas pela busca de melhores condições para conciliar a vida pessoal e profissional, ou por trabalhar em um projeto que os motive ou os permita continuar crescendo profissionalmente.
Equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
Se há um ponto em que todos os estudos e pesquisas concordam, é na preferência dos funcionários da geração Z pelo equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, colocando o bem-estar mental como prioridade.
"A geração Z é muito guerreira, muito lutadora, e valoriza sua vida pessoal acima do trabalho. Eles não concebem um modelo que não seja equilibrado, porque para eles o trabalho não é tudo. É uma ferramenta para poder desenvolver sua vida pessoal, e eles são capazes de dizer 'não' a um projeto que não esteja alinhado com sua cultura e seus valores. Essa concepção é impensável para os millennials ou a geração X", afirmava a especialista da Randstad.
Os dados do relatório Workmonitor 2024, elaborado pela Randstad, revelam que 51% dos jovens entrevistados está disposto a permanecer em um emprego que os motive, enquanto 60% afirmam que sua vida privada é mais importante do que a vida profissional. 57% dos entrevistados pela Randstad priorizariam uma oferta que oferecesse conciliação entre vida profissional e familiar ou um modelo de jornada híbrida com trabalho remoto.
Mais formação e menos estresse
A ambição por ascender na escala salarial não corresponde ao interesse em subir na hierarquia empresarial e assumir mais responsabilidades (e estresse) por apenas um pequeno aumento salarial.
Os dados de uma pesquisa realizada em maio de 2022 pela consultoria McKinsey revelaram que 55% dos jovens americanos da geração Z apresentavam "taxas notavelmente altas de problemas de saúde mental". A consultoria afirmava que a pandemia de COVID-19 teria contribuído para o aumento desses problemas mentais entre os mais jovens.
Isso gerou uma tendência chamada "Quiet Ambition" (Ambição Silenciosa), na qual os jovens se recusam a subir na carreira. Segundo uma pesquisa conduzida pela consultoria de recrutamento Robert Walters, 52% dos genzers entrevistados não queriam ascender a cargos intermediários, enquanto 72% afirmaram que preferiam continuar acumulando experiência e conhecimentos para suas carreiras.
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