Nos bares, as pessoas vão em busca de várias coisas. Há quem queira uma bebida, quem procure um bom momento com os amigos e até quem esteja atrás de sorte no amor. E há quem pague para receber um tapa, uma bofetada sonora, reverberante e picante, que permita recuperar a sobriedade. Isso foi o que, até pouco tempo atrás, uma cadeia de bares tradicionais japoneses oferecia: por um preço módico, de cerca de três euros, o cliente podia pedir algo peculiar às atendentes: um tapa capaz de reverter o efeito de todo o saquê que tivesse bebido.
Não saiu como o esperado.
Tapas à la carte
Em um cardápio de bar, espera-se encontrar refrigerantes, cervejas e coquetéis. Algo para petiscar, talvez. Bem menos comum é se deparar com um serviço de tapas sob demanda, que foi justamente o que, até pouco tempo atrás, uma cadeia japonesa de izakayas, restaurantes típicos do país, oferecia aos seus clientes.
A notícia foi veiculada por meios de comunicação como o Independent e o South China Morning Post (SCMP), que explicam que, até dois meses atrás, a marca Yotteba, popular principalmente pela sua cerveja e por suas asas de frango, permitia aos clientes pagar para que as atendentes lhes dessem um tapa, algo conhecido lá como “binta”.
This is Shachihokoya - a restaurant in Nagoya - where you can buy a menu item called 'Nagoya Lady's Slap' for 300 yen pic.twitter.com/19qPM1Ohac
— Bangkok Lad (@bangkoklad) November 29, 2023
Uma bofetada, 19 reais
O negócio tinha até suas tarifas estipuladas. Se você quisesse que um garçom qualquer te desse um tapa na cara, deveria pagar 500 ienes, o equivalente a cerca de R$ 19. O local também oferecia a possibilidade de escolher qual empregado seria responsável por esquentar seu rosto, mas a um custo adicional de 100 ienes, cerca de R$ 4. Por menos de R$ 25, você poderia sair do estabelecimento com a palma da mão do seu garçom ou garçonete favorita bem impressa na sua bochecha.
E por que isso? Por seus supostos benefícios. O "serviço de bofetadas" era pensado como uma opção para clientes que exageravam na bebida e queriam se recuperar antes de voltar para casa, de acordo com o SCMP, citando a própria cadeia como fonte. A ideia era que o cliente pedisse a uma garçonete que lhe desse um tapa no rosto antes de sair do local. E pagasse por isso, claro. Pode parecer estranho, mas, nas redes sociais, é possível encontrar vídeos que mostram exatamente isso: pessoas sentadas em banquinhos de restaurantes, imóveis, esperando que outra pessoa lhes dê um tapa.
Remontando ao século 19
O tapa em questão é conhecido como “binta”, um termo que, conforme o Independent, tem suas origens na região de Kagoshima, no sul do Japão. Inicialmente, significava "cabeça", mas, entre os séculos 19 e início do 20, durante a era Meiji, passou a ser associado, entre outras coisas, aos golpes dados pela polícia em criminosos. Apesar dessas origens, a prática encontrou seu espaço na indústria de hospitalidade japonesa. Nos vídeos que circulam no X (antigo Twitter), de fato, as bofetadas costumam ser dadas em ambientes descontraídos, ou até mesmo entre aplausos.
Bu restoranda yemeğin yanında tokat da geliyor
— BTT Haber (@btthaber) December 8, 2023
🔹Japonya'daki bir restoranı görenler hayret ediyor. Japonya'nın Nagoya kentindeki Shachihoko-ya adlı restoranın müşterileri, garsonlara yüzlerine tokat atmaları için para ödüyor. pic.twitter.com/UOvY1fA6H6
Um negócio com pontos fracos
Se você deseja receber um tapa à la carte na sua próxima viagem ao Japão, depois de tomar cervejas em um izakaya, vai ser difícil. A Yotteba decidiu retirar seu "serviço de bofetadas", alegando questões de demanda e imagem. "Fazemos isso há mais de dois anos em nossos restaurantes, mas não parecia muito popular", explicou um porta-voz da empresa ao This Week in Asia. "Além disso, nossa cadeia está crescendo e queríamos mudar nossa imagem".
Os bofetões deixaram de fazer parte do menu da empresa em outubro, uma decisão — segundo vários meios, incluindo o TSCMP — que teria sido tomada por algo mais do que uma simples questão de marketing. A queda em desgraça do “binta” estaria relacionada a uma suposta denúncia por lesões. "Era mais uma brincadeira e achamos que os clientes não estavam mais gostando", enfatizam na empresa que gerencia a cadeia de izakayas.
Curioso sim, estranho não
A verdade é que a Yotteba, uma cadeia com mais de uma dúzia de bares espalhados por todo o Japão, não é a única empresa do setor que decidiu oferecer tapas sob demanda. Nem mesmo é pioneira.
Antes da pandemia, a cadeia Shachihoko-ya oferecia a mesma opção aos seus clientes e até conseguiu uma repercussão considerável nas redes sociais, precisamente pelas imagens de pessoas recebendo tapas, entre risos e aplausos. A empresa acabou abandonando seus “binta”, mas isso não impediu que, em 2023, os vídeos se tornassem virais, chegando até mesmo aos meios de comunicação dos EUA e da Europa. A marca não teve outra alternativa senão lembrar, no X, que seu menu agora só oferece bebidas e comidas. Nada de bofetões.
No caso da Nagoya Lady's Slap, um serviço que custava 300 ienes, cerca de R$ 11, o cliente tinha direito a receber um tapa de uma camareira vestida com quimono, deixando sua mão marcada no rosto. A lógica era muito parecida com a da Yotteba. Se o cliente tivesse algum funcionário favorito, poderia pedir para que fosse ele/ela a dar o tapa, pagando um valor adicional. Tudo isso com o objetivo de “diminuir” o efeito da cerveja ou do saquê e voltar para casa (um pouco) mais sereno.
Imagens | Linh Nguyen (Unsplash)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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