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EUA decidiram que o Golfo do México se chame "Golfo da América"; Canadá se vingou com o "café canadense"

  • "Desculpe, Americano. Agora é Canadense", pode-se ler na cafeteria Kicking Horse Coffee.

  • Foi iniciado um movimento para renomear uma bebida que nem sequer é dos Estados Unidos.

Briga entre café americano e canadense. Imagem: Xataka
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Em um cenário de tensões entre países, tudo é política. Até o café.

A chegada de Donald Trump à Casa Branca para cumprir seu segundo mandato tem sido um verdadeiro tsunami. Ele virou de cabeça para baixo a indústria de chips, trouxe tarifas para México e Canadá, colocou os carros elétricos e as energias renováveis na mira e planeja endurecer ainda mais a relação com a China.

Essas ações, entre outras, despertaram um sentimento de boicote aos produtos dos Estados Unidos – e isso chegou a um nível tão profundo que nem o café escapou. Mas não se trata de uma marca específica, e sim de uma forma de preparo: o Canadá quer roubar o café Americano. E o México também entrou na jogada.

O Americano não é americano

A história do café Americano é bastante curiosa. Já vimos esse preparo inúmeras vezes no cinema e na TV. Também é comum encontrá-lo em cafeterias ao redor do mundo, onde, para muitos, nada mais é do que um café aguado (embora tenha seu “segredo” na proporção). Isso poderia levar a crer que é uma invenção dos Estados Unidos – mas, na verdade, ele é europeu. Mais especificamente, italiano.

Nos Estados Unidos, é comum encher a xícara até a borda com café puro. O café filtrado está profundamente enraizado na cultura do país, mas, na Europa da Segunda Guerra Mundial, a tradição era diferente.

Durante a campanha na Itália, os soldados americanos que queriam um café para degustar ou apenas se manterem alertas não conseguiam suportar o espresso italiano (o que também era agravado pelo nível mais alto de torrefação dos grãos).

Para atender ao gosto dos militares, os baristas italianos criaram uma solução: diluir o espresso com água quente, tornando-o mais próximo do que os americanos estavam acostumados.

Original

Tensão cafeeira

Essa combinação foi batizada como Americano e, no fim das contas, a participação dos norte-americanos em sua criação se resumiu ao fato de que não gostavam de um café mais intenso.

Ainda assim, o Americano se consolidou como uma preparação clássica. Mas, como dizem, em tempos turbulentos, tudo vira política – e, no Canadá, esse nome já não é tão bem-visto.

Recentemente, devido às tensões políticas entre os dois países, algumas cafeterias decidiram trocar o nome Americano por Canadense. A receita continua a mesma, e, no fim das contas, os soldados norte-americanos que lutaram na Itália também incluíam canadenses – então, os canadenses consideram que têm tanto direito quanto os EUA de dar nome ao café.

Marketing ou rebeldia?

A questão não é tanto sobre apropriação "cultural" – se é que podemos chamá-la assim – mas sim uma forma de protesto. Protesto contra o quê? Contra as tarifas impostas por Trump, que, por sua vez, já estão encontrando uma resposta do governo canadense.

A cafeteria Kicking Horse Coffee foi a primeira a dar início a esse movimento, que rapidamente ganhou força na imprensa especializada em café e chegou até veículos como a CBC News.

Por um lado, há quem veja essa mudança como uma forma de reafirmar a identidade canadense. Por outro, críticos argumentam que se trata apenas de uma estratégia de marketing para vender mais café, especialmente entre aqueles com um patriotismo mais inflamado.

E sim, a Kicking Horse Coffee já chama essa preparação de Canadense há 16 anos, mas, como explicaram em suas redes sociais, agora oficializaram o nome e querem que outras cafeterias do Canadá façam o mesmo. Algumas já aderiram à ideia.

Original Por 16 anos, a Kicking Horse Coffee vem chamando os americanos de canadenses. Agora, estamos oficializando e pedindo que cafeterias de todo o país se juntem a nós. Chame de 'canadenses'.

O México começa a se questionar

De uma forma ou de outra, a ideia chegou ao México, um país que já está tentando se acostumar com a mudança de nome do Golfo do México para Golfo da América (e América, aqui, não pelo continente, mas sim pela visão norte-americana de que eles são A América).

No país latino-americano, algumas pessoas já começaram a explorar a possibilidade de renomear o café Americano para café mexicano ou café de olla.

Mas há um detalhe: o México já tem um café de olla. Trata-se de uma forma tradicional de preparo no país, onde o café é feito em uma panela de barro, como se fosse uma infusão. Esse método é mais comum em áreas rurais do que nas grandes cidades. Mas a questão aqui não é o nome e sim… a política.

Boicote

Resta saber se essa campanha para substituir o Americano pelo Canadense vai realmente pegar (afinal, nesse ritmo, cada país poderia dar ao café o nome que quisesse). Mas o que está claro é que a volta de Trump está provocando reações pelo mundo todo.

Já mencionamos que, na Europa e no Canadá, há movimentos pedindo boicotes a produtos dos Estados Unidos. Nas redes sociais, circulam listas de softwares e hardwares europeus para reduzir a dependência das tecnologias americanas. E as reações contra produtos como os carros da Tesla têm sido intensas.

Comparado a protestos como a queima de veículos, a mudança para Canadense parece apenas uma brincadeira.

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