As ações da operadora de satélites franco-britânica Eutelsat dispararam no início de março na bolsa de Paris, diante da possibilidade de substituir a Starlink na guerra da Ucrânia e no contexto do rearme europeu. Não há dúvida de que a Europa buscará recuperar sua autonomia no espaço, mas nenhuma empresa é capaz de replicar a Starlink no curto ou médio prazo.
Eutelsat aproveita o embate geopolítico
Entre 3 e 5 de março, os papéis da Eutelsat chegaram a quintuplicar seu valor, adicionando 1 bilhão de euros à capitalização de mercado do grupo, que vinha de mínimas históricas e até havia sido rebaixada para "junk bond" pela Moody's, devido ao desempenho lento da OneWeb e às altas necessidades de investimento.
O interesse repentino, impulsionado principalmente por investidores de varejo e posições em curto, remonta a 28 de fevereiro, quando uma acalorada disputa pública entre Volodymyr Zelenski e Donald Trump levou os Estados Unidos a suspender a ajuda militar a Kiev, com ameaças de cortar o serviço de internet via satélite da Starlink, caso a Ucrânia não concedesse acesso aos seus minerais.
Enquanto os governos europeus buscavam uma alternativa, o diretor executivo da Eutelsat afirmou que seriam necessários "meses, não anos" para fornecer à Ucrânia tantos terminais quanto a Starlink, o que fez as ações da empresa dispararem (embora, com o tempo, o valor tenha sido ajustado para baixo). No entanto, a realidade é sempre mais complexa do que uma simples fala.
Como a Starlink se tornou vital para a Ucrânia
Quando a Rússia deixou fora de serviço as redes de satélites convencionais (Viasat, Iridium e Inmarsat), a Starlink deu uma vantagem crucial à Ucrânia. A empresa liderada por Elon Musk não apenas tinha capacidade de enviar mais terminais e antenas para a linha de frente, mas também era mais resistente a ciberataques e interferências eletrônicas, o famoso "jamming".
A explicação é que a Starlink é uma constelação de milhares de satélites em órbita baixa que dão uma volta ao redor da Terra a cada 90 minutos, fazendo com que diferentes satélites passem pelo céu para fornecer serviço a uma zona específica. Os ciberataques e o jamming russo são mais eficazes contra empresas que utilizam satélites geoestacionários, que permanecem fixos a 36.000 km de altitude.
OneWeb, a alternativa europeia à Starlink
Desde que adquiriu a OneWeb, a Eutelsat controla aproximadamente 630 satélites em órbita baixa, respaldados por 35 satélites geoestacionários. É a única constelação global operativa além da Starlink, embora a China também tenha começado a implantar as suas próprias.
Diferentemente da Starlink, cujo principal negócio é o atendimento ao consumidor final, a OneWeb se concentra em comunicações militares, governamentais, marítimas, de aviação, industriais, de logística e para operadoras. A razão para isso está na enorme diferença de escala: a SpaceX tem uma densidade 10 vezes maior de satélites, o que lhe permite atender a mais usuários simultâneos com a Starlink.
Tudo se resume aos foguetes
A Europa acabou de recuperar seu acesso autônomo ao espaço com a entrada em operação definitiva dos foguetes Vega-C e Ariane 6. Mas esses lançadores não são reutilizáveis: cada missão exige um novo foguete, o que impede seu uso para o lançamento de grandes constelações de satélites. Não só não seria rentável, como seria logisticamente impossível, já que os satélites em órbita baixa precisam ser repostos a cada poucos anos.
Mas o Falcon 9 da SpaceX é parcialmente reutilizável. A empresa recupera rotineiramente o propulsor e as metades da coifa e, graças a essa vantagem competitiva, pode lançar duas missões Starlink por semana. No total, a SpaceX já lançou mais de 8.000 satélites Starlink, dos quais mais de 7.000 continuam em órbita. O Falcon 9 também é um dos foguetes que colocaram os satélites da OneWeb/Eutelsat em órbita.
Essa situação não será resolvida até que a indústria privada europeia, com investimentos da ESA, tenha seus primeiros foguetes reutilizáveis prontos. A empresa melhor posicionada é a francesa ArianeGroup, que durante décadas teve o duopólio de lançadores da Europa, junto à italiana Avio. Mas sua subsidiária MaiaSpace está desenvolvendo um foguete relativamente pequeno: o Maia, com capacidade para colocar entre 500 e 2.500 kg em órbita heliossíncrona.
Imagem | OneWeb
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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