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A casca pode ser a parte mais nutritiva da comida; ao jogá-la fora, você ajuda a piorar a crise climática

Cascas, talos e sementes que vão direto para o lixo ainda carregam nutrientes valiosos — e seu descarte em massa é um retrato de como o desperdício silencioso começa dentro de casa.

O que fazer com cascas de alimentos? Imagem: Martha Dominguez De Gouveia Aruusqmgmfa Unsplash
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Todo dia, milhões de pessoas descartam o que poderia estar enriquecendo o prato — e não apenas em sabor, mas também em saúde. A casca da banana tem mais fibras que a própria fruta. A do maracujá é carregada de pectina, que ajuda na saciedade e no controle do colesterol. Já a casca da laranja, além do aroma, carrega uma concentração alta de vitamina C. Mesmo assim, esses ingredientes continuam sendo tratados como lixo, sem que se perceba o valor nutricional e ambiental que vai junto.

Boa parte do desperdício alimentar não está nos alimentos que estragam nas prateleiras ou nos pratos que sobram no restaurante. Ele começa muito antes, em casa, na escolha de não aproveitar aquilo que já está ali, disponível — e que, por hábito ou desinformação, é ignorado.

Estima-se que cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo sejam desperdiçados todos os anos. A decomposição desse material orgânico em aterros libera gás metano, um dos mais potentes para o agravamento do efeito estufa.

Esse descarte silencioso, que parece inofensivo no cotidiano, se transforma num problema ambiental em escala global.

Mas o desperdício também é uma questão de acesso e saúde. Em um cenário de insegurança alimentar crescente, saber reaproveitar o alimento de forma integral é uma forma de resistência. É economia doméstica, é autocuidado, é compromisso com o planeta. E tudo começa por saber o que se pode fazer com o que normalmente vai para o lixo.

Separamos alguns ingredientes que vocês podem começar a reciclar em casa.

Casca de Banana

Milo Bunnik 4i Lkuwq3ac Unsplash

A casca arrega uma boa concentração de fibras alimentares, potássio, magnésio e triptofano — um aminoácido que auxilia na produção de serotonina, conhecida como o “hormônio do bem-estar”.

Enquanto a polpa é a parte mais consumida, a casca é geralmente descartada sem que se saiba que ali estão compostos importantes para o funcionamento do intestino e para o equilíbrio emocional. Não dá para seguir jogando isso no lixo.

Uma forma simples de incorporar a casca no dia a dia é usá-la em receitas de bolos e pães: basta higienizá-la bem, bater no liquidificador junto com os outros ingredientes e pronto — você tem uma massa úmida, rica em fibras e sem gosto residual.

Também é possível picá-la e refogar com temperos, criando um recheio que lembra carne desfiada, ideal para tortas salgadas, sanduíches ou recheios de panqueca. Já em doces funcionais, a casca batida pode ser misturada com cacau e aveia para virar um brigadeiro nutritivo e vegano.

Casca de maçã

Tiffany Chang Xqnoetyd1z4 Unsplash

Muitas vezes deixada de lado nas lancheiras e nas sobremesas, é uma aliada poderosa da saúde. Rica em antioxidantes como a quercetina e em fibras solúveis, ela ajuda a controlar o colesterol e a promover uma digestão mais eficiente. Além disso, contém boa parte da vitamina C presente na fruta.

Em vez de descartá-la, experimente transformá-la em uma geleia caseira: basta cozinhar as cascas com um pouco de açúcar, limão e canela até que fiquem macias e formem uma calda densa.

O sabor é delicado e a textura lembra a de compotas tradicionais. Outra alternativa é desidratar as cascas no forno e consumir como chips — um snack crocante e natural para quem quer reduzir o desperdício e ainda ter algo prático entre as refeições.

Casca de laranja

Giorgio Trovato O05u Roids8 Unsplash

É uma fonte potente de vitamina C, além de conter flavonoides e óleos essenciais com ação antioxidante e anti-inflamatória. O problema é que ela vai parar no lixo com frequência, principalmente por causa do amargor natural.

A boa notícia é que, com algumas técnicas simples, ela pode se transformar em ingrediente chave de receitas doces e salgadas. Uma das mais clássicas é o doce de casca de laranja cristalizada: fervida várias vezes para tirar o amargo e depois cozida com açúcar, ela vira uma iguaria que pode ser usada para acompanhar cafés ou decorar bolos.

Ralada fininha, pode ser incorporada a massas de bolos, pães, biscoitos ou molhos cítricos. E quando usada para fazer chá — com canela, cravo e um pouco de gengibre —, ela ainda ajuda na digestão e reforça a imunidade.

Casca do Abacaxi

Jaye Haych Zzt4h8qnaxm Unsplash

Também costuma ir direto para o lixo, mas tem um valor nutricional que merece atenção. Nela está a bromelina, uma enzima que facilita a digestão e tem propriedades anti-inflamatórias, além de uma boa dose de vitamina C.

Essa casca, depois de bem lavada, pode ser fervida com especiarias como cravo, canela e gengibre — o resultado é um chá aromático, levemente adocicado, que pode ser servido quente ou gelado. O líquido extraído da casca também funciona como base para sucos, caldas de frutas ou até para substituir a água no preparo de bolos, adicionando mais sabor e nutrientes à receita.

Uma sugestão prática é usá-lo no cozimento de arroz doce ou mingau — o sabor frutado faz toda a diferença.

Parte branca da Melancia

Dl314 Lin Yefjxid79r4 Unsplash

Ela é riquíssima em citrulina, um aminoácido que favorece a circulação sanguínea e auxilia na saúde dos vasos. A textura lembra a de legumes como o chuchu, o que abre espaço para usos criativos na cozinha.

Uma possibilidade é cortá-la em cubinhos e refogar com alho, azeite e cheiro-verde, como acompanhamento. Também pode ser cozida com açúcar e especiarias, transformando-se num doce de compota leve e delicado.

Para quem prefere opções salgadas, vale misturar com legumes em sopas frias ou incluir em farofas rústicas para uma refeição mais rica em nutrientes.

Semente da abóbora

Nick Collins Rb88sawi0qc Unsplash

Elas são muitas vezes descartadas junto com as fibras internas da fruta, são um verdadeiro superalimento. Elas concentram zinco, ferro, proteínas e boas gorduras, além de serem uma excelente fonte de energia. Após a retirada, basta lavá-las bem, secar e assar com azeite, sal e páprica.

O resultado são sementes crocantes que funcionam como petisco, cobertura de saladas ou até ingrediente para granolas caseiras. Quem quiser ousar mais pode triturá-las para enriquecer massas de pães, bolos ou até mesmo para fazer leite vegetal. O sabor é suave, e o valor nutricional, altíssimo.

Reaproveitar não é tendência: é urgência

Ao transformar esses ingredientes em pratos saborosos e nutritivos, deixamos de lado a lógica do descarte automático e começamos a criar uma cultura alimentar mais consciente. Aproveitar tudo o que o alimento tem a oferecer é uma forma de reduzir o impacto ambiental, ampliar a oferta nutricional e reinventar nossa relação com a comida.

E a mudança pode começar agora — com o que já está na sua cozinha.

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