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Stellantis tinha lucros e margens recordes; agora suas marcas têm um ou dois anos para sobreviver

  • "Se não derem lucro, fechamos. Não podemos nos permitir ter marcas que não sejam lucrativas", afirmou Carlos Tavares no verão.

  • Quando foi criada, a Stellantis deu um prazo de 10 anos para que suas 14 marcas provassem sua rentabilidade.

  • Contudo, os prazos foram reduzidos, e agora as marcas terão que apresentar resultados concretos entre 2026 e 2027.

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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Em 2020, enquanto o mundo enfrentava a pandemia de Covid-19, a FCA e a PSA anunciavam o nome de sua fusão. Nascia a Stellantis, o maior conglomerado automotivo do mundo.

Com 14 marcas sob seu guarda-chuva e uma fatia gigantesca do mercado (quase metade em países como França e Itália), o grande desafio era conduzir esse verdadeiro transatlântico com segurança ao porto. Essa missão foi confiada a Carlos Tavares, que assumiu o cargo de CEO da nova companhia e implementou medidas drásticas.

O primeiro passo foi inegociável: reduzir os custos de produção. Era necessário desenvolver novas plataformas que permitissem fabricar diversos modelos compartilhando o máximo de componentes possível.

Assim, chegaram ao mercado modelos como o Peugeot e-208, o Lancia Ypsilon e o Opel Corsa e. A mesma estratégia foi replicada com os Peugeot 2008, Jeep Avenger, Alfa Romeo Junior e Abarth 600e.

Os lançamentos também vieram acompanhados de plataformas multienergia, projetadas para competir em todos os segmentos: híbridos, híbridos plug-in e elétricos. Vender, vender e vender ao menor custo possível foi a máxima de Carlos Tavares.

O grande objetivo? Melhorar a rentabilidade.

Segundo o próprio CEO da Stellantis, a ideia era não "seguir o caminho da Volkswagen", mas sim usar todas as cartas possíveis do baralho.

Nos primeiros anos, os números pareciam confirmar o sucesso da estratégia. Resultados recordes em 2021, mais crescimento em 2022 e novos lucros históricos em 2023. No entanto, os últimos meses do ano passado começaram a sinalizar que algo não ia bem na empresa. "Continuaremos sólidos como uma rocha diante de um turbulento 2024", prometia Tavares, tentando minimizar as críticas crescentes.

Ainda assim, o desgaste começou a cobrar seu preço

Sabe-se agora que a Stellantis está buscando um substituto para Carlos Tavares, que encerrará seu contrato como CEO em 2026. Apesar de não haver planos para mudar drasticamente o rumo nos próximos meses, está claro que a Stellantis não está satisfeita com o caminho tomado pelo gigante automotivo recentemente.

Chegou o momento de provar seu valor

Até agora, o funcionamento da Stellantis foi sustentado por margens de lucro bastante altas, se comparadas com outras montadoras generalistas. No entanto, essas margens têm diminuído com o tempo, em parte devido à estratégia adotada na América do Norte e às baixas vendas de algumas marcas.

Em setembro passado, a Stellantis já havia confirmado que reduziria sua produção anual em 200.000 unidades. Além disso, essa decisão veio acompanhada de outra má notícia: espera-se que a margem operacional da empresa caia de 7% para 5,5%.

Os concessionários estão enfrentando dificuldades para vender os veículos eletrificados que a empresa produz e enviaram uma carta a Ursula von der Leyen pedindo uma revisão dos limites de emissões da Europa previstos para 2025, que exigirão o registro de um grande volume de carros elétricos.

A carta, acessada pela Bloomberg, vai contra a posição de Carlos Tavares, que tem pressionado constantemente para manter as metas de emissões conforme o planejado.

Novos objetivos

Como mencionamos, o registro de grandes volumes de veículos, e os concessionários temem que sejam obrigados a reduzir os preços, resultando em margens de lucro muito baixas e prejudicando a imagem da marca. Essa preocupação também é compartilhada nos Estados Unidos.

No podcast da PowerArt, foi revelado que o estoque acumulado nos depósitos americanos da Stellantis é enorme. A empresa enviou milhares de carros para suas marcas com base nas expectativas do plano Dare Forward 2030, que definiu a estratégia do gigante automotivo para a próxima década.

No entanto, algumas marcas americanas se comprometeram a vender uma quantidade de carros que claramente não conseguem colocar no mercado. Agora enfrentam duas opções: vendê-los a preços muito baixos ou deixar os veículos acumularem poeira.

"Revisaremos o desempenho de cada marca aproximadamente em dois terços do plano Dare Forward 2030, então é possível esperar decisões dentro de dois ou três anos", afirmou o CEO da Stellantis no Salão do Automóvel de Paris, conforme reportado pela Automotive News.

As 14 marcas, incluindo a Leapmotor, que entrou em 2023 para distribuir e fabricar carros elétricos chineses fora da Ásia, terão que provar que geram valor para o conglomerado e são rentáveis por si mesmas. "Se não derem lucro, fechamos. Não podemos nos permitir manter marcas que não sejam lucrativas", enfatizou Carlos Tavares durante o verão.

As ameaças pareciam mirar diretamente marcas como Alfa Romeo ou Maserati, que não atingiram os níveis de vendas esperados. No entanto, pouco tempo depois, Tavares precisou desmentir os rumores sobre uma possível venda da Maserati. Ele também descartou, pelo menos a curto prazo, a venda de outras marcas como Dodge ou Chrysler.

O que diz o CEO?

Carlos Tavares, CEO da Stellantis, sempre enfatizou a importância de cumprir os prazos estabelecidos para avaliar o desempenho das marcas do grupo. No entanto, a decisão de antecipar essas avaliações para antes do final da década é significativa. Essa mudança coincide com a saída prevista de Tavares da empresa em 2026, deixando para seu sucessor a difícil tarefa de revitalizar ou descontinuar as marcas em questão.

As declarações sobre possíveis vendas sempre foram, em geral, ambíguas. As portas nunca foram completamente fechadas, e as marcas que esperavam apresentar seus resultados até 2030 agora terão que fazê-lo "em dois ou três anos", conforme as palavras do próprio Carlos Tavares. São tempos desafiadores para as marcas do grupo Stellantis.

Foto | Maserati

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