Cidade na China com 19 milhões de habitantes está há quase 300 dias com verão; mas o que está por trás desse fenômeno?

Guangzhou já acumula 235 dias de verão, e contando.

Verão na China - Imagen | Sergei Gussev
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

Em apenas dois meses – e poderíamos voltar ainda mais no tempo – ocorreram as seguintes notícias: uma DANA em Valência causou a maior catástrofe deste século na Espanha, Andaluzia e Catalunha superaram o cinturão do café, a Antártida está mais verde do que branca, e as casas à beira-mar começam a perder valor. O denominador comum? Um velho conhecido que agora está causando estragos na China, onde uma grande cidade não consegue se livrar do verão.

O verão interminável

Guangzhou, uma das maiores cidades da China, com quase 19 milhões de habitantes, está enfrentando um verão insólito que parece não ter fim. Apesar de já ser novembro, a cidade permanece oficialmente na estação de verão, já que as temperaturas não caíram o suficiente para marcar o início do outono.

Esse fenômeno quebrou um recorde histórico de duração do verão, evidenciando de forma clara o impacto tangível das mudanças climáticas na região.

235 dias de verão

Em 2024, Guangzhou atingiu um total de 235 dias de verão, superando o recorde anterior de 234 dias registrado em 1994. Oficialmente, o período de verão começou em 23 de março e, de acordo com as previsões meteorológicas, deve continuar pelo menos até 18 de novembro.

Este fenômeno é definido, não pelo calendário, mas pelas temperaturas: o outono só é declarado quando a temperatura média durante cinco dias consecutivos cai abaixo dos 22 °C. O problema: a temperatura atual em Guangzhou é de 24,9 °C, representando um aumento de 1,2 °C em relação às médias históricas.

Anticiclone e aquecimento global

O principal suspeito por trás deste verão excepcionalmente longo é a fraqueza do anticiclone siberiano, uma vasta massa de ar frio que regula os padrões climáticos no hemisfério norte. Este ano, o fenômeno tem sido anormalmente fraco, reduzindo a chegada de ventos frios à região de Guangzhou.

Por sua vez, o fenômeno está ligado a outro velho conhecido: o aquecimento global, que altera os padrões climáticos tradicionais, intensifica as temperaturas e prolonga as estações quentes.

Eventos extremos e mais

Isso está se tornando comum, segundo os especialistas. A província de Guangdong, onde Guangzhou está localizada, tem sido palco de diversos fenômenos climáticos extremos nos últimos anos. Em abril, a cidade foi atingida por um tornado que causou pelo menos cinco mortes e deixou dezenas de feridos. Além disso, a região enfrentou inundações severas, evidenciando sua vulnerabilidade ao clima extremo.

Não para por aí

O aumento das temperaturas também tem exercido pressão significativa sobre a infraestrutura energética. Conforme relatado pelo The Guardian, em 2022, uma onda de calor prolongada levou ao uso recorde de sistemas de ar-condicionado, resultando em apagões devido à sobrecarga das redes elétricas. Mais uma vez, esses desafios destacam a necessidade urgente de fortalecer a infraestrutura para se adaptar a um clima cada vez mais extremo.

A “transição” chinesa

A situação levanta uma grande questão: o que está acontecendo com a transição energética na China? O país tem feito avanços significativos na instalação de fontes de energia renováveis, liderando globalmente no desenvolvimento de infraestrutura solar e eólica. No entanto, a preocupação com a segurança energética tem desacelerado a transição para fontes de energia mais limpas.

Além disso: a dependência do carvão, embora menos desejada, continua sendo uma prioridade para garantir o fornecimento de energia diante das crescentes demandas, especialmente em cidades como Guangzhou.

O elefante na sala

Não há dúvidas de que o caso de Guangzhou reflete um padrão muito maior e amplamente discutido: as mudanças climáticas, impulsionadas pela ação humana, estão intensificando fenômenos extremos em todo o planeta.

Estudos recentes confirmam que muitos desastres, como ondas de calor, secas e inundações, seriam improváveis ou até impossíveis sem o aquecimento global. Esse fenômeno não apenas afeta o cotidiano das pessoas, mas também testa a resiliência das cidades e de suas infraestruturas.

Em suma, o verão prolongado que a cidade asiática está vivendo não é, de forma alguma, um caso isolado. É mais uma manifestação clara do impacto das mudanças climáticas nos ciclos sazonais e na vida diária de milhões de pessoas.

Um fenômeno que destaca a urgência de adotar medidas globais para mitigar o aquecimento e nos adaptarmos a um futuro em que esses e outros eventos extremos serão cada vez mais frequentes e devastadores.

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