O Goldman Sachs prevê que, se nada mudar drasticamente nos próximos anos, a China terá quase o dobro de animais de estimação urbanos em comparação com crianças pequenas até 2030.
Essa notícia é impactante em um país que luta para aumentar suas taxas de natalidade, enquanto continua "adotando" cães e gatos que, em alguns casos, substituem os filhos. A situação é tal que a vida com animais de estimação se assemelha cada vez mais à das famílias com crianças.
De fato, em um cenário que ninguém previu, os problemas de conciliação estão sendo resolvidos da mesma maneira.
A realidade
A maioria dos casais com filhos enfrenta o desafio de conciliar o trabalho com o tempo livre, que praticamente desaparece quando as crianças são pequenas. Os filhos ocupam a maior parte do dia, e, no fim de semana, a situação não melhora — pelo contrário. Por isso existem creches, espaços recreativos, acampamentos e até cafés onde os adultos podem deixar os pequenos por algumas horas.
Essa mesma situação está acontecendo na China, mas com cães e gatos que vivem nas casas.
Como resultado, está surgindo todo um mercado de “entretenimento” para pets. Creches e cafés onde é possível deixar os animais, beneficiando a todos.
A história por trás dos números
Contamos isso há alguns meses. Em 2017, quando a China tinha cerca de 90 milhões de crianças de até quatro anos, a população de pets urbanos (cães e gatos) girava em torno de 40 milhões. Este ano, ambos convergirão para cerca de 58 milhões, e até o final da década, em 2030, a China terá menos de 40 milhões de crianças de até quatro anos, em comparação a mais de 70 milhões de pets nas áreas urbanas.
O fenômeno é semelhante no Japão, que também enfrenta uma grave crise de natalidade, onde a população de pets já é quatro vezes maior que a de crianças pequenas.
Nos EUA, o maior mercado de animais de estimação do mundo, dados do governo e da Associação Médica Veterinária mostram que, em 2020, havia entre 84 e 89 milhões de cães e 60-62 milhões de gatos, frente a 73 milhões de crianças, sem considerar a idade.
Aqui tem negócio!
É claro, isso representa uma oportunidade para a indústria de alimentação e cuidados para animais. Segundo o Goldman Sachs, à medida que a população de cães e gatos domésticos cresce e até supera a de recém-nascidos, o mercado focado na alimentação animal também se expande, tornando-se um negócio promissor de 12 bilhões de dólares — essa é a projeção do analista americano para o final da década.
O que ninguém previu foi que o mercado iria se expandir "tanto" na China.
A creche-café
Esta semana, a CNN contou a história de Jane Xue como exemplo do que está acontecendo. A jovem e seu parceiro enviaram seu cachorro, um samoyeda de 2 anos chamado OK, para o primeiro dia de “acampamento” em meados de setembro.
O destino: um dos muitos cafés-creche para cães que surgiram nos últimos anos em Fuzhou, no sudeste da China. “Sinto que é como se os pais mandassem seus filhos para a escola”, disse ela ao canal, enquanto deixava OK para o seu novo “trabalho” em meio período.
Xue, como milhares de pessoas na China, procurava uma maneira de entreter sua mascote e ter algum tempo livre. Ela explicou à CNN que essa tendência, conhecida em chinês como “Zhengmaotiaoqian”, é uma forma de as mascotes vivenciarem algo novo enquanto os donos fazem seus planos e aproveitam um tempo “livre”. “Mandar OK para o café é uma situação em que todos ganham. Ele pode brincar com outros cães e não se sentirá tão sozinho.”
Locais e cafés para pets
Na China, cada vez mais donos de animais estão levando seus pets a espaços exclusivos para gatos e cães. Esses locais permitem que os visitantes interajam com os animais enquanto aproveitam uma bebida, o que se tornou um modelo de negócio altamente lucrativo no país.
Como funcionam?
Além de cuidar dos pets, esses estabelecimentos permitem a entrada de clientes mediante uma taxa ou consumo no local, para que possam desfrutar da companhia de gatos e cães ao redor.
Os preços variam entre 30 e 60 yuanes (4-8 dólares), o que impulsionou a rápida expansão desses negócios. Além disso, como explica Xue, para os donos, mandar seu cachorro pode ter vantagens econômicas, pois evita custos como manter o ar-condicionado ligado o dia todo em casa.
Um mercado em expansão
O primeiro café para gatos e cães na China foi inaugurado em 2011, em Guangzhou. Desde então, a indústria cresceu exponencialmente. De acordo com dados da CBNData, o número de estabelecimentos tem aumentado 200% ao ano, e, em 2023, já havia mais de 4.000 empresas dedicadas exclusivamente ao cuidado de pets.
Mural de anúncios
A demanda por esse mercado é tão grande que, na China, os anúncios são feitos quase como fazíamos há pouco tempo entre pessoas. Donos de pets e proprietários dessas creches-café publicam anúncios e currículos de seus animais no Xiaohongshu, uma rede social chinesa similar ao Instagram.
Repercussões e consequências
Em essência, o rápido crescimento reflete não apenas o amor por pets, mas também uma tendência de encontrar novas formas de integração social e comercial dos animais na vida cotidiana das pessoas na China. É claro que também é um reflexo da grave crise de natalidade do país, mostrando até que ponto os animais estão assumindo o espaço que antes era ocupado por uma criança.
Os pets já não são apenas mascotes, e seu papel nas famílias chinesas está se tornando cada vez mais importante nas dinâmicas sociais e econômicas do país.
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