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Japão precisa lidar com excesso de trabalho; semana de 4 dias úteis foi a aposta, mas não está dando certo

  • O Japão enfrenta um sério problema de produtividade, estagnação da economia e envelhecimento da sua população

  • Uma das soluções que o governo propôs foi adotar a jornada de trabalho de quatro dias, mas essa iniciativa está falhando

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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

O fato de um país ter uma palavra para descrever especificamente as mortes por excesso de trabalho (“karoshi”) diz muito sobre a sua cultura laboral. O Japão teve até mesmo que impor por lei um número mínimo de dias de folga que os funcionários devem ter por semana, assim como o número máximo de horas extras que podem trabalhar. Não por causa da pressão das empresas, mas porque são os próprios funcionários que abrem mão desses direitos.

Nesse contexto, não é surpreendente que o modelo de jornada de trabalho de quatro dias não esteja sendo implementado na velocidade que o governo precisa para reativar a economia e o consumo interno.

Semana de trabalho de 4 dias no Japão: um desafio cultural

O Japão, conhecido por sua intensa cultura de trabalho, lançou uma iniciativa em 2021 para reduzir a jornada de trabalho e diminuir os custos associados. No entanto, o governo japonês não conseguiu convencer seus trabalhadores da necessidade de adotar a semana de trabalho de quatro dias.

O principal problema está na cultura laboral do país — muitos trabalhadores resistem à ideia de ter um dia a mais de descanso além do que a lei impõe. A forte pressão social para parecer comprometido com a empresa dificulta a adoção dessa nova jornada reduzida.

Segundo informações da agência de notícias Associated Press, 85% das empresas afirmam que obrigam seus funcionários a ter dois dias de folga por semana e limitam as horas extras remuneradas. No entanto, muitos deles optam por fazer voluntariamente “horas extras de serviço” que não são registradas como horas extras e nem sequer são remuneradas.

O Japão precisa reduzir a jornada de trabalho

As diversas experiências piloto realizadas em todo o mundo sobre a jornada de trabalho de quatro dias mostram que a redução da carga horária incentiva o consumo interno. Os funcionários saem para comprar e gastam mais com lazer e entretenimento, de acordo com os dados do projeto piloto realizado em Valência, na Espanha.

A economia japonesa está estagnada e, por isso, o governo se propôs a melhorar a produtividade do país e tirar os funcionários dos escritórios para incentivar o mercado interno. Para isso, criou diferentes campanhas para reduzir as mortes por excesso de trabalho, melhorar a flexibilidade e endurecer os limites de horas extras. Essas iniciativas incluem a hatarakikata kaikaku (reforma do estilo de trabalho), que aposta na jornada de trabalho de quatro dias.

Os japoneses não querem trabalhar menos

Contra todas as previsões, o principal obstáculo à implantação da jornada reduzida no Japão não tem sido o tecido empresarial, mas a massa trabalhadora. A Panasonic, uma das principais empresas do país, adotou a medida em 2022, segundo informou o Business Insider.

No entanto, dos 63 mil funcionários que poderiam se beneficiar dos planos de redução de jornada na multinacional japonesa, apenas 150 optaram por trabalhar quatro dias por semana. A gigante do automobilismo Toyota também está contribuindo para essa mudança na cultura laboral, modificando seu sistema produtivo para implementar a semana laboral de quatro dias.

Não é apenas o consumo, é a produtividade

Apesar de ter uma cultura laboral tão estoica, a produtividade é um dos grandes problemas do Japão. O envelhecimento da população e a baixa natalidade se tornaram um problema porque levam o país a uma importante crise de escassez de mão de obra.

Segundo informações publicadas pela Reuters, um estudo apoiado pelo governo japonês estima que o país enfrentará uma escassez de quase um milhão de trabalhadores até 2040. Isso obrigará o país a otimizar os processos de trabalho e melhorar a produtividade de suas indústrias para compensar a falta de pessoal.

Imagem | Unsplash (Amos Bar-Zeev)

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