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Stellantis entrou em combustão: sua maior força está se dissipando e eles já estão em busca de um novo CEO, segundo Bloomberg

  • Grupo tem estoque gigante de carros que precisam de descontos para venda

  • Margens de lucro dispararam e presidente já busca por substituto para Carlos Tavares

Stellantis
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PH Mota

Redator

Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

Era 2020 quando a Stellantis foi apresentada à sociedade. A fusão entre a FCA e o Grupo PSA deu origem ao maior conglomerado automotivo do mundo, com 14 marcas sob seu guarda-chuva. Um gigante que adicionou a Leapmotor ao seu portfólio, pois comercializará carros elétricos chineses fora de seu país de origem.

Para levar o projeto adiante, Carlos Tavares sempre deixou claro que a fórmula era reduzir custos brutalmente. Desde os primeiros dias, quis deixar claras suas intenções: marcas que não fossem lucrativas teriam que fechar.

Uma das que está na corda bamba é a Maserati. A empresa italiana não está encontrando o caminho da lucratividade e nos últimos meses rumores de todos os tipos ganharam força. Fala-se em fechar a empresa, mas também em uma possível venda.

A empresa italiana não é a única cujo futuro foi colocado em dúvida. DS e Lancia também estão no centro do furacão, o que obrigou Carlos Tavares a ir à mídia pública para desmentir quaisquer rumores.

Os fabricantes americanos do grupo também não vivem seu melhor momento, o que tem aumentado a pressão sobre as decisões tomadas na empresa.

O caminho da Volkswagen?

Há alguns dias, Carlos Tavares disse que se eles tomaram as decisões que vêm tomando até agora é porque não queriam "seguir o caminho da Volkswagen", em clara referência às dificuldades econômicas que o grupo alemão está sentindo na própria carne.

Sob essa premissa, nos últimos anos vimos como a Stellantis aplicou uma dura redução de custos que passou por todos os tipos de estratégias. A mais óbvia é a quantidade de veículos que são montados na mesma plataforma, como o novo Peugeot e-208, o Lancia Ypsilon ou o Opel Corsa. Isso os torna, quase, o mesmo carro com uma forma diferente. O mesmo acontece com o Peugeot 2008, Jeep Avenger, Alfa Romeo Junior ou o Abarth 600e, que repetem a estratégia.

Isso permitiu que a Stellantis tivesse uma margem de lucro invejável. Em 2023, ela já alcançou números que fazem inveja à indústria. Sua margem de lucro ficou em 12,8% e os volumes de vendas aumentaram 7%, mas esses números parecem ser coisa do passado. "Temos que ser chineses nós mesmos", disse Tavares ao Automotive News algumas semanas atrás.

Em julho, os números relatados no primeiro semestre de 2024 foram muito menos otimistas. O lucro líquido foi 48% menor do que no primeiro semestre de 2023 e a margem de lucro foi de 10%. Embora esses sejam bons números, a dinâmica não é promissora, com os Estados Unidos concentrando todos os olhos.

No podcast PowerArt eles já explicaram que parte dos bons números de vendas do ano passado nos Estados Unidos se deveu a um grande número de registros de veículos que agora estão nos depósitos procurando compradores. Em junho de 2024, a Stellantis tinha 1,4 milhão de carros não vendidos em todo o mundo.

Mas é na América do Norte onde o conglomerado automotivo tem tido mais problemas. A enorme quantidade de carros que se acumulava em suas concessionárias só pode ser levada ao mercado com grandes descontos no que as empresas locais definem como um movimento que degrada suas marcas.

Lá, a empresa teve que enfrentar demissões em massa que vêm reduzindo a produção e enfrentou governos como o do Canadá, que pressionou a abandonar a construção de uma fábrica local se não recebesse mais subsídios.

Movimentos que, além disso, coincidem com uma desaceleração do mercado, o que obrigou o grupo automotivo a reduzir suas previsões de veículos produzidos no final do ano. A própria empresa anunciou que planeja reduzir em 200.000 unidades o número final de veículos produzidos em 2024 para reduzir o estoque e estancar seu sangramento nas vendas de carros que estão acumulando poeira enquanto esperam compradores. A isso deve ser adicionada uma nova modificação na margem operacional esperada, já em 5,5%, em vez dos 7% esperados.

A situação colocou em dúvida o papel de Carlos Tavares na empresa. A mídia econômica assegura que o conglomerado está procurando um novo CEO para 2026, ano em que termina o contrato de Tavares. No momento, o próprio Tavares está entre os candidatos, mas a Bloomberg assegura que os resultados dos EUA estão manchando sua imagem dentro da empresa.

Uma imagem que também não melhora entre os próprios funcionários. A empresa vem usando todas as fórmulas possíveis há algum tempo para reduzir sua força de trabalho ou levar projetos adiante ao menor custo possível. Ao longo do caminho, está fabricando seus carros mais baratos no Marrocos, aproveitando o acordo comercial que o país tem com a União Europeia.

Na Itália, colocou na mesa a possibilidade de montar seus carros chineses Leapmotor em uma das principais fábricas do país, até agora administrada pela Fiat. Lá, a Stellantis mantém uma batalha aberta com o governo que está deixando capítulos de todos os tipos, desde a proibição de vender o Alfa Romeo Junior com o nome Milano ou remover a bandeira italiana da Fiat Topolinos até a ameaça de demissão de 2 mil trabalhadores.

E as práticas, segundo a Bloomberg, são tão agressivas que os próprios funcionários da empresa recebem constantemente correspondências em massa para se inscrever em empresas de busca de emprego. "Você recebe um e-mail, depois outro e-mail, depois outro. Você pode receber várias ligações telefônicas se persistir em querer continuar na empresa. Eu chamo isso de assédio, e está levando a uma perda massiva de habilidades", disse Laurent Oechsel, representante da Stellantis e delegado sindical da CFE-CGC, à Bloomberg.

Foto | Stellantis

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