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Dois novos estudos reforçam algo que já suspeitávamos: a nossa dieta tem muito a ver com câncer do sistema digestivo

Os cânceres do sistema gastrointestinal representam uma ameaça particular para pacientes mais jovens.

Alimentação Não Saudável e suas consequências ao futuro. Imagem: fernandovillalobos
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

A relação entre alguns alimentos e o câncer tem sido alvo de diversas polêmicas. Talvez a mais significativa tenha sido a causada pela Organização Mundial da Saúde ao alertar sobre a ligação entre o consumo de carnes processadas e a doença. Polêmicas à parte, os cientistas continuam trabalhando para compreender melhor essas conexões e, pouco a pouco, desvendam novas pistas e associações.

Dieta e câncer

O exemplo mais recente disso é duplo: dois estudos conduzidos com a participação de pesquisadores da Universidade de Flinders, na Austrália, analisaram a relação entre a dieta e a probabilidade de desenvolver câncer no sistema gastrointestinal.

De acordo com os responsáveis pelos estudos, foi identificada uma relação direta entre "más escolhas alimentares" e cânceres desse sistema. Os padrões destacados incluem o consumo de carnes vermelhas e processadas, "comida rápida", grãos refinados, além de bebidas alcoólicas e açucaradas.

Câncer gastrointestinal

O câncer gastrointestinal (GI) é um tipo de câncer que pode se manifestar ao longo do trato digestivo, desde o câncer de garganta até o colorretal. Esses tumores representam um quarto dos casos de câncer e um terço das mortes causadas pela doença, além de afetarem um número alarmante de pessoas com menos de 50 anos.

Metanálise

O primeiro dos estudos é uma metanálise, caracterizada por uma revisão sistemática de experimentos e análises anteriores que investigaram a relação entre dois ou mais fatores (neste caso, dieta e câncer do sistema gastrointestinal). Além disso, esse tipo de estudo realiza uma análise quantitativa com base nos resultados dos estudos avaliados.

O resultado dessa análise confirmou, com algumas limitações, que existe uma relação entre a qualidade da dieta e o risco de câncer. Como esperado, dietas mais “saudáveis” apresentaram um efeito “protetor” contra esses tipos de câncer, enquanto dietas menos saudáveis aumentaram o risco de desenvolvê-los.

Os detalhes do estudo foram publicados em um artigo na revista Nutrition Reviews.

Duas abordagens complementares

A equipe responsável por esse trabalho também publicou um segundo estudo aprofundando o tema com metodologias diferentes. Esse estudo utilizou dados coletados pelo levantamento PLCO (Prostate, Lung, Colorectal, and Ovarian Cancer Screening), combinados com uma pesquisa sobre hábitos alimentares.

A análise revelou uma relação inversa entre o consumo de fibras e ácidos graxos saudáveis e a incidência de câncer colorretal. Os resultados foram publicados em um segundo artigo na revista European Journal of Nutrition.

A importância da fibra

“Descobrimos que uma dieta rica em gorduras saudáveis e vegetais, ao mesmo tempo que limita o consumo de açúcares e álcool, pode, potencialmente, reduzir o risco de câncer de estômago e outros tipos similares”, explicou Yohannes Melaku, coautor dos estudos, em nota à imprensa.

“Alimentos ricos em fibras, como frutas e vegetais, promovem bactérias gástricas saudáveis que ajudam a reduzir a inflamação. O foco em fibras e gorduras saudáveis deve ser uma parte essencial de todas as dietas”, concluiu.

Compreender melhor as relações

Ainda há muito a ser explorado nesse contexto. Embora tenhamos dados cada vez mais precisos que apontem para uma correlação entre dieta e câncer, entender os mecanismos que geram essas relações de causa e efeito é essencial para avançar nessa área.

“Embora nossos resultados sejam promissores, mais trabalho precisa ser feito com um maior foco na nutrição em contextos clínicos, utilizando biomarcadores nutricionais para compreender melhor a relação entre dieta e câncer do sistema gastrointestinal (GI)”, acrescenta Amy Reynolds, coautora do estudo.

A equipe também defende a necessidade de promover a educação para incentivar escolhas alimentares mais saudáveis. “Queremos ver melhorias na educação sobre alimentação saudável, que possam levar a melhores resultados de saúde para aqueles em risco de desenvolver cânceres do sistema GI”, concluiu Reynolds.

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