Em 1831 o céu escureceu e o Sol ficou azul; por anos, nos perguntamos qual vulcão era responsável

Estima-se que a erupção reduziu em um grau a temperatura global no verão de 1831

Encontraram o vulcão que encobriu os céus em 1831 / Imagem: Oleg Dirksen
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Ao longo da história da humanidade, há inúmeros relatos de grandes erupções vulcânicas, algumas capazes de soterrar cidades inteiras sob as cinzas, outras capazes de provocar mudanças temporárias no clima de hemisférios inteiros.

O que aconteceu no verão de 1831 se encaixa mais nessa última categoria: a erupção de um vulcão resfriou o clima global em aproximadamente 1 grau Celsius ao cobrir o céu com emissões de gases sulfurosos. Os dias de verão ficaram sombrios e até mesmo a cor do Sol assumiu tonalidades azuladas ou esverdeadas.

Os impactos foram além do aspecto meteorológico: as colheitas foram prejudicadas pela menor intensidade da luz solar que chegava à superfície. Isso causou períodos de fome na primeira metade da década de 1830 em países como Índia e Japão.

Sabíamos que um vulcão era o responsável por esse estranho fenômeno atmosférico, mas os registros históricos não mencionam nenhuma erupção de grande magnitude durante aquele verão. Qual foi, então, o vulcão responsável por esse verão sombrio?

Por décadas, cientistas tentaram descobrir qual vulcão causou esse evento incomum. Nos últimos anos, diversos vulcões foram apontados como possíveis culpados, como o Babuyan Claro, nas Filipinas, e o Ferdinandea, um vulcão submarino localizado cerca de 30 km ao sul da costa da Sicília.

Agora, uma equipe internacional de pesquisadores encontrou o provável responsável pela potente erupção de 1831: o vulcão Zavaritskii, localizado na ilha de Simushir, no arquipélago das ilhas Curilas.

A descoberta foi resultado da análise do gelo extraído dos polos. Os núcleos de gelo são amostras cilíndricas que atravessam diferentes camadas de gelo, cada uma associada a distintos anos, eventos ou eras. As cinzas e a fumaça das grandes erupções vulcânicas podem percorrer milhares de quilômetros na atmosfera e, vale lembrar, essa erupção alcançou os céus da Europa.

A equipe conseguiu encontrar minúsculos cristais de cinza no núcleo de gelo (estamos falando de fragmentos com um diâmetro aproximadamente equivalente a um décimo da espessura de um fio de cabelo humano) e realizar análises químicas desses materiais. Ao estudar os fragmentos encontrados no gelo, os pesquisadores descobriram que sua composição química era idêntica à dos depósitos de cinza localizados no próprio vulcão Zavaritskii.

Momento Eureca

“O momento no laboratório em que analisamos as duas amostras de cinza ao mesmo tempo, uma do vulcão e outra do núcleo de gelo, foi um verdadeiro momento eureca. Eu não conseguia acreditar que os números eram idênticos. Depois disso, passei muito tempo examinando a idade e o tamanho da erupção nos registros das ilhas Curilas para me convencer de que a conexão era real”, explicou Will Hutchison, coautor do estudo, em um comunicado à imprensa. Os detalhes da análise foram publicados em um artigo na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Ainda não temos a capacidade de prever com precisão erupções vulcânicas. No caso dos pequenos vulcões, isso representa um problema local que muitas vezes impacta drasticamente as populações próximas. No entanto, certas erupções podem ter consequências que afetam todo o planeta, ainda que de forma menos intensa.

“Existem tantos vulcões como esse, o que destaca o quão difícil será prever quando ou onde ocorrerá a próxima erupção de grande magnitude”, acrescentou Hutchison. “Como cientistas e como sociedade, precisamos considerar como coordenar uma resposta internacional quando a próxima grande erupção, como a de 1831, acontecer.”

Imagens | Oleg Dirksen

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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