Temos a tendência de ver o Homo sapiens sapiens como o ápice do processo evolutivo da nossa espécie, que conseguiu sair da África com sucesso. No entanto, a verdade é que os humanos modernos estiveram à beira da extinção em várias ocasiões. Pesquisas recentes revelam que o sucesso da nossa espécie não teria sido possível sem o cruzamento genético com os neandertais.
De acordo com a CNN, um estudo publicado recentemente na Nature relatou que uma análise de DNA de restos mortais de Homo sapiens encontrados em um castelo em Ranis, Alemanha, revelou que esses indivíduos tinham ascendência neandertal. Os pesquisadores então concluíram que o Homo sapiens e os neandertais podem ter coexistido e cruzado há quase 50 mil anos.
Herança neandertal
Um estudo maior publicado na Science analisou 59 genomas antigos e 275 genomas modernos e concluiu que a maioria da ancestralidade neandertal em humanos modernos vem de "um único período prolongado de fluxo genético neandertal". Esse período ocorreu há cerca de 47 mil anos e durou 7 mil anos. De acordo com os cientistas, durante esse tempo, humanos modernos e neandertais tiveram descendentes regularmente.
A pesquisa também mostrou que o cruzamento genético com neandertais deu aos humanos modernos características-chave que fortaleceram seus sistemas imunológicos e os protegeram de doenças desconhecidas fora da África.
De acordo com Chris Stringer do Museu de História Natural de Londres, citado pelo Gizmodo: "Os neandertais evoluíram em ambientes fora da África por milhares de anos, enquanto éramos vulneráveis a novas ameaças. Essa troca genética nos deu uma solução rápida para nos adaptarmos".
Outras variantes genéticas estão relacionadas à pigmentação da pele, foram consideradas igualmente benéficas durante a última Era Glacial e ainda influenciam a biologia humana. No entanto, outras regiões do genoma humano, chamadas de "desertos arcaicos", não têm DNA neandertal devido à infertilidade masculina ou doenças graves em híbridos.
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Novas questões sobre migração e extinção
As informações genéticas obtidas em ambas as investigações reforçam a teoria de que a principal onda de migração para fora da África foi concluída há aproximadamente 43,5 mil anos. No entanto, ainda há dúvidas a serem resolvidas. Por exemplo, por que as pessoas no Leste Asiático têm maior ancestralidade neandertal do que os europeus atuais ou por que os genomas neandertais desse período mostram pouca evidência de DNA do Homo sapiens.
Por outro lado, os habitantes da caverna em Ranis representam um ramo perdido da árvore genealógica humana. Esse grupo, de pele escura e olhos castanhos, foi extinto sem deixar vestígios de ancestralidade na população atual, assim como os neandertais mais tarde. De acordo com Johannes Krause, principal autor do estudo na Nature, esses eventos destacam que a história da evolução humana não foi linear ou tão bem-sucedida quanto muitas vezes se acredita.
Imagem da capa (esquerda) | Wikimedia Commons
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