Nem jabuticaba, nem mirtilo: descoberta em Marte surpreende cientistas

Descoberta feita pelo rover Perseverance surpreende cientistas com esferas escuras que levantam hipóteses sobre água, vulcanismo e impactos antigos

Jabuticabas em Marte. GIF: NASA
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Sofia Bedeschi

Redatora

Jornalista com mais de 5 anos de experiência no ramo digital. Entusiasta pela cultura pop, games e claro: tecnologia, principalmente com novas experiências incluídas na rotina. 

O planeta Marte acaba de ganhar mais um capítulo na sua longa história de descobertas. Cientistas da NASA identificaram formações peculiares na superfície marciana: pequenas esferas acinzentadas que, à primeira vista, lembram frutas brasileiras — mais especificamente, jabuticabas. A semelhança virou meme nas redes sociais, mas por trás do tom bem-humorado da internet, há uma investigação científica séria em andamento.

O achado foi feito na região conhecida como Broom Point, nas encostas da colina Witch Hazel, na borda da cratera Jezero — um dos pontos mais estudados de Marte por apresentar sinais antigos da presença de água.

O rover Perseverance, que explora o planeta desde 2021, registrou imagens de uma rocha apelidada de “Baía de St. Paul”. O que chamou a atenção da equipe foram os padrões incomuns em sua superfície: centenas de esferas minúsculas, algumas intactas, outras fragmentadas, e até com pequenos furos.

Não é a primeira vez — e talvez não seja a última

Essa não é a primeira vez que esferas estranhas aparecem em Marte. Em 2004, o rover Opportunity já havia encontrado formações similares na região de Meridiani Planum, batizadas de “mirtilos marcianos”. Mais recentemente, o Curiosity e o próprio Perseverance detectaram padrões semelhantes em outras áreas, mas a nova descoberta levanta perguntas que ainda não têm respostas claras.

“A diferença agora é o contexto geológico e a complexidade do padrão”, explica um dos pesquisadores envolvidos na missão. “Essas esferas estão distribuídas de maneira muito específica e mostram sinais de processos que ainda não conseguimos identificar com precisão.”

De onde vêm essas esferas?

Existem três teorias principais sobre a origem dessas estruturas:

  • Concreções minerais, criadas pela interação de água subterrânea com rochas porosas — o que reforçaria a ideia de que Marte já teve ambientes úmidos.
  • Resfriamento de lava vulcânica, formando esferas durante a solidificação.
  • Condensação após impacto de meteoritos, quando rochas vaporizadas se resfriam rapidamente e se agrupam em novas formas.

O problema é que nenhuma dessas hipóteses explica todos os detalhes observados, como os pequenos furos ou a variedade nas formas — algumas esferas são perfeitamente redondas, outras estão espatifadas como se tivessem se rompido ao longo do tempo.

Outro fator que complica a análise é o fato de a rocha estar “fora do lugar”. A Baía de St. Paul é considerada uma rocha flutuante, ou seja, foi deslocada de sua origem por forças geológicas ou impactos antigos, o que embaralha o quebra-cabeça.

Original. Foto: NASA

Por que isso importa?

Mais do que uma curiosidade visual, essas estruturas podem guardar pistas cruciais sobre o passado de Marte. Se formadas com a ajuda da água, por exemplo, seriam uma evidência indireta de ambientes propícios à vida em algum momento da história do planeta.

Além disso, estudar a composição e o contexto dessas esferas pode ajudar os cientistas a entender os ciclos geológicos de Marte — algo essencial para futuras missões tripuladas e até para a busca de vida fora da Terra.

Enquanto o Perseverance segue enviando dados e imagens, a equipe da NASA já prepara novas análises com instrumentos mais sensíveis. A expectativa é que amostras coletadas pelo rover possam, em breve, ser trazidas para a Terra através da missão Mars Sample Return — prevista para os próximos anos.

Jabuticabas espaciais? Quase isso.

A comparação com jabuticabas pode parecer um detalhe folclórico, mas também mostra como o olhar humano busca referências familiares até nos cantos mais distantes do universo. Seja lá o que essas esferas forem, uma coisa é certa: Marte ainda tem muitas histórias escondidas sob suas camadas de poeira — e, ao que tudo indica, algumas delas têm forma, cor e mistério suficientes para nos deixar de olhos bem abertos.

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