O ano de 2025 começava praticamente como terminou 2024: com outro cabo submarino cortado, outro possível sabotagem. Nesse sentido, o Báltico tem sido o centro das suspeitas, com várias incursões suspeitas.
De fato, a última informação que tínhamos era que a Finlândia havia abordado o navio suspeito de cortar os cabos elétricos, um navio russo. Um mês antes, no mesmo cenário, outro sabotagem cortou cabos submarinos de comunicação, com as suspeitas novamente recaindo sobre a Rússia e uma bandeira chinesa. No entanto, os casos tomaram um novo rumo.
Um acidente, não um sabotagem
De acordo com uma reportagem exclusiva do Post, as recentes rupturas de cabos submarinos que afetaram a infraestrutura crítica da Europa nos últimos meses indicam acidentes marítimos, em vez de sabotagem russa, de acordo com uma avaliação de inteligência dos Estados Unidos e vários países europeus.
As investigações em andamento, conduzidas por agências de segurança ocidentais, determinaram que os danos foram causados por embarcações comerciais que arrastaram suas âncoras de maneira não intencional devido à inexperiência de suas tripulações e ao deficiente manutenção dos navios, e não como parte de uma campanha de guerra híbrida por parte de Moscou, como se temia inicialmente.
Resultados e descobertas chave
Assim, as agências de inteligência concluíram, com base em comunicações interceptadas e outras fontes de informação confidenciais, que não há provas que sugiram uma ação deliberada de sabotagem. Os incidentes em questão incluem três eventos nos últimos 18 meses:
O petroleiro Eagle S
Este navio, parte da chamada "flota sombra" russa dedicada a contornar sanções internacionais, foi apontado pela Finlândia após danificar um cabo elétrico submarino que conecta o país à Estônia. A investigação finlandesa sugere que o arrasto da âncora foi acidental.
O Newnew Polar Bear
Um navio com bandeira de Hong Kong cortou um gasoduto no Golfo da Finlândia, gerando alertas de segurança e suspeitas sobre uma possível ação hostil. No entanto, a investigação concluiu que se tratou de um erro operacional.
O Yi Peng 3
Um navio chinês interrompeu dois cabos de dados em águas suecas. As autoridades suecas consideram que não há evidências de intencionalidade no incidente.
Não era o que parecia
Em todos esses casos, os funcionários dos Estados Unidos e da Europa citaram "explicações claras e concisas" que sugerem acidentes fortuitos, e descartaram, pelo menos por enquanto, a implicação direta da Rússia. No entanto, alguns especialistas insistem que o padrão de incidentes é suspeito, dado o histórico de operações russas encobertas em infraestrutura submarina.
A suspeita russa
Apesar das conclusões preliminares que apontam para uma mudança nos acontecimentos, as rupturas de cabos geraram uma maior percepção de vulnerabilidade na Europa, que já enfrenta (ou existe a ameaça latente) uma onda de ataques híbridos, neste caso atribuídos à Rússia. Esses incluem desde tentativas de contrabando de explosivos em aviões de carga até possíveis ataques de sabotagem no mar.
A esse respeito, as autoridades europeias têm sido relutantes em aceitar a explicação de simples acidentes, especialmente considerando a longa trajetória da Rússia no uso de operações encobertas para desestabilizar o Ocidente. De fato, a General Staff Main Directorate for Deep Sea Research, uma unidade militar russa especializada em infraestrutura submarina, tem sido apontada há anos como uma ameaça para as comunicações e o fornecimento de energia na Europa.
Reações e medidas da OTAN e Europa
Não há dúvida de que a série de incidentes levou a Europa a reforçar sua vigilância no Mar Báltico. A OTAN anunciou o despliegue de novas patrulhas com fragatas, aviões de reconhecimento e drones submarinos para detectar qualquer atividade suspeita no leito marinho.
Essa estratégia responde às preocupações sobre a crescente vulnerabilidade da infraestrutura crítica, especialmente em um momento em que os países bálticos aceleram seus esforços para se desconectar da rede elétrica russa.
As autoridades finlandesas, por sua vez, adotaram uma abordagem mais agressiva no caso do petroleiro Eagle S, interceptando-o em suas águas territoriais e retendo membros da tripulação suspeitos de estarem em serviço durante o incidente. O estado da embarcação foi descrito como extremamente deficiente, o que reforça a hipótese de um acidente causado por negligência.
Desafios e perspectivas
Apesar da postura oficial dos governos ocidentais, persistem dúvidas em alguns setores sobre a veracidade da narrativa desses acidentes fortuitos. Críticos como Pekka Toveri, ex-chefe de inteligência militar da Finlândia e atual membro do Parlamento Europeu, afirmam que esses eventos fazem parte de uma tática (russa) de negação plausível. Segundo Toveri, o fato de vários navios terem arrastado suas âncoras por centenas de quilômetros sem corrigir o rumo é uma anomalia difícil de aceitar como acidental.
Dito isso, a falta de provas conclusivas que vinculem a Rússia aos incidentes destaca a dificuldade de atribuir responsabilidades no ambiente submarino, onde a coleta de provas é, no mínimo, complexa. Além disso, especialistas em segurança marítima apontam algo que não deve ser esquecido, apelando ao bom senso. E é que, embora seja possível que os incidentes sejam fortuitos, a coincidência de vários eventos em um curto período de tempo é estatisticamente improvável, o que deixa aberta a possibilidade de uma estratégia encoberta.
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